A Religião Pagã e a Teogonia de Hesíodo (italiano)
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Sempre se quis separar a cultura grega da cultura romana, tendo por base a cultura europeia moderna; separa-las da cultura do médio oriente, de onde "brota" a cultura hebraica, que se enxertando sobre a filosofia grega deu origem ao cristianismo.
As coisas não são assim. Não existe a cultura de um povo, existem interesses de indivíduos particulares, de homens individuais, que se impõem a uma massa de outros homens. O obstáculo a esses interesses de domínio, que podem ser identificados com os hebreus, donos da estrutura emotiva dos hebreus conduzidos à Babilônia, ou de Platão que se identificava com o demiurgo chefe e criador do mundo e das almas, é constituído pela cultura religiosa Babilônica forjada pelos Sumérios, Hititas, Hurritas e todos os outros que se sucederam antes do domínio Assírio, e na Grécia, Homero e Hesíodo.
Homero, a figura mítica, a quem se atribui a mais antiga versão das Ilíadas e da Odisseia, além de uma série de hinos aos Deuses, e que teria vivido em torno do ano 750 a.c., mesmo se o nome não indicasse uma só pessoa, mas somente as obras. Hesíodo é do VIII ao VII século a.c., em ambos os casos estamos em um período histórico em que a escrita grega começava a se difundir substituindo a tradição oral.
Seja tanto ao que se refere a Hesíodo quanto a Homero, estamos na época histórica da passagem da tradicional poética oral dos aedos, os cantores por profissão, a uma tradição escrita. Da ênfase emotiva com a qual os aedos envolviam os espectadores no conto, à palavra escrita que necessitava de imagens racionais descritas, desprovidas da essência emotiva, que pouco a pouco era esquecida a cultura da qual aquela escrita era um símbolo, restando as palavras desprovidas do significado sócio-emotivo-cultural.
Dessa situação, a história nos transmitiu de geração em geração uma série de interpretações sobre a natureza dos Deuses descritos por Hesíodo e Homero, que partindo da imaginação do intérprete explicavam o significado, daquilo que, Homero e Hesíodo, pretendiam transmitir com aquelas suas palavras.
Os Estoicos e Epicuristas, cada um de maneira diferente, interpretavam o mito de Hesíodo como símbolos e personificação de potências naturais como uma consequência da ignorância de homens primitivos, que reduziam tudo a uma dimensão antropomórfica. Os Estoicos, em particular, usavam as alegorias para interpretarem o Mito. Insultar os homens tendo-os como "primitivos" é próprio de Dupuis, Fouchet, Hume para os quais as alegorias míticas são apenas expressões de temor e esperança, exatamente como acontece com um cristão que treme diante do seu deus todo-poderoso e assassino.
Evemero, 300 a.c., afirmava que os Deuses do Mito outros não eram senão antigos reis divinizados.
Segundo Muller, o mito é uma doença infantil da linguagem.
Segundo Goethe e Schiller, o mito é só poesia e Moritz afirmava que era uma tarefa absurda querer transformar as histórias dos Deuses em alegorias, como é absurdo querer transformá-las em histórias autênticas: dito por pessoas que consideravam autêntico o deus patrão e criador do universo, como descrito pelo cristianismo.
O Mito foi interpretado como ritual social por W.R. Smith, J.G. Frazer. J.E. Harrison, F.M. Cornford, Gilbert Murray, B. Malinowski, Durkheim e M. Mauss, o totemismo do primitivismo cristão.
Nietzsche interpretou o mito em termos psicológicos, unindo mito e interpretações budistas, que acaba se degenerando em um tipo de repetição de um presente inelutável do qual o super homem deve tomar consciência de um eterno retorno de um presente, que repete a si mesmo. Wundt, Jung e Freud usam o mito para explicarem a interpretação psicológica deles, até Hillman, para quem os Deuses são os arquétipos habitantes da natureza humana.
Para Hegel o mito é o autodesenvolver-se do espírito absoluto. Hegel vê a verdade do mito no fato de que o Mito considera cada coisa como vivente e divina, que vem plasmada, exteriormente e interiormente, por Homero e Hesíodo à imagem do homem.
Schelling em um período da sua vida quis demonstrar que o mito é sempre monoteísta, seja apenas de maneira latente, porque é verdade que existiam muitos Deuses, mas entre eles, um era "primus inter pares" (o primeiro entre iguais). Para Schelling o monoteísmo da época de Urano foi decidido pela revelação cristã.
Causalidade, substância, ação recíproca, constituem a explicação do Mito que são dadas por Cassirer, partindo da filosofia transcendental kantiana. O Mito é justificado pelo fato de que Kant fala de "formas de intuição" e das categorias, os Deuses do Mito, como condições de experiências possíveis.
Lévi-Strauss constrói uma interpretação estruturalista do Mito tentando reduzi-lo à fórmulas matemáticas, ou a esquemas que se reproduzem na narração. A demonstração da interpretação estruturalista, Strauss a encontra na análise de "tribos" "primitivas" nas quais têm como totem um crocodilo e na outra um peixe. Em resumo, Lévi-Strauss insulta o Mito cotejando-o com concepções existenciais atuais, que se transformaram, difundindo-as para o primitivismo construído pela criação do homem por parte do seu deus patrão.
J.G. Herder interpreta o mito segundo o qual os Vedas seriam antiquíssimos, ma realidade a maior parte dos Vedas remontam ao século IV a.c., o século da invasão da Índia, por obra de Alexandre Magno. Eram difundidos como o reflexo da sabedoria primordial do homem, depois da criação do homem por parte do deus chefão.
Bachofen interpreta o mito de modo simbólico e romântico. Bachofen interpreta o Mito grego com a bíblia, partindo do pressuposto de que, tudo o que está escrito na bíblia, constitui uma chave para a interpretação do Mito grego.
Temos interpretações do Mito por obra de Kerényi, Walter Otto, Pettazzoni, Evola, Jensen e Jolles. Todos estudam o Mito e todos dão as interpretações referentes ao significado do Mito, mas nenhum deles manifesta uma visão do mundo através do Mito. O Mito permanece para o analista um objeto diferente.
O analista coloca as vestes do deus todo-poderoso, e depois de ter dissecado o Mito, afirma um determinado significado do mesmo: mas o que afirma o Mito do analista?
A necessidade de interpretar o Mito por parte desses intérpretes, não constitui uma necessidade de entender o Mito, mas uma necessidade de se exorcizar o Mito, afim de que o mesmo não coloque em discussão a realidade cristã, que o analista a fez como sua.
O cristão interpreta o Mito de Homero e de Hesíodo de maneira que possa afirmar a sua superioridade sobre Homero e Hesíodo, da mesma maneira que os Estoicos interpretavam como alegorias as afirmações religiosas do Mito para poderem impor a ideia do Logos.
Essas interpretações do Mito representam os verdadeiros e exatos insultos contra a Teogonia de Hesíodo, contra a Ilíada e a Odisseia de Homero ou das cosmogonias Órficas.
Assim é que, o analista cristão, interpreta o Mito de Homero e de Hesíodo procurando afirmar a sua superioridade em cima de ambos, insultando-os. Insultos que começam com Platão e os filósofos que, por serem incapazes de viverem o Mito, devem dizer o que é o Mito para exorcizá-lo e afastá-lo do horizonte da própria existência.
A contraposição está entre quem vive o cristianismo e interpreta o Mito, e quem vive o Mito e interpreta o cristianismo. A Religião Pagã, as pessoas Pagãs Politeístas, vivem o Mito e interpretam o cristianismo. Às vezes, levando em conta que viver o Mito representa uma superação da descrição da realidade objetiva na qual estamos envolvidos subjetivamente, exploram o Mito e dele, e somente dele, extraem os princípios da dimensão religiosa delas.
Diferentemente dos cristãos, um Pagão não pensa que Hesíodo seja uma pessoa que tenha sido enviada pelos Deuses. Provavelmente, é só uma pessoa que se apropriou de um Mito, de uma história, e a reproduziu procurando glória com uma visão épica do universo. A nós, Pagãos, não nos interessa Hesíodo como pessoa, mas nos interessa a história que ele conta e o conteúdo religioso dela.
NOTA: o elenco dos intérpretes do Mito foi tirado de Kurt Hubner "a verdade do mito", ed.Feltrinelli 1990
Marghera, 21 de setembro de 2014
(Trecho extraído da Obra de Claudio Simeoni *A Estirpe dos Titãs*, um trabalho iniciado em 27.12.1999)
A tradução foi publicada 14 de maio 2015
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
Translated into English Some Pagan religious thoughts about Hesiod's Theogony
Índice geral dos temas abordados por Claudio Simeoni
A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.
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Claudio Simeoni
Mecânico
Aprendiz Stregone
Guardião do Anticristo
Membro fundador da Federação Pagã
Piaz.le Parmesan, 8
30175 - Marghera - Venezia - Italy
Tel. 3277862784
e-mail: claudiosimeoni@libero.it
Última modificação, março 2024
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