Marte é a discordância em que a solução é obtida somente através da aniquilação de um ou de mais elementos que, chocando-se, geram o próprio confronto.
Marte não pode ser dirimido a não ser por intermédio da guerra. É um tipo de oposição que para a sua solução exige uma determinação tal, por parte dos sujeitos envolvidos, que coloca em movimento grandes fluxos de Energia Vital. Estes fluxos se movem como torrentes: hoje estão secas e áridas, logo a seguir em qualquer minuto após, vem a ser uma enxurrada de água que se propaga em uma planície e arrasta cada coisa que encontra em seu caminho.
Em um momento Marte está calmo, em outro momento ferve com mil tumultos.
Marte não é apenas a confusão, não é apenas o rangido das espadas, ou ronco dos carros armados e dos aviões de combate, os bombardeiros; Marte é também um tapa desfechado que mata um Ser Mosquito imprudente.
Marte coloca em movimento grande quantidade de Energia Vital e, do mesmo modo como é usada para construir, pode ser usada para destruir desmoralizando os limites impostos às condições para a evolução do Ser Humano.
O Ser Humano usa Marte para livrar-se do Condicionamento Educacional e das barreiras constrangedoras impostas na sua infância que, na idade adulta, irão influenciar nas suas escolhas. O Ser Humano, como qualquer outro Ser da Natureza, usa Marte para expandir a sua Liberdade individual para agir e construir o seu próprio Poder de Ser.
O Comando Social, quando usa da violência, não conquista Marte mas conquista a sua própria miséria. O Comando Social não deve ser liberado dos limites e das suas obrigações, só que ele constrói limites e obrigações. O Comando Social usa da violência com a desculpa de que a sua finalidade é a de restabelecer a ordem, e fazer com que retorne à sua ordem aquele que discute essa sua prescrição; aquele que, conquistando Marte, invoca a Liberdade para dar vazão aos seus próprios impulsos e efetivar as suas escolhas individuais.
Sustentar destruições não significa necessariamente destruir.
Para o Ser Humano o Absoluto é o seu vir a ser na Natureza projetado no infinito das mudanças; destruir significa,de um modo, digamos positivo, extirpar os limites do vir a ser humano, e de um modo negativo destruir o próprio vir a ser humano.
Destruir os muros não significa destruição, porque a destruição de qualquer coisa "física" implica, para o Ser Humano, uma nova condição objetiva na qual adaptar-se. Colocar limites e condições à formação de uma nova adaptação: isto é destruição, porquê, impedindo (ou condicionando) a nova adaptação à nova situação objetiva que se criou, destrói-se o vir a ser dos Seres Humanos.
Está particularmente viva a regularidade da destruição, no pior do que pode ser descrito, a que é vista no comportamento dos missionários cristãos. Os cristãos chegam e destroem a cultura e a estrutura social de um determinado povo, deste destroem usos e costumes, após isto eles impõem a sua cultura própria, a sua própria moral. A necessidade da moral cristã destrói, de geração em geração, a possibilidade daquele povo de se reconstruir, isto é de voltar a construir o seu vir a ser próprio nos relacionamentos com o mundo que o rodeia.
Determinado povo terá proprietários e encontrar-se-á completamente dentro da moral e dos costumes cristãos, porque isto reforça o Comando Social cristão; a moral cristã jamais condenará quem realizar chacinas, alastrar a submissão, propagar a escravidão em nome dessa moral cristã, porque dessa violência a moral e a ética cristãa obterão força para a expansão.
Marte é a solução violenta das oposições, solução que tem o escopo de levar à Liberdade quem, submetido à obrigações e limitações, decide escolher a solução das discordâncias por meio de um ato violento.
A força de Marte explode em março.
Quem é obrigado a sofrer condições e limitações é facilmente reprimido nos meses frios.
O Comando Social dividiu a Terra declarando-se "proprietário", ele possuiu meios com os quais esquentar-se nesses meses, possui o alimento, e as casas nas quais abrigar-se protegendo-se. O rebelde não possui esses privilégios, e portanto deve aguardar a bela estação irromper para obter proveito do prorromper da Natureza. A abundância libera-o da dependência (sujeição que dificilmente o ajudará em sua necessidade) fazendo-o vislumbrar a possibilidade de mudar em seu favor as oposições que existem entre ele e o Comando Social.
Assim é que Marte é o Ser Humano que chegou ao desespero, e que tem como único recurso conseguir a solução, para a sua própria existência, por intermédio de um ato de violência.
Poder-se-ia retorquir que Marte simplesmente personifica a guerra. Esta afirmação é uma idiotice! Por quê pede-se a Marte que ele poupe o solo dos insetos, das calamidades, da aridez e da desolação? Isto esclarece o conceito de Marte que foi exposto precedentemente. Marte não é a força desencadeada de insetos, de calamidade, de carestias, e de desolações, mas é a força objetiva obtida para livrar-se das calamidades, das carestias, dos insetos, desolações, etc. etc.
Estas situações representam a objetividade na qual o camponês se encontra em sua existência, e pede, ou impõe, o livramento desses incômodos, do mesmo modo como o guerreiro solicita a eliminação da opressão e do abuso praticados pelo Comando Social.
Marte não é o "deus da guerra", mas é o núcleo da solução do conflito. Marte é, portanto, a força, através da qual o conflito vem a ser solucionado.
Marte se opõe a uma outra "divindade": Paz.
Paz, divindade que assume importância durante o Império de Augusto, é a submissão do Ser Humano às limitações do seu próprio vir a ser. Paz é a não reação às manipulações: é a sujeição. Paz é a divindade que foi imposta pelo Comando Social, aos seus escravos, em uma tentativa de conservar-se, de manter-se.
Enquanto o colorido de Paz é o negro do desespero, o de Marte é o vermelho da determinação.
Enquanto o som de Paz é o silêncio no deserto da Consciência roubada; o de Marte é o fragor de: "Ao menos lhes provo!"
Direciona-se a Marte tornando-se Marte, cada vez que a altercação, em um tumulto, é governada subjetivamente como uma questão de vida ou de morte.
Da mesma forma como para o lavrador o ataque de parasitas, a aridez e as devastações eram uma questão de vida ou de morte, assim também para o guerreiro, ou para o conquistador, no seu ato para se defender era uma questão de vida ou de morte.
A Purificação das armas não era um rito, um ato, através do qual as armas eram purificadas, mas era um ato com o qual purificava-se a si mesmo antes de atacar ou resolver o conflito que se apresentava.
Expurgar a própria Autoconsciência antes de afrontar os desacordos. Purificar-se para balizar os escopos da contradição e os seus limites. Expurgar-se porque quem fez da submissão, elemento da sua própria existência, pode resolver uma contradição através da guerra somente como ato de desespero. Como todos os desesperados, o ato através do qual a contradição é resolvida, requer uma tal quantidade de Energia Vital ao ponto de comprometer o indivíduo por completo.
A purificação das armas é a purificação de si mesmo, exatamente como o "sacrifício" do cavalo de guerra era um agradecimento a Marte pela Energia concedida para o combate. Os Seres Humanos se transformam em Marte através da Purificação e suspendem o relacionamento com Marte através do sacrifício do cavalo de guerra.
A contradição que se resolve mediante o uso das armas é a última contradição porquanto, depois da sua solução, uma ou mais partes que contendem à sua constituição é destruída ou, de qualquer modo abatida.
Conseguir afrontar estes tipos de contradições é o resultado máximo para os povos, dos quais os videntes enxergaram Marte abraçar toda a possibilidade do vir a ser dos próprios povos. Por este motivo muitos povos identificaram-se com esta visão. A visão deste modo de afrontar a vida, durante muito tempo, representou a alma dos povos itálicos como os Marsos, os Marrucinos e os Marmuciani.
Através de vários episódios eles transferiram a Roma a parte essencial da própria visão, onde os videntes agiram para fazê-la própria concedendo-lhe a atenção que lhe era devida.
A Atenção, a posição, a veneração de Marte foi uma das bases que formaram o Gênio da cidade de Roma, a sua consciência. Todavia a guerra, como tal, não foi a finalidade de Roma, o que foi diferente na Macedônia de Alexandre Magno. Roma não declarava guerra por prazer pela guerra, como os cristãos fizeram. Não houve nenhuma guerra entre Roma e os vênetos: os interesses coincidiam.
Uma Linha de tensão como Marte, ou uma junção aonde convergem muitas exigências, muitas tensões, muitos planos dos Seres Humanos, pode tornar-se uma Autoconsciência e assumir o nome de Marte. Na vida dos homens essa convergência pode tornar-se de tal modo importante que a sua representação religiosa pode tornar-se absoluta para indivíduos isolados ou para situações sociais independentes.
Pode tornar-se o inevitável para o Ser Humano isolado, mas o Universo compõe-se de cada Linha de Tensão, de cada Ser e infinitos Deuses que se exprimem em infinitos entrelaçamentos aonde convergem interesses, necessidades, desejos de todos os Seres que compõem a imensidão em que vivemos. Assim como cada Ser pode escolher, do mesmo modo as Linhas de Tensão escolhem; e a relação acontece sempre com aspectos específicos seja do Ser Humano seja da Linha de Tensão e de todos os Seres que participam do relacionamento.
Não existe relacionamento do tudo com o tudo seja porque o tudo não tem consciência, seja porque o tudo do Ser Humano singular é composto por um infinito número de Seres.
De modo que o escopo de Roma era o próprio desenvolvimento, e não a destruição em troca da destruição.
Marte ainda sobrevoa o mundo mesmo se a sombra negra da Paz ameaçadora avança.
Texto de 1993
Revisão atual: Marghera, 28 de maio de 2016
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
A tradução foi publicada 03 de junho de 2017
Il sentiero d'oro: gli Dèi romani |
A vida representada por Juno na 'Piazza delle Erbe' em Verona
O suicídio representada por Julieta em Verona
A Religião Pagã exalta a vida triunfando na ocasião da morte.
O cristianismo exalta a morte, a dor, a crucificação e o suicídio.
Por isso os cristãos desesperados têm um patrão, que lhes promete a ressurreição na carne. |
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Claudio Simeoni Mecânico Aprendiz a Bruxo (Apprendista Stregone) Guardião do Anticristo (Guardiano dell'Anticristo) Membro fundador da Federação Pagã Piaz.le Parmesan, 8 30175 - Marghera - Veneza Tel. 3277862784 Tel. 3277862784 e-mail: claudiosimeoni@libero.it |
A Religião da Antiga Roma estava caracterizada por dois elementos fundamentais. Primeiro: era uma Religião elaborada pelo homem que habita o mundo, que é constituído por Deuses, e com estes ele mantinha relacionamentos recíprocos para interesses comuns. Segundo: a Religião da Antiga Roma era a religião da transformação, do tempo, da ação, de um contrato entre os sujeitos que agem. Estas são as condições que a filosofia estoica e platônica jamais compreenderam e, a ação delas deformou, até os dias de hoje, a interpretação da Antiga Religião de Roma, nivelando-a aos modelos estáticos do platonismo e neoplatonismo primeiramente, e ao modelo do cristianismo depois. Retomar a tradição religiosa da Antiga Roma, de Numa, significa sair fora dos modelos cristãos, neoplatônicos e estoicos para se retomar a ideia do tempo e da transformação em um mundo que se transforma.