A adivinhação como arte da vida

A adivinhação na Religião Pagã

Como praticá-la e quando se torna superstição

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

 

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A adivinhação e a harmonia da ação no mundo

A adivinhação na Religião Pagã

 

-* A adivinhação como arte da vida *

- A adivinhação e a harmonia da ação no mundo -

- Como praticá-la e quando se torna superstição -

- A adivinhação na Religião Pagã -

ADIVINHAÇÃO: nas religiões antigas, a arte de prever o futuro através da interpretação de eventos considerados sinais dados pelos Deuses!

O que é afinal a ADIVINHAÇÃO? É a capacidade de um sujeito para interpretar os fenômenos além do significado normal que lhe é dado pela razão.

Os fenômenos podem ser interpretados tanto dentro do espaço (objetos que se manifestam no presente e em relação aos quais executam-se estratégias subjetivas para chegar-se à harmonia) como em relação ao tempo (objetos que se manifestam no presente e que induzem às transformações, às mudanças, em relações às quais age-se com o objetivo de obter-se mudanças favoráveis à pessoa).

O mundo em que vivemos age e o seu agir se esparrama também em relação a nós; o mundo em que vivemos executa estratégias de mudanças que nos obriga à adaptação.

A nossa educação obriga-nos a afrontarmos somente os fenômenos que cabem na razão, mas o mundo em si é infinitamente muito maior e, frequentemente, nós sofremos os últimos fenômenos dos processos de transformação que se iniciam fora das iguarias da nossa razão. Em um tempo diferente ou em um espaço diferente. Em situações que a nossa razão não está em condições para analisar ou intervir.

Por exemplo, o desmatamento da floresta Amazônica leva à exaustão da América do Sul, que implica num aumento da temperatura do Golfo do México que produz um número maior de tornados que massacram os USA. O fulano que vê a casa dele sendo varrida pelo furacão, na Flórida, não tem a capacidade para relacionar aquela destruição devida à ganância de monopolizar as madeiras para a indústria dos USA, com a destruição feita na floresta amazônica.

Sobre o planeta inteiro a vida é como um conjunto de pérolas em um vaso de vidro aonde a vibração de uma pérola é transmitida às outras, e o veículo da transmissão são os tijolos da vida, os DEUSES, que presentes em cada pérola, colocam em fibrilação cada um deles em cada pérola. É antes complexo saber por quê aquela pérola vibra, mas é mais fácil saber no que implica o seu vibrar no complexo onde estamos mergulhados.

O mesmo acontece com o que viemos a ser, como indivíduos singulares desta singular espécie da Natureza, um veio a ser que é devido a um número infinito de condições e de estratégias para a existência que está fora do nosso controle, fora da nossa razão, e nós mesmos somos o fenômeno manifestado por essas estratégias (ou um dos fenômenos).

O Conhecimento pode ser entendido como a capacidade do indivíduo de fazer vibrar as suas emoções próprias em relação àquilo que ele alcança no mundo em que vive, unindo-se ao fenômeno alcançado. Quando aquilo do mundo que nos alcança faz vibrar as nossas emoções, envolvendo-nos, estamos num caminho do Conhecimento. O saber da razão existe quando aquilo que do mundo nos alcança é uma informação que pode ser inserida, ao menos, na nossa razão, no caso em que a razão tenha interesses em relação àquilo que nos alcança. Por exemplo, se um arqueólogo descobre uma pedra estriada que, de um certo modo possa prever que ela se enquadre numa época de cerca de 200.000 anos, ele está em condições de fazer uma série de conjecturas. Essas hipóteses, às quais se enxerta a pesquisa, ampliam o saber da razão. O não-conhecimento existe na manifestação de indiferença subjetiva dos indivíduos diante dos fenômenos provenientes do mundo. Esses fenômenos não lhes tocam nem as emoções (que concorrem à formação do conhecimento deles) e nem a razão deles (que concorre à formação do saber).

O problema a ser resolvido na adivinhação é complexo e envolve:

1) Quantos são os fenômenos que chegam do mundo e que estamos em condições para compreendê-los, considerá-los e valorizá-los?

2) Quantos desses fenômenos que chegam do mundo são avaliados por meio da nossa razão e quantos são aqueles que são avaliados pela parte antiga e profunda do nosso cérebro (do nosso perceber)?

3) Quando esses fenômenos são alcançados, tenham ou não tenham sido levados em consideração por nós, quais são as modificações que nos induzem na objetividade em que vivemos?

4) Quando esses fenômenos nos atingem quais são as transformações que realizam na objetividade em que vivemos?

5) Quando a objetividade em que vivemos se adapta aos novos fenômenos, transformando-se, seja em termos espaciais seja em termos de estratégias para a existência, quais as mudanças e transformações que eu devo realizar?

O sujeito que pratica a adivinhação é um sujeito ativo na objetividade em que vive. As suas ações são fenômenos que se introduzem na objetividade e obrigam-na a modificar-se. Se eu, agindo, manifesto os fenômenos que induzem à transformação na objetividade DEVO necessariamente saber quais serão as transformações que incito, pois dessas transformações eu conservo a responsabilidade subjetiva. Tenho a responsabilidade por aquilo que poderia ter feito e não fiz.

A adivinhação torna-se arte na superação da forma comum, da razão, para captar o movimento profundo dos objetos do mundo através de uma modificação subjetiva contínua com o objetivo de penetrar melhor a realidade em que se vive.

Além disso, o sujeito DEVE saber que ele não vive uma separação entre sujeito e objeto, mas vive dentro de uma mistura dinâmica (crogiolo dinamico) de sujeitos que projetam em relação a eles e em relação a cada um deles. Onde, os fenômenos que se apresentam, são o resultado de estruturas operativas dinâmicas como um produto de um número infinito de inteligências que constituem o mundo que nos cerca.

Não vou entrar na adivinhação. O que me interessa salientar é que existem dois percursos para praticar a adivinhação: um o percurso religioso e o outro é o percurso supersticioso.

O percurso religioso da adivinhação

Antes de qualquer coisa comecemos a falar do objeto da adivinhação: o presságio!

"Nem seria por acaso que o costume teria consagrado a palavra "pressagiar" se a ela não correspondesse nenhuma realidade: "Pressagiava-me o coração, ao sair de casa, que teria vindo inutilmente." *Sagire*, de fato, significa ter bom olfato; de onde chama-se de *sagae* as velhas feiticeiras, porquê pretendem saber muito, e *sagaci* é dito aos cães. Portanto, quem tem a sensação (sagit) antecipada de que algo vai acontecer, diz-se que essa pessoa *pre-sagisce*, ou seja prevê o futuro, sente antecipadamente." "Da adivinhação de Cícero; livro primeiro, parágrafo 65.

O presságio é o que aflora do indivíduo fora da razão. O presságio é a forma que a intuição assume na razão. A intuição se forma em âmbitos físico-psíquicos do indivíduo fora do controle descritivo da razão. É formada na parte antiga do cérebro elaborando fenômenos diferentes ou de um modo diferente (da razão) que provém do mundo externo. Esse modo diferente de elaboração se transfere na estrutura emocional e se apresenta à razão, com frequência, sob a forma de uma insuficiência psicológica, aborrecimento, alegria, euforia que criam na razão estados psicológicos de expectativa ou carência no que diz respeito aos projetos que o indivíduo está executando naquele momento. Esses estados psico-emotivos são justificados pela razão, que lhes atribui um significado de acordo como ela consegue imaginá-los. Algumas vezes a razão consegue fazer coincidir a sensação com o significado da intuição, na maior parte dos casos ( na grande maioria dos indivíduos) a razão criou uma separação nítida entre a parte interna e antiga do cérebro e a descrição racional do mundo. Essa separação que é tanto de natureza física como psíquica e emocional impede a intuição do indivíduo interferir na ação dele.

A separação que a razão executa entre o mundo descrito e o mundo real é necessária para a finalidade de delimitar o mundo, onde um sujeito da Natureza (que no nosso caso é o Ser Humano) opera e se transforma. A imensidão o perturbaria. Todavia a imensidão existe e de qualquer modo se apresenta ao sujeito com um infinito número de fenômenos que para o sujeito se tornam objetos em si mesmos, não lhes conhecendo nem a origem nem as mutações pelas quais passaram, nem os efeitos que produzirão seja no seu mundo como no infinito do qual são manifestações.

Um dos métodos que a razão usa para separar a percepção do indivíduo da imensidão é o de projetar sobre os fenômenos externos a imaginação dela. A razão toma o fenômeno externo a ela e o reveste com a sua imaginação. A razão imagina o significado das sensações que lhes chegam, imagina a forma da percepção visível, atribui um significado preciso e limitado à emoção que está arrastando o indivíduo.

A razão é uma espécie de guardiã da sanidade mental do indivíduo. Só que, como todos os guardiães, torna-se um tirano atroz quando o indivíduo não aprende a discipliná-la e a colocá-la ao seu serviço. Ao próprio serviço significa obrigar a própria razão a deixar passar a intuição, e a tornar-se dúctil e atenta à intuição que aflora de dentro de nós.

Os trajetos da Bruxaria levam a essa condição através da autodisciplina que de um lado se impõe à razão, e por outro lado se impõe às nossas emoções na relação empática que constroem com o mundo ao nosso redor.

Há pessoas que têm facilidade de fazer aflorar a intuição e são ricas em intuições, outras têm dificuldade tanto em fazer aflorar a intuição como para bloquear a imaginação da própria razão em suas intuições e sensações.

A outra forma de adivinhação, já o disse, é a natural. Esta com sutis raciocínios relativos à ciência da natureza, refere-se à essência dos deuses, da qual, segundo os pensadores mais eruditos e sapientes, nós extraímos as nossas almas, como se nós a tivéssemos aspirado ou bebido.

E, do momento que o Todo está impregnado e repleto de espírito eterno, e de inteligência divina, sucede, necessariamente que, as almas humanas sofram o efeito da afinidade delas com as almas divinas. Mas, no estado de vigília as nossas almas devem se ocupar das necessidades da vida, e portanto, se dissociam da união com a divindade, impedidas como são pelos vínculos corpóreos". "Da Adivinhação" de Cícero; livro primeiro, parágrafo 110.

A sensação emocional de fazer parte de um conjunto é uma condição real que a razão combate, pois ela separa o indivíduo da percepção emocional dele. Mas a mesma percepção emocional separa o sujeito, o indivíduo, do conjunto de sujeitos que formam o mundo em que ele vive, ligando-o não por aquilo que o indivíduo é (parte de um hipotético Todo), mas ao conjunto das ações que manifestam o mundo em que ele é. Do ponto de vista emocional o indivíduo está separado do mundo em que vive, mas não está separado das emoções do mundo. Os termos "ações" e "emoções" têm o significado de inteligência, escopo, atividade para programar de todos os sujeitos que compõem o mundo em que o indivíduo vive.

Há níveis diferentes de integração e separação dos sujeitos com o mundo em que vivem. O indivíduo se separa do mundo enquanto ele é Autoconsciência, isto é ele se reconhece como um sujeito diferente do mundo que o cerca, mas está ligado e se comunica com o mundo que o cerca através das suas emoções. As emoções e as ações são o quanto qualificam o sujeito em relação ao mundo circunstante. A razão como a capacidade para descrever forma e quantidade se substitui à comunicação emocional. A razão tenta dar uma forma e quantidade aos objetos que formam o mundo, e impõe-se sobre o indivíduo segregando a comunicação emocional ao nível "do subconsciente". O inconveniente é que, para a razão, os sujeitos do mundo se tornam objetos e, como tais, mudos.

Disto nascem as fantasias ilusórias da razão de um "Todo" consciente e que projeta, de um "deus-patrão", de um destino a ser decifrado. Daqui nascem as superstições.

Quando a razão se cala a intuição aflora, e quando a razão intui transforma o fenômeno em presságio. Isto acontece quando o indivíduo está emocionalmente ocupado, sob um esgotamento, quando a razão se cala e não projeta as suas ilusões sobre o mundo (como no sonho). Só que aquilo que se percebe pode ser indiferentemente intuição ou ilusão; visão ou alucinação; comunicação com os sujeitos do mundo ou manifestação de um desejo ardente e oprimente (frequentemente é a síndrome da onipotência).

A Bruxaria procura usar da melhor forma possível a intuição própria. Mas a Bruxaria (Stregoneria) é um modo para se combater no mundo e, quem combate, vai à procura das melhores armas possíveis para combater da melhor maneira possível.

"Agora, porém, declararei solenemente que eu não dou crédito aos vulgares tiradores de sorte, nem àqueles que se fazem de adivinhos para obterem ganhos, nem às invocações das almas dos mortos, às quais recorria o teu amigo Appio . Não considero os áugures Marsi, nem os arúspices de estrada, nem os astrólogos que fazem previsões junto ao Circo, nem os profetas de Ísis, nem os charlatões intérpretes de sonhos. Esses não são adivinhos por ciência e experiência, mas são "profetas supersticiosos e imprudentes vendedores de mentiras, incapazes ou loucos ou escravos de necessidade: gente que não sabe caminhar na própria vereda e que pretenderia indicar a estrada ao próximo. Aqueles que prometem riquezas e pedem uma moeda. Das riquezas que prometem tomam para si uma moeda e devem aos outros as restantes!" "Da Adivinhação" de Cícero; livro primeiro, parágrafo 132.

E é isto que a razão faz. As razões pobres ao invés de melhorarem e expandirem a capacidade própria para descrever o mundo (como exemplo desenvolvendo a ciência e conhecimento dos mecanismos do mundo da forma e da quantidade), constrangem o mundo a assumirem a forma da imaginação delas. E, sobre essa imaginação, programam os impulsos emocionais do indivíduo (destino, deus-patrão e todo-poderoso, carma, reencarnação, etc.) e impõem as respostas das sensações emocionais do indivíduo. Neste mecanismo se enxerta a atividade da manipulação mental das religiões reveladas.

Os charlatães não são aqueles que Cícero elencou (que abundam inclusive nos dias de hoje), mas principalmente Padres cristãos católicos, Imames muçulmanos e Rabinos hebreus que pretendem manipular as pessoas com o objetivo de impor a elas a imaginação (deles) e, por meio da qual forçarem todas as pessoas, que têm desejos e necessidades emotivos particulares, a aceitarem a imaginação deles (transmitindo essa chantagem de geração em geração até os dias hodiernos). Além disto, esses vigaristas, que afirmam "captar" os desejos do deus deles (provocam guerras dizendo que o deus deles é quem deseja tais guerras), dizem confiar em tarôs, em astrólogos, em sessões de espiritismo, em cabala, e outras falsificações para explorarem a honestidade dos inocentes impondo, por meio de "palavras doces", o que o deus-patrão deles esboçou no desenho da "criação feita por ele"!

E assim, de enganos a enganos, a crença na chantagem vai avançando na humanidade; e a magia da intuição permanece bloqueada na parte mais antiga do nosso cérebro. Existe nas pessoas ingênuas uma sensação de que estão sendo consumidas lentamente, e de que estão sendo levadas a um sofrimento inexplicável. As pessoas puras, que são arrastadas por esses embusteiros, acabam tendo uma sensação sufocante de arrependimento. Um arrependimento que nos faz recordar o que poderíamos ter sido hoje e, o que de diferente na humanidade, na nossa existência, poderíamos ter feito e não fizemos, para a evolução da nossa espécie se, realmente, tivéssemos tido a coragem de escolhermos sozinhos, cada um de per si, uma preferência "pescada" do fundo do nosso coração!

Marghera, 13 de novembro de 2005

P.S. O livro de Cícero "A Adivinhação" foi editada por Garzanti.

 

A tradução foi publicada 22 de maio de 2016

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

 

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