1200 - as heresias, os Cátaros

A história da Stregoneria de 800 a 1800

Quinta Parte

O filósofo do século é Roger Bacon

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

História da Stregoneria

 

Nesta transmissão falaremos do século XIII, o que inicia em 1201. O argumento que desejamos tratar são as heresias.

O que são as heresias? São percepções de liberdade dos Seres Humanos em relação ao terror coercitivo da igreja católica. Não encontrarão jamais as heresias que tendem a aumentar o poder coercitivo, mas encontrarão as heresias que tenderão a limitá-lo.

Isto vale tanto para as heresias doutrinárias, vejam o arianismo, com as duas naturezas de Jesus a qual os católicos contrapuseram deus a deus, como vale para as heresias sociais tal como a heresia cátara.

O problema que nasce com a heresia é a dicotomia entre doutrina coercitiva e propaganda feita à multidão, para o reconhecimento da coerção. Por exemplo, Jesus diz: sejam iguais entre vocês, pretendendo dizer: sejam, entre todos vocês, iguais, desde que ajoelhados diante de mim. A igreja católica, que se identifica com Jesus, como ele diz "sejam iguais entre vocês e estejam de joelhos diante de mim". As pessoas, através da propaganda, são induzidas a imaginar que Jesus tenha dito efetivamente: todos os homens são iguais. E eis a condenação dos anticlericais opoentes à igreja, isto é, os que não obedeceriam aos ensinamentos de Jesus. Portanto, o mal não está somente na igreja, mas está na igreja católica que manifesta a ideologia e os ensinamentos de Jesus. É Jesus o mal, o criminoso que despreza os homens dos quais, os cristãos, manifestam os princípios. A heresia nada mais é senão procurar abrandar a ideologia criminosa da igreja católica, interpretando de maneira diferente a ideologia de Jesus. Neste caso, o herege não coloca em discussão que Jesus possa ser o proprietário dos homens, mas coloca em discussão a hierarquia que, em nome de Jesus, pretende ser considerada a proprietária dos homens.

Quando o desacordo nasce nas interpretações ideológicas, fala-se de heresia. Quando a controvérsia alude a representação da igreja católica, isto é, dos padres, de Jesus ou do deus-patrão, então a discordância é chamada de anticlericalismo.

A heresia, por isso, constitui sempre um respiro de liberdade dos Seres Humanos.

A heresia que queremos analisar é a heresia cátara.

Na origem da heresia cátara, encontramos princípios duais. Na prática, o princípio do mal distinto da divindade, o deus-patrão, que é apontado como bem!

Este princípio é divulgado por um monge, um tal de Bogomil, que viveu entre 927 e 969 na Bulgária.

Em que consiste a heresia? Consiste no fato de que para a igreja católica existe o poder de deus, que é o bem, e que consente o agir do mal, mas não existe um outro poder intercalado a deus. Os Cátaros, ao contrário, afirmavam que existem dois poderes em contraposição e que, aquele que é contra os princípios de igualdade, passa a aderir ao poder do mal, que é o que está combatendo o poder de deus.

Para os católicos o mal é permitido por deus, mas não se opõe a deus, pois dele os católicos constituem uma expressão.

Para os cátaros o mal é identificável e por isso pode ser combatido. Isto não é admissível pelos católicos que, aproveitando da posição de poder que ocupam, argumentam só para conservarem tal poder, e muito embora disseminam miséria entre os Seres Humanos, também os aterroriza com a presença do mal, que só eles combateriam.

Se o mal é identificável, através dos atos cometidos, pode-se identificar também quem se alinhou com o mal, pois os seus atos o identificam. Os atos dos católicos, segundo os cátaros, demonstrariam que eles se alinharam com o mal e, por isso, são inimigos de deus.

O catarismo recebe o apoio das pessoas e das multidões, porém a oposição violenta do clero. Ele se difunde nas regiões meridionais da França. Como resposta plena, os católicos queimam vivos cinco cátaros chegados de Flandres e Colônia.

Entre 1167 e 1177 teve lugar um concílio cátaro em Saint Felix de Camaran perto de Tolosa. O catarismo demonstra a sua força de atração dos Seres Humanos e, por outro lado, se depara com um comportamento cada vez mais feroz do ápice eclesiástico.

Raimundo torna-se conde de Tolosa e é acusado de proteger os cátaros. A cidade de Albi torna-se o abrigo dos cátaros que são chamados também de albigenses.

Todo o restante é narração de uma luta pela sobrevivência. De um lado uma filosofia de vida que atrai pessoas e multidões, devido ao péssimo modo de vida ao qual estavam submetidos; e, do outro lado, os católicos sanguinários com o escopo único de colocar de joelhos os Seres Humanos, que não são capazes de se defenderem.

O núncio do papa é assassinado por um servidor de Raimundo, em Tolosa.

Inocêncio III convoca à cruzada os cavaleiros francos contra os hereges, suas palavras: "Matem todos, deus distinguirá os seus", esta frase foi transmitida por um representante do papa e tornou-se famosa. A cruzada organizada, em quarenta dias transformou numa verdadeira e exata guerra de conquista o condado de Tolosa.

Os habitantes de Beziers são massacrados (homens, mulheres e crianças o que demonstrou a melhor das tradições católicas). Carcassonne é conquistada. Simone de Montfort é o chefe dos cruzados. Raimundo VI pede ajuda ao rei de Aragão, Pedro II, que no ano precedente derrotou os mouros em Las Navas de Tolosa. Ambos são derrotados por Simone de Monfort. Pedro II morre em batalha.

Em 1215 o concílio laterano IV condena cátara por heresia.

A ordem dos pregadores (dominicanos) criada por Domingos de Gusmão (torturadores) obtém o reconhecimento papal. Nesse meio-tempo, morrem tanto Simone de Monfort como Raimundo VI, depois de ter reconquistado, dos cavaleiros francos, o condado de Tolosa. O sucessor foi Raimundo VII.

Entre 1223 e 1226, o rei Luis VIII retoma a guerra contra Tolosa. Enquanto em 1226 a assembléia do clero católico de Parmiers providencia a fogueira para os hereges.(como se já não eram queimados).

Raimundo VII é derrotado pelos francos e é obrigado a aceitar as condições impostas, entre estas a de dar em casamento a sua filha a Alfonso de Poitiers, irmão do rei Luis IX.

O ano de 1232 é um ano infame para Milão. Muitíssimos cátaros milaneses são levados à fogueira, ao passo que um ano depois é instituído o tribunal da inquisição no qual os juízes são dominicanos (pregadores).

A reação cátara é cada vez mais fraca e voltada à sobrevivência individual. Alguns inquisidores são mortos. Os justiceiros cátaros se refugiam em Montsegur onde são assediados entre 1243 e 1244 e são massacrados.

Em 1252 um dos torturadores, que mais se sobressaiu entre os milaneses, um tal de Pedro de Verona, é morto pelos cátaros lombardos.

Finalmente, o último episódio infame que vale a pena recordar: em 1278 o inquisidor de Verona manda à fogueira duzentos cátaros, muitos deles imigrantes de languedoc.

Esta é a narrativa do combate. Um combate que surgiu por volta dos anos 950 e que terminou no início de 1300, exatamente quando, terminado esse combate, começará o massacre dos hebreus acusados de colaborarem com o sultão da Espanha. Com eles serão perseguidos inclusive os leprosos antes que o poder constituído para aterrorizar os Seres Humanos, comece a perseguir as mulheres chamadas de bruxas (streghe).

Isto é o que se depreende da Bruxaria (Stregoneria) daquele tempo: as tensões das classes subalternas eram fortíssimas. As condições precárias de vida eram tais que provocavam a perda do controle do combate, com enorme facilidade, mas a ferocidade assassina dos católicos era tamanha que, faziam do extermínio e da matança, a regra de conduta que lhes era peculiar. Era necessário viver uma determinada situação em cada classe social, era necessário desenvolver o sistema social, era necessário construir um comando social em que as exigências fossem condições de uma vida melhor, não pelo interesse e pelas necessidades das pessoas rudes, mas para o seu próprio interesse e para evoluir com a sua necessidade exclusiva. Com esse propósito, torna-se importante o filósofo desse século.

 

1997

 

A tradução foi publicada 6 de novembro de 2018

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

 

Claudio Simeoni

Mecânico

Aprendiz Stregone

Guardião do Anticristo

Membro fundador da Federação Pagã

Piaz.le Parmesan, 8

30175 - Marghera - Venezia - Italy

Tel. 3277862784

e-mail: claudiosimeoni@libero.it

 

A História da Stregoneria

A história da Stregoneria não é uma história de homens ou de comandantes. A história da Stregoneria é a história do vier-a-ser das ideias, do modo como os homens enxergam o mundo e a vida social. A história da Stregoneria é a história da modificação do presente no qual o cristianismo aprisionou o vir-a-ser da humanidade.