Mãe Afrodite

Como os Deuses são pensados na Religião Pagã

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

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Mãe Afrodite
Como os Deuses são pensados na Religião Pagã

Afrodite nasce do pênis de Urano Estrelado, que foi castrado por Cronos.

Urano é o único sujeito que naquele momento (salvo os seus filhos, os Titãs) tem vontade e inteligência. Gaia é a matéria-energia na fundação do universo (aquele que Aristóteles definiria "o movimento imóvel"); Noite Negra é um útero e será o maior *Genius Loci*: o lugar consciente do Universo. No momento em que nasce Afrodite, não existem nem os filhos do tempo (os Deuses que se tornam por transformação), nem os filhos da Natureza, que constroem o seu vir a ser, crescendo na forma e na quantidade (na razão).

Antes que Afrodite nascesse do pênis de Urano Estrelado, existia a Terra (Rea), existia o tempo (Cronos), mas sobre a Terra não havia vida, como nós estamos habituados a considera-la na Natureza. Afrodite é a mesma potência de Urano Estrelado, que ao invés de agir sobre os planetas e sobre as galáxias, fazendo nascer a Auto Consciência das Estrelas, dos planetas (Rea) e das Galáxias, baixa sobre os "planetas" singulares, para dar origem à vida da Natureza, como nós a pensamos. Este baixar-se é uma causa que se repete com uma certa frequência na Religião Pagã.

Os filhos de Zeus constituem um "baixar-se" de forças universais na Natureza. A própria Perséfone é um baixar-se de Demetra (como pequena Demetra) no Hades (o ovo, o sêmen, o útero, que fazem crescer a vida).

Quando o pênis de Urano Estrelado cai nas águas, a vida como nós a conhecemos, não existia.

Afrodite é a emoção. É aquela que encontrando as condições oportunas, transforma o inanimado em animado. Trata-se de uma questão deixada em suspenso, não encerrada, pelo mito: Gaia não é propriamente "um DEUS". À Gaia faltam as características de vontade, intento, escopo e querer, para ser um DEUS. Gaia é aquilo que existe (energia e matéria), mas privada de vontade, consciência e escopo.

Quando nos referimos à Natureza, distinguimos entre "quando a vida não é" e "quando a vida é". Desfrutando do trabalho científico, nós sabemos que (falo de modo genérico), na natureza há correntes de ácidos propedêuticos em correntes do RNA e DNA, mas que não podem ser considerados propriamente "vida", do ponto de vista da Natureza, porque não têm a capacidade de se reproduzirem, e portanto, não têm querer, desejo, vontade, escopo, etc.

A ciência atual nos fornece os instrumentos para a formação racional de uma ideia, que os antigos representaram de maneira poética com Afrodite.

Foi no momento em que o pênis de Urano Estrelado , castrado por Cronos, cai nas águas que algumas formas da matéria passaram do estado de "inconsciência" ao estado de "consciência". Naquele momento, à Necessidade, colocada em ação por Afrodite, somaram-se à vontade delas (a foice dentada de Cronos), que manifestava o desejo delas (Eros primordial), e começaram a se expandir manifestando a vontade de viver. Naquele momento, Afrodite, surge das águas: a vida da Natureza mostrou sua face sobre a Mãe Terra.

Aquele "quid" que transforma o não consciente em consciente entre os Seres da Natureza é exatamente Afrodite.

Quando Afrodite emerge das águas, é a vida que emerge da não vida. É a consciência que emerge do incônscio .

Esta condição de "emergir" é o vir a ser, contínuo e sistemático, vida. Seja quando o vir a ser é a passagem da não vida à vida, seja quando uma vida, tipo quando o seu pai e a sua mãe construíram as condições para que você viesse a ser. É sempre Afrodite que emerge!

Afrodite é o fragmento dentro de cada um de nós que diferencia entre um sujeito que tem a tendência da vida, o impulso da vida e a tensão da expansão, e um sujeito que não tem tal tensão (como distingue a nossa percepção). É Mãe Afrodite que começa a morrer quando um indivíduo cai em depressão. É sempre a Afrodite dentro da mãe, que acabou de parir, a ser danificada. Com frequência, as mães que acabam de parir caem em estados depressivos. Isto é devido ao fato de que a Afrodite da mãe se divide em duas como uma ameba, ou uma célula, e por muito tempo a mãe se sente danificada. O nascimentos dos bissexuados constitui uma estratégia da Natureza, mas a reprodução de Afrodite acontece sempre por dilatação no sujeito e divisão.

Como é, pois, o corpo de Mãe Afrodite?

É um corpo formado de tantas e diferentes células quantas forem as que constituem cada indivíduo (também no que se refere às células singulares dos sujeitos complexos e de cada bactéria), de cada espécie seja vegetal ou animal, que habita mãe Terra. *Atenção porque não é a Natureza, mas a vida* (realcei). É a libido, seja qual for o seu modo, que as espécies singulares a usem para se dilatarem, a si mesmas, nas suas vidas.

A libido, como emoção, é a manifestação da vida: essa é AFRODITE!

Exatamente, alimentando a AFRODITE dentro de nós, podemos chamar a AFRODITE fora de nós. Trata-se da prática da Stregoneria no Paganismo onde eu posso chamar os deuses do mundo, somente por meio dos mesmos Deuses que eu manifesto no meu habitar o mundo. Eu alimento aqueles Deuses dentro de mim com as minhas ações e as minhas escolhas. Isto me dá o poder de chamar os Deuses fora de mim, para que eu possa continuar a executar aquelas ações: constitui um dos fundamentos ideológicos da Religião Pagã.

O oposto de Afrodite é estuprar. É apropriar-se, submeter, violentar.

Venerar é o ato religioso com que o Pagão se relaciona no mundo em que vive. É a PIETAS romana, que consiste em colocar a atenção e ao mesmo tempo considerar que: aqueles com os quais construímos as relações não são "objetos", mas sujeitos que têm querer, necessidade e agem com base aos projetos deles, adaptando-se, assim, ao mundo em que vivem. São sujeitos, habitados por Afrodite, que se relacionam com a Afrodite dentro de mim.

Essa leitura que lhes fiz de Afrodite, com todas as implicações que dela resultam, do ponto de vista do desenvolvimento do pensamento filosófico, pude fazê-la hoje somente porque em 1985 escrevi "O Livro do Anticristo¨. Sem aquela revolução do Pensamento Religioso, os Pagãos teriam continuado a pensar nos Deuses com as mesmas categorias do "deus pessoal", próprio dos cristãos. Quando alguém pragueja contra o meu intento de "guardião do Anticristo", na realidade não pragueja contra uma forma de "satanismo" mais ou menos latente, mas pragueja contra os efeitos: a capacidade do homem de encontrar os Deuses no mundo em que vive, e a incapacidade dos cristãos para oporem, a isto, elementos teológicos ou filosóficos adequados.

Marghera, 06 de outubro de 2011

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A tradução foi publicada 20 de abril 2015

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

Claudio Simeoni

Mecânico

Aprendiz Stregone

Guardião do Anticristo

Membro fundador da Federação Pagã

Piaz.le Parmesan, 8

30175 - Marghera - Venezia - Italy

Tel. 3277862784

e-mail: claudiosimeoni@libero.it

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Os Hinos Órficos representam uma das últimas formas de devoção antes da chegada do domínio absoluto do cristianismo. Estes Hinos Órficos eram muito amados pelo Neoplatônico Damascio, o último postulante da Academia de Atenas. Quando o terror cristão fechou a Academia, Damascio fugiu para a Pérsia.