Paginas acerca de Tomás de Aquino.
Tomás de Aquino sabe perfeitamente que não pode demonstrar a existência do seu deus patrão. Não pode dizer: "Este é o meu deus". No entanto ele tem um deus preciso ao qual se refere: o deus das suas sagradas escrituras. As suas escrituras sagradas afirmam sobre o deus patrão, mas não demonstram a existência do deus patrão. As escrituras sagradas cristãs narram sobre uma patologia de onipotência que eles chamam de deus, e essa patologia eles identificam-na com um sujeito proprietário do universo, porque é apontado como criador do mesmo.
Eles comentam acerca dele, mas não demonstram a sua existência, e muito menos demonstram a necessidade da sua existência.
Afirmar não significa demonstrar.
Se o objeto não invade os sentidos, a afirmação do objeto demonstra apenas e tão-somente a existência da afirmação, não a existência do objeto afirmado.
Se eu digo: "Pai Zeus é a atmosfera!"
Estou afirmando acerca de um objeto que penetra os sentidos. Por isso, não se pode discutir se o objeto por mim afirmado é real ou não, pode-se discutir o significado que eu atribuo ao objeto: "Pai Zeus!" Posteriormente está em mim, eventualmente, demonstrar como sem Pai Zeus, a atmosfera, a vida como nós a estimamos jamais teria existido.
Eu argumento a respeito de um objeto que afeta os sentidos e de cuja realidade cada Ser Humano tem consciência dele.
Torna-se diferente quando se trata de argumentar a respeito do deus criador dos cristãos, bem como da sua pretensão de ser o proprietário das pessoas, numa tentativa de demonstrar que ele é o criador das pessoas e do mundo no qual elas vivem. Há a pretensão do domínio de quem representa o deus dos cristãos, esse é o único objeto real que afeta os nossos sentidos, enquanto não afetam os nossos sentidos nem o deus dos hebreus e nem o deus dos cristãos, nem tampouco a sua pretendida ação de criação do mundo e, muito menos, a sua intervenção nas coisas da vida.
Enquanto nas Antigas Religiões os Deuses têm um corpo com o qual interagimos, no cristianismo ou deus dos cristãos é fruto de um delírio patológico vinculado às doenças mentais nas quais as pessoas tornam-se estranhas ao mundo e à vida: o cristão alienou-se da vida.
Disto resulta a dificuldade de os cristãos provarem a existência do deus-patrão deles: é difícil divulgar uma ideia não verdadeira, mirabolante, como se fosse um objeto real. Pode-se argumentar acerca de uma ideia esdrúxula e os argumentos são aceitos, assimilados ou rejeitados, conforme as culturas das várias sociedades, ou segundo as várias épocas históricas se comportam relativamente a esses argumentos. Algumas ideias de Platão, que foram introduzidas na boca de um tal Sócrates, que em algumas épocas históricas foram aceitas e em outras rejeitadas.
Destes pressupostos, iniciam-se as argumentações de Tomás de Aquino na Suma contra os Gentios, enquanto ele tenta apropriar-se de Aristóteles para poder argumentar a respeito do seu deus próprio.
Eu levo em consideração a primeira parte do discurso de Tomás de Aquino neste capítulo, aquele em que ele usa o conceito do primeiro motor de Aristóteles para confirmar a existência de uma vontade criadora e, extensivamente, para tentar demonstrar a existência do deus-patrão dos cristãos.
Tomás de Aquino escreve no capítulo XIII do título "Argumentos para demonstrar a existência de deus":
"Uma vez esclarecido que não é em vão procurar demonstrar que deus existe, vamos nos referir aos argumentos com os quais o filósofos e os doutores da igreja católica demonstraram a existência de deus. Primeiramente vamos nos referir aos argumentos dos quais Aristóteles se serve para demonstrar que deus existe, procurando fazê-lo por dois caminhos a partir do movimento.
1) O primeiro caminho é o seguinte [cfr. Physic. VII, c.l]. - Tudo o que está em movimento é movido por outros. Portanto, vamos nos referir a alguma coisa em movimento, o Sol, é evidente. Logo, é posto em movimento por outros. Mas, o motor acima citado, ou ele mesmo está em movimento, ou está imóvel. Se não está em movimento chegamos àquilo que procurávamos, isto é, que é necessário admitir um motor imóvel, que nós chamamos de deus. Se ao invés ele mesmo está em movimento, é movimentado por um outro motor. Por isso, ou assim prosseguimos infinitamente, ou então chegar a um primeiro motor imóvel. Mas, não se pode prosseguir deste modo infinitamente. Por isso, é necessário admitir um primeiro motor imóvel.
Na prova supramencionada duas proposições têm necessidade de serem demonstradas: a) que "o que está em movimento deve ser movimentado por outros"; b) que "na série de motores movidos não podemos prosseguir ao infinito." "
A primeira afirmação não demonstrada e indemonstrável da qual Tomás de Aquino parte é a seguinte: "Tudo o que está em movimento é movido por outros". Uma realidade que afeta os sentidos. Tomás de Aquino nos traz um significado pescado da sua patologia própria. Tudo o que está em movimento está em movimento. Podemos trabalhar para individuar causas e direção do movimento, mas afirmar que o movimento é "movido por outros" significa retirar do objeto em movimento o seu motor com o qual responde às solicitações do mundo no qual se move.
É evidente, diz Tomás de Aquino, que o Sol se move. E para Tomás de Aquino parece evidente que "alguém move o sol". Eu não vejo essa evidência. Vejo o "nascer" e o "pôr do sol", mas não vejo os "outros que o movem". Portanto, poderia dizer com Tomás de Aquino que o sol se move, mas são mais reais as visões míticas do "carro do Sol de Febo", que por sua vez é o Sol, e não "os outros" que movem o Sol. Em Febo tenho um Sol que surge e se põe, nos "outros" tenho um Sol carente do seu aspecto divino, da sua "capacidade de mover-se" porque é atribuída a um sujeito externo. Tenho um Sol que não participa do nascimento da vida sobre este planeta.
Privar os objetos, que afetam os nossos sentidos, da sua vontade, com a qual respondem às solicitações do mundo em que vivem e se adaptam a esse mundo, e tornando-os, por sua vez, solicitações para outros que se adaptam, é uma grande "negação da evidência" que priva a ação do objeto de inteligência que a dirige.
A afirmação de Tomás de Aquino é arbitrária, subjetiva e patológica: qual é o motor que incita Tomás de Aquino a escrever essas asneiras? Tomás de Aquino "vem a ser movido por outros"? No que tange ao movimento do Sol reportemo-nos em algum século, depois de Tomás de Aquino, a um tal de Galileu Galilei, mas isto a nós no momento não interessa.
Com essa sua lógica prossegue-se em direção a um "hipotético motor imóvel" que se torna puro exercício de uma retórica ilusória.
Se um motor é imóvel não pode colocar nada em movimento porquanto, só pelo simples fato de pôr em movimento qualquer coisa já não seria mais um motor imóvel, mas um motor que age. Afirmar que existe um "motor imóvel" é pura prática de retórica que responde à busca da existência do deus-patrão dos cristãos.
Se queremos entrar na mesma lógica dos cristãos e para falarmos de um deus absoluto e criador, devemos constatar que um eventual deus que decide criar, ou que cria um universo em transformação, é "um deus em transformação" e não pode ser-lhe atribuído o adjetivo absoluto. Efetivamente, o absoluto imóvel seria diferente do absoluto que criou o mundo. Então, ou o primeiro não era absoluto ou o segundo é um absoluto. Deste modo, segue um discurso lógico-retórico no qual não quero penetrá-lo, de maneira alguma, em decorrência da sua absoluta distância de uma realidade vivida.
Neste ponto nada resta a Tomás de Aquino a não ser demonstrar que o que está em movimento é movido por outros usando as argumentações de Aristóteles que eu comento uma por uma:
A primeira é demonstrada pelo Filósofo com três argumentos:
1) Se uma coisa move a si mesma necessita que tenha em si própria o princípio do seu movimento: de outro modo está claro que seria movida por outros. Além disso é necessário que seja movida diretamente: e isto que seja movida por si mesma e não em relação a uma parte sua, como o animal que fosse movido em relação à movimentação do seu pé; de tal modo, de fato, seria movido por si e não por um dado sujeito, mas por uma de suas partes, e uma parte vira movida por outra. E finalmente um motor que movesse a si mesmo necessitaria que fosse divisível e tivesse partes diferentes; como é demonstrado no sexto livro da física (cc. 4, 10, nn. 3ss.).
Feitas tais premissas Aristóteles argumenta desse modo. Aquilo que, por hipótese, é dado como movido por si mesmo deve ser movido diretamente. Por isso, da desaceleração de uma de suas partes deveria seguir a desaceleração do todo. Uma vez que, se à desaceleração de uma parte sua acompánhasse o movimento de uma outra de suas partes, então nem por isso o todo seria colocado em movimento diretamente, mas somente aquela parte que se move enquanto as outras estão em repouso. Consequentemente, todavia, nenhuma coisa que é obrigada a ficar parada, ao ser estacionada por outra, está em condições de mover-se por si mesma: a dependência de um outro, na imobilidade, coincide com a dependência dele no movimento; em razão disso um ser móvel de tal gênero não pode mover-se sozinho. E, portanto, o que se pensava ser movido por si mesmo não se move deste modo. De modo que, é necessário que tudo o que está se movendo seja movido por outros.
Este argumento não encontra dificuldade no fato de o sujeito, na hipótese de mover-se com independência, não ter partes capazes de se encontrarem em condições de imobilidade; e que movimento e repouso não pertencem às partes senão de maneira indireta e acidental, segundo a crítica pouco benéfica de Avicena [cfr. Sufficientia, II, c.l].
Em razão disto, a força do argumento reside nisto, que se uma dada coisa se move por si própria diretamente, e autonomamente, não por força das suas partes, ela necessita que o seu movimento não dependa de nada; mas o mover-se de uma realidade divisível, como no restante do ser em si mesmo, depende necessariamente das suas partes; portanto, não pode se mover diretamente e por si mesma. Por isso a verdade para a conclusão desejada, não se torna necessário supor que uma parte do ser, que se move sozinho, realmente deva estar em repouso; mas basta que seja verdadeira essa condicional: <<se por si estaciona a parte>> , também o todo viria parar. E isto pode ser verdadeiro também se a premissa é impossível; como se se dissesse: <<se o homem fosse um asno, seria um ser irracional>>.
O que se entende com isso?
O que é uma unidade que se move por si mesma?
Quando posso chamar alguma coisa avaliando-a uma unidade?
Cada sujeito da Natureza, cada objeto cósmico em movimento, se move por si mesmo. Um animal se move por si próprio. A Terra se move por si. Uma árvores move-se por si mesma no ato do crescimento. O vento move a árvore quando sopra, mas as raízes que se aprofundam na terra são movidas pela árvore. O crescimento da criança até se tornar uma pessoa adulta, se move por si próprio. Nós respondemos às solicitações externas, mas ao mesmo tempo solicitamos os processos de adaptação do mundo que se move em si e por si mesmo. Cada objeto do mundo é detentor de vontade, e de energia, para mover-se por si mesmo com base nas condições na seu ser um objeto e sujeito; isto inclusive quando a objetividade solicita o movimento do objeto.
O que é o meu pé no meu movimento?
É um sujeito executor, mas eu movo o meu pé porque está em mim aquilo que produz o meu movimento. Ao mesmo tempo, o meu pé tem um movimento à parte: o que é o crescimento do meu pé desde quando saí da vagina da minha mãe até quando tornei-me um indivíduo adulto?
Por quê se deseja afirmar: "se uma determinada coisa move diretamente a si mesma, não em decorrência da força das suas partes, necessita que o seu movimento não dependa de nada" como se cada sujeito não se movesse sempre diretamente e por si mesmo?
Tanto Aristóteles como Platão, do mesmo modo Tomás de Aquino, projetam sobre o mundo a ideia do proprietário, do imperador, da aristocracia de elite, que determinam o movimento das sociedades e das nações. A sociedade dos filósofos de Platão, Alexandre Magno, o deus absoluto de Tomás de Aquino, buscam legitimar o seu próprio papel pelo fato de que "eles" "movem" as sociedades. Em síntese, justifica-se uma ideia social com argumentações patológicas que se afastam da experiência da realidade para demonstrar hierarquias sociais. Demonstrar que "por si cessam a parte, seria cessar também o todo", significa sustentar o absurdo de que o ato de um indivíduo dormir obriga a parar o seu aparato neurovegetativo. É algo que Tomás de Aquino, nas suas alucinações, arriscou, mas que não é verdadeiro. A não ser constranger a experiência da realidade a se sujeitar à sua patologia de dependência a um deus-patrão.
Eu me movo diretamente.
E me movo diretamente porque sou um corpo vivo que habita o mundo em que nasceu.
O fato do meu corpo caminhar, sonhar, comer, amar, trabalhar além das partes específicas do meu corpo que uso em tais atividades, representam sempre eu que caminho, sonho, me alimento, desejo, amo, trabalho. O fato de que, após tudo isto, após todas essas atividades, respondam às solicitações internas ou às solicitações externas, está a indicar sempre uma escolha minha para colocar-me em movimento ou de não colocar-me em movimento.
Eu sou um corpo vivente; não um cadáver!
2) Em segundo lugar, Aristóteles prossegue por indução [cfr. Phisic., VIII, c.4]. Tudo o que, de fato, é movido de maneira indireta [per accidens] não é movido por si mesmo. Uma vez que é movimentado por um outro sujeito. Assim, também, não se move por si mesmo tudo o que é movido pela violência: o que é muito evidente. E nem mesmo os seres dotados de movimento natural, como os animais, que são movidos pela alma. E nem as substâncias submetidas aos movimentos naturais, como os corpos pesados e leves. Uma vez que estes são movidos pela causa que os produz ou que lhes remove o obstáculo destes movimentos. Por conseguinte, tudo o que se move está em movimento, ou diretamente ou indiretamente. Mas todas as coisas que estão em movimento diretamente e por si mesmas, são movidas ou por violência ou por natureza. E, estas últimas coisas, ou desfrutam de um movimento espontâneo, como os animais; ou o movimento delas não é espontâneo, como no caso dos corpos pesados e leves. Portanto, tudo o que está em movimento é movido por outros.
Os Seres que se movem por si próprios não se movem por si mesmos, mas são movidos pela alma.
A afirmação é arriscada porque é pura opinião. Nós distinguimos aquilo que é animado do que não é animado somente porque admitimos que nós somos os modelos lançados sobre o mundo, quanto mais os Seres são semelhantes a nós do mesmo modo têm uma alma eficaz. Mas nós discernimos o corpo do cadáver porque o corpo manifesta sentimentos, uma vontade e uma inteligência, que são particulares do corpo. O corpo se move com movimento próprio e querer tirar-lhe aquilo que o anima é o mesmo que querer tirar de um homem a sua cabeça, as suas pernas, o seu coração ou o seu estômago. É óbvio que um corpo é tal porque completa-se com todas as suas partes. Retirada uma parte do corpo então tal corpo está mutilado, incompleto, até ao ponto de cessar de ser um corpo para transformar-se num cadáver.
Cada corpo do universo e da Natureza se move com um movimento próprio e ao se moverem, eles constroem as condições que induzem outros corpos a se moverem. A gravidade terrestre obriga os objetos a se moverem na sua direção: por violência. Também, no entanto, os pássaros se movem de modo diverso da direção da gravidade porque escolhem condições e movimentos diversos em relação à constante que é a gravidade terrestre. O fato de que são as coisas que condicionam os movimentos não significa que no interior desses condicionamentos nós não podemos escolher. Escolhemos porque nos transformamos e nos adaptamos às condições constantes da realidade na qual vivemos.
Como dizia Epicuro, tão desprezado por Tomás de Aquino, um átomo ao ser atraído cai de maneira linear, mas na sua caída pode desviar, mesmo que ligeiramente, da trajetória conforme a violência o obriga a seguir. Esse desvio diminuto constitui o exercício da sua vontade que manifesta a sua liberdade. E do mesmo modo é para as espécies da Natureza. Cada Ser é portador de um patrimônio genético, mas age e escolhe no ambiente em que ele vive e exerce a sua liberdade.
Esse exercício da sua liberdade constitui a força da adaptação subjetiva do indivíduo que conduz à diversificação das espécies.
Nada é movido por outros, mas tudo se move para a busca da liberdade particular. Precisamente porque nada é movido por outros, todos os sujeitos da objetividade têm em si mesmos as forças para moverem-se e responderem à ação de outras forças que os induzem ao movimento, e eles por sua vez estão induzindo outros a se moverem.
Não é Alexandre Magno que move os macedônios. Os macedônios se movem porque escolheram se movimentar, e mesmo que Alexandre Magno obrigou-os com ameaças, o movimento deles nasce da escolha particular deles.
3) Em terceiro lugar, ele traz o seguinte argumento [Physic., VIII, c.5, n. 8]. Nada pode estar em ação e em potencial em relação à mesma coisa. Portanto, tudo o que está em movimento enquanto se move está em potencial: uma vez que o movimento é o ato de um ente em potencial enquanto está em potencial [Physic., III, c. I, n.6]. Ao contrário aquilo que move, enquanto move está em ação; já que nenhuma coisa age, senão enquanto está em movimento. Nada, portanto, ao que se refere à mesma coisa, pode ser movente e movido. E, por esta razão, nada pode mover a si mesmo.
Note-se, porém, que Platão o qual afirmou universalmente cada movente está em movimento (cfr. Phaedrus, 24), usa do termo movimento no mais amplo sentido de Aristóteles. Eles, de fato, o usam em sentido próprio , isto é, como ato de um ente em potencial enquanto tal: no sentido de que não se pode atribuir às coisas visíveis e materiais, como ele declara no sexto livro da Física [loco cit]. Segundo Platão, ao contrário quem move a si mesmo não é um corpo: de fato, ele usava o termo movimento para qualquer operação, de modo a considerar-se movimento também o entender e o opinar: maneira de exprimir-se esta também na demonstração de Aristóteles no terceiro livro de A Alma [c.7, n.l]. Nesse sentido ele afirma que o primeiro motor move a si mesmo, porque ele mesmo se conhece e se ama. E isto não contrasta com as afirmações de Aristóteles: chegar de fato a um primeiro ser que move a si mesmo no sentido de Platão, não difere do tentar alcançar, com Aristóteles, uma primeira realidade do todo imóvel.'
Se houvesse um "primeiro motor" este moveria a si mesmo porque "deseja".
Seja como for, depende da coisa, de como sustentamos o termo genérico "motor primeiro".
Gaia é a energia vital; o primeiro tijolo da energia-matéria deste universo. Gaia é substância dos corpos que adquirem consciência, que vêm a ser. Como nas criações egípcias o Nun. As consciências surgem no Nun ou em Gaia, o Nun como Gaia, não é o "caos", mas é substância não consciente. Quando uma parte dessa substância não consciente se torna consciente, dizemos que um sujeito veio a ser. O sujeito individual, que veio a ser, agrega à energia vital Gaia, que forma o seu corpo, a sua consciência própria e a sua vontade individual, os seus escopos particulares, a sua inteligência própria: ele coloca em ação estratégias para poder expandir a si mesmo.
Em Madre Gaia todas as consciências possíveis que podem se formar do seu estado de inconsciência até à consciência universal, no fim dos tempos, estão em potencial. Tudo pode estar na transição do inconsciente ao consciente. Cada vez que uma consciência surge do inconsciente, cancela a possibilidade de emergir de outras consciências. As condições objetivas determinam o vir a ser das Autoconsciências. Mãe Gaia não é um motor é um potencial que se exprime através da vontade das autoconsciências que vêm a ser.
Cada consciência que nasce está potencialmente presente em Madre Gaia, o que é anulado com o nascimento da consciência, são as outras possíveis consciências que poderiam ter se formado com aquela energia-matéria, e que estavam potencialmente presentes. A possibilidade das outras consciências de virem a ser foi anulada por aquela consciência que veio a ser.
Por outro lado, o nascimento da Autoconsciência que exerce a sua vontade para se expandir em Gaia, constrói as condições para que outras consciências venham a ser.
Gaia é o primeiro tijolo da energia de todo o universo. A energia de qualquer modo é compreendida, percebida, catalogada, medida. Também a matéria é energia organizada de um certo modo e percebida da maneira como os Seres, que usam da matéria, tanto ao nascer quanto ao expandir-se.
Gaia é a energia vital, fundamento do universo. Energia vital porque tem a qualidade e a potencialidade, mesmo sendo inconsciente, para transformar-se, no caso de encontrar as condições oportunas, para a conscientização.
Gaia é, sob este aspecto, o primeiro motor imóvel da vida. Um motor imóvel porque não manifesta inteligência, discernimento, projeto ou escopo. Gaia não deseja. Gaia não ama. Gaia não determina nenhum futuro para nenhuma espécie e para nenhum ser.
Gaia é portadora dessa qualidade: a construção da consciência. A consciência, esta sim, vive para exercer a sua vontade e expandir-se na objetividade na qual veio a ser consciente de si mesma.
Gaia não determina o fim das transformações, não estabelece regras, não determina os critérios da virtude, nem ao menos está consciente de si mesma: não experimenta nem sentimentos do amor, nem do conhecimento. Todavia de Gaia surge o Intento. O Eros primordial é o Intento, o Fanete dos Órficos: aquele que se expressa, que se revela. Só que Eros, Fanes, não age por si próprio ou pelos seus projetos próprios: Fanes age nas Consciências e se transforma conforme a vontade das Consciências ou, se desejarem, refere-se aos Seres da Natureza, refere-se aos desejos de sobrevivência e de evolução dos Seres, no mundo em que nasceram.
Podemos falar de Gaia como o primeiro motor imóvel?
Porém, alude ao vir a ser das Consciências, apenas a esse movimento. Não é possível associar Gaia a outro movimento qualquer.
Gaia pode ser associada à ideia cristã?
Não! Porque o deus dos cristãos é um deus pessoal que age e intervém nas ações dos Seres Humanos, enquanto Gaia não almeja, não planeja, não tem escopo e não tem inteligência: é matéria-energia que permite o nascimento da vida!
Tomás de Aquino continua usando Aristóteles:
'Este último demonstra com três argumentos a validade daquela segunda afirmação, que <<na série de motores móveis não pode prosseguir até o infinito>>.
1) Eis o primeiro [cfr. Physic.; VII, loco cit.]. Se na série de motores movidos se prossegue ao infinito, essa serie infinita deve ser formada de corpos: já que tudo o que está sujeito ao movimento é divisível e corpóreo, como é demonstrado no sexto livro da física [c.4, n. 10]. Consequentemente, todos os corpos que se movem, porque são movidos, enquanto se movem sofrem o movimento. Mas, cada um desses sendo finito, se move num tempo finito. Por isso, todos aqueles corpos infinitos se moveriam num tempo finito. Mas isto é impossível. Portanto, é impossível que na série dos motores movidos há prosseguimento ao infinito. Demonstra, depois, como é impossível que os denominados seres infinitos se movam num tempo finito na etapa seguinte. Para o sujeito que se move e o que é movido há necessidade que coexistam conjuntamente: o que o demonstra examinando-se os vários tipos de movimento. Mas os corpos não podem encontrarem-se juntos, senão por continuidade ou por contato. E uma vez que esses motores movidos são corpos, como foi demonstrado, é necessário que formem um único complexo em movimento, ou por continuidade, ou por contato. E assim uma realidade infinita viria a mover-se num tempo finito. O que é impossível conforme é demonstrado no sexto livro da Física [c.7].'
Tomando o exemplo de Madre Gaia que me mencionei acima, o "motor imóvel" é isento de consciência; da sua substância são geradas consciências que constroem condições para que outras consciências venham a ser (outra matéria-energia se torne consciente), até à construção da Consciência universal no fim dos tempos em que toda a energia-matéria de Gaia se transforme numa única Consciência. O movimento é do inconsciente ao consciente.
Há um outro aspecto a ser considerado: quem nasce, origina-se. Não é gerado!
Nós estamos habituados a assumir as categorias de pensamento feitas precisamente pelo cristianismo e as desenvolvemos em construções lógicas de pensamento, sem levarmos em consideração o absurdo que tais categorias trazem à tona. Se meu pai e minha mãe copulam nada mais estão fazendo senão construir as condições para que eu venha a ser. Pelas condições que essas consciências construíram eu posso germinar. Mas eles não me geraram, apenas e tão-somente construíram as condições. Destas condições eu germino, venho a ser. Eles colocaram em ordem as condições, mas sou eu quem colocou em movimento a energia vital que me formou. Meu pai e minha mãe buscavam o prazer, o bem-estar deles, eu desfrutei da condição que eles criaram para o vir a ser.
As condições da objetividade, posteriormente, determinam o meu crescimento, a minha qualidade, a espécie à qual pertenço. Meu pai e minha mãe não colocam em movimento o meu nascimento, mas eu sou aquele que põe em movimento, em ação, o meu nascimento devido às condições construídas por eles ao copularem.
Eu sou o deus que constrói a si mesmo, e que põe em movimento a sequência de possibilidades próprias. Isto vale para cada Ser, cada indivíduo, da Natureza, qualquer que seja a espécie à qual pertence.
Ao crescer e ao desenvolver-me, então um infinito número de Consciências formam a si mesmas e são, hoje sabemos disso, vírus, bactérias e células que, ao formarem a minha estrutura física, constroem e alimentam a consciência deles.
Uma consciência sempre se move em um tempo finito. A quantidade de transformações devida ao acúmulo de experiência, com o uso da vontade própria, leva necessariamente aquela autoconsciência a morrer: a explodir. Assim, o feto no ventre da mãe, se move num tempo finito, num espaço delimitado.
A sua morte pode causar, pode levar, ao seu nascimento em um mundo diverso e com diversas características, Ser Humano, Ser Animal ou Ser Vegetal, mas inclusive no novo mundo o tempo e o espaço, têm uma realidade finita. Depois de um acúmulo de conhecimento segue-se, para os Seres da Natureza, a morte (ou se preferirem pelo acúmulo de quantidade, na vida, gera-se um qualidade diversa).
Se ao invés de falar de consciência, falarmos de corpos, então não é verdade que os corpos " Mas os corpos não podem se encontrar juntos, senão por continuidade ou por contato." , mas também o conjunto: perguntem à minha flora bactérica. Ou aos milhões de vírus dentro do meu corpo ou às mitocôndrias que formam a minha estrutura física. Se eu sei que Tomás de Aquino não era conhecedor de tudo isto, mas sempre havia a teoria atômica de Lucrécio e o seu exemplo com o rebanho de ovelhas visto de longe.
2) O segundo argumento para provar a mesma afirmação é o que se segue [cfr. Physic., VIII, c.5]. Em uma série sucessiva de motores, que por sua vez são movidos, verifica-se necessariamente que sendo eliminado o primeiro, então nenhum dos outros motores sucessivos pode mover, ou ser movido: já que o primeiro é a causa do movimento de todos os outros. Portanto, se a série disposta dos motores fosse infinita, não existiria um primeiro motor, mas todos seriam motores intermediários. Por isso, nenhum dos motores referidos poderia estar em movimento, E, deste modo, no mundo nada poderia estar em movimento.'
Se eu penso na vida, das espécies da Natureza, pelo ponto de vista cristão (e de quem as precedeu com a formação desse conceito) penso no "motor avô" que coloca em movimento o "motor genitores", que por sua vez coloca em movimento "o motor filhos".
Se eu penso na vida, das espécies da Natureza, conforme às Antigas religiões, penso nos avós que vieram a ser transformando a energia-matéria de Gaia em suas Consciências. Os "avós que copulam e constroem as condições", os genitores que vêm a ser transformando a energia-matéria de Gaia em Consciência. Os "genitores que copulam e constroem as condições" das quais surgem os "filhos".
Se eu penso nos corpos físicos como sendo cadáveres, aos quais é concedida a alma, construo em mim uma ideia do mundo. Se eu penso nos corpos físicos como sendo realmente corpos e, enquanto tais, portadores de inteligência, vontade, sentimento, capacidade para planejar e escopo, num vínculo de impulsos na objetividade, em que vieram a ser, eis que tenho uma outra ideia do mundo (e de mim mesmo!)
A qualidade de Gaia é a causa do vir a ser das consciências, qualquer que seja a sua espécie ou a sua natureza. Só que Gaia não escolhe e não projeta: existe.
Gaia é o UNO que sem discernimento de si mesma ocupa todo o espaço do qual estamos capacitados a observar e pensar.
Todas as consciências vêm a ser pela presença de Gaia; porque são fragmentos de Gaia.
3) O terceiro argumento coincide com o precedente, mas desenvolve-se em ordem inversa, começando do alto. E é o seguinte. Aquilo que move como instrumento não pode mover senão por força de um agente principal, que move diretamente. Mas se na série de motores movidos houvesse prosseguimento ao infinito, todos esses motores não seriam movidos senão como instrumentos: já que não seriam a não ser motores movidos por outros, sem um agente principal. E, portanto, nada se moveria.
Temos assim a demonstração de ambas as afirmações, pressupostas no primeiro caminho seguido por Aristóteles para concluir que existe <<um motor primeiro imóvel>>.'
Enfim, Tomás de Aquino, divulga a sua opinião para demonstração.
Ele quer que o seu deus mova o universo e portanto afirma: "Aquilo que move, como instrumento, não pode mover senão por força de um agente principal..."
E a última questão é esta: o universo tem um deus-patrão externo ao universo que o move (talvez com base em um esboço ou com uma finalidade) ou universo se move em si e por si? Que significa: é o deus-patrão que faz nascer as consciências ou as consciências surgem por si mesmas sem o deus-patrão?
Tomás de Aquino conclui o capítulo XIII com o título "Argumentos para demonstrar a existência de deus" com um "quarto caminho", questionando os escritos de Aristóteles com os quais justifica o seu delírio patológico pela dependência do deus-patrão:
'Dos escritos de Aristóteles se pode extrair uma outra demonstração. Já que no segundo livro da metafísica [I, c. I, n.5] ele demonstra que as coisas sumamente verdadeiras são também sumamente entes. E no quarto livro [c.4, nn. 27, 28] demonstra que existe um ente sumamente verdadeiro, pelo fato de que de duas coisas falsas veremos que uma é mais falsa que a outra, e portanto uma deve ser mais verdadeira do que a outra. Mas isto é concebível segundo a maior proximidade do que é verdadeiro de modo supremo e absoluto. Disto se pode concluir que existe algo que é sumamente ente. E a ele nós o chamamos deus.'
Em síntese diz aquilo que dirá Kant, cerca de 500 anos depois: não existem provas que demonstrem a existência do deus-patrão e criador, mas do momento que eu quero acreditar nele, então eu concluo: "...que existe algo que é sumamente ente. E a isto nós o chamamos de deus." Com a mesma lógica podia muito bem afirmar: "no momento que eu como queijo, concluo que deus existe". Que duas coisas são falsas é um dado de fato. Que uma coisa é mais falsa do que a outra, pode ser. Mas eu sou o juiz daquilo que é falso. E há uma proximidade do meu juízo, do meu pensamento, da minha capacidade de analisar, da minha opinião, que determina aquilo que é mais falso: eu sou a medida daquilo que é verdadeiro ou daquilo que é falso.
Por isso, deduzir de algo que eu existo é apenas um comportamento infantil, do mesmo modo como a existência de um deus criador.
Como é infantil (e ridículo) Tomás de Aquino quando fala da quinta via que o seu deus demonstra:
'É impossível que várias coisas entre elas contrárias ou dissonantes se combinem em uma única ordem, ou sempre ou na maior parte dos casos, sem a direção [ou governo] de alguém que confira a todas as coisas singulares a propensão a um determinado fim. Ora, no mundo nós vemos coisas de natureza diversa que concorrem a uma única ordem, não raramente ou por acaso, mas sempre, ou na maior parte dos casos. Portanto, deve haver alguém que mediante a providência governe o mundo. E este nós o chamamos deus.'
Tomás de Aquino projeta a sua incapacidade de viver no mundo com todos os sujeitos presentes nesse mundo: projeta a sua patologia como se todas as pessoas fossem doentes patologicamente ou, o que é pior, como se a Natureza e os Seres da Natureza não se alimentassem pela vontade própria. Como se não colocam em ação as suas adaptações subjetivas diante das variáveis objetivas encontradas. Como se todos não fossem impulsionados pela força do fazer que os incita a expandir-se no mundo e como, as adaptações de cada sujeito, fazem mover o universo inteiro em direção à expansão.
O patrão que diz aos seus escravos: sem mim vocês não conseguem viver por si mesmos dentro de um universo, que vive por si e em função de si mesmo. Eu o patrão, o deus-patrão, eu doo o fim e o motivo da miserável existência de vocês!
Esta incapacidade para a existência, construída por Tomás de Aquino, mediante a educação que ele recebeu, é deste modo lançada no mundo. Ele não pode pensar no mundo a não ser dentro da sua incapacidade individual. Mais ou menos como Paulo de Tarso que elaborou o seu pensamento em torno da sua santidade oriunda da sua impotência sexual: ele era sexualmente impotente; a sua impotência foi a bênção vinda do seu deus; todo o seu pensamento religioso está dirigido à imposição da impotência sexual às pessoas, por intermédio do dever à castidade.
Somente Tomás de Aquino, dentro do seu delírio patológico, necessita de um patrão com o qual possa propagar o seu delírio. Ele imagina a si próprio como sendo o braço direito do governador do universo; sem o governador do universo ele se sentiria perdido. A pior coisa é quando se impõe o desespero às crianças obrigando-as a ansiar por um patrão que as libere da angústia que, precisamente foi gerada pela imposição dessa ideia de um deus-patrão. A ideia de um patrão muitíssimo potente, talvez o deus criador, que as regate da violência que os torturadores infligiram nelas tornando-as incapazes para poderem habitar o mundo.
Marghera, 29 de julho de 2010
A tradução foi publicada 28 de abril de 2018
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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O mal absoluto é aquela ideologia que destrói o futuro das pessoas obrigando-as a se submeterem, com todo o coração e "toda a alma". O mal absoluto está contido na bíblia cristã, nos evangelhos cristãos, nos textos dos hebreus, no Alcorão e nos cânones budistas.