Ares e Afrodite
na Teogonia de Hesíodo

A Religião Pagã fala da realidade dos Deuses

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

De: CLAUDIO SIMEONI em seu LIVRO: * A ESTIRPE DOS TITÃS *

A Religião Pagã e a Teogonia de Hesíodo

 

Ares de Afrodite: Fobos, Deimos e Harmonia

Em Hesíodo Afrodite é companheira de Ares. Em outros Mitos, Afrodite é companheira de Hefesto e de Ares.

Afrodite é a emoção que nasce do pênis de Urano Estrelado, Ares é a contradição como método de transformação dos Seres na Natureza. A contradição segue o intento de Afrodite.

Dois Deuses em proteção do vir a ser dos Seres da Natureza e como garantia do vir a ser da Natureza: de Hera.

Hesíodo escreve na Teogonia traduzida por Romagnoli:

- A Marte a Deusa de Citera deu Medo e Terror,
terríveis, que junto com Marte derrubam as fortalezas,
dividem , na guerra cruel, as hostes,
e Harmonia, que tornou-se consorte do magnânimo Cadmo. -

Hesíodo, Teogonia 933 - 937

De Ares e Afrodite nascem três filhos que sempre os acompanham: Harmonia, Terror (Deimos) e Medo (Fobos).

Tratam-se das condições psico-emotivas vividas pelo sujeito enquanto ele enfrenta as oposições da vida: temor, apreensão, medo que o prepara à propensão de uma nova harmonia.

Antes que Heráclito pensasse nas soluções das contradições entre Disputa Furiosa e Amizade ou os Órficos elaborassem o conceito de solução da desavença como Harmonia e Peitó (Harmonia e Persuasão), a Teogonia de Hesíodo nos fala das condições divinas que o indivíduo atravessa como condições psíquicas que se manifestam dentro da contradição que ele vive e como participa dela.

Enquanto os filósofos escrutam o desenrolar da desavença como espectadores externos a ela, Hesíodo, através dos Deuses, enxerga a desavença por dentro dela, por parte do indivíduo que habita o mundo e que afronta as desavenças da existência dele. Em Hesíodo é o deus que vive e enfrenta a vida, nos filósofos a vida é vista externamente, do ponto de vista que se tornará o ponto de vista do deus-patrão.

Ares é uma relação (uma desavença), Afrodite é o divino da relação. Um representa a ação e a outra representa o conteúdo emotivo da ação.

Afrodite quando explode nos indivíduos torna-se emoção que rebela-se perturbando a consciência racional do indivíduo. Não existe racionalidade ou pensamento que possa, de alguma maneira, colocar rédeas nesse insurgir-se da emoção.

A emoção arrasta concomitantemente cada prejuízo, cada análise, cada lógica que a razão coloca em defesa do Ser que a manifesta. A emoção quando se apodera do indivíduo transforma-o, desestrutura e desarticula a consciência dele, e assim supera cada limite, cada tabu impostos pela razão. O efeito das emoções é mais evidente nas doenças mentais onde, com frequência, os tabus são varridos pelas manifestações patológicas do indivíduo e o que resta no indivíduo é um misto de Afrodite/Ares sem os freios racionais inibidores que permitem as relações com o ambiente social. Por outro lado, outros tipos de doenças psíquicas são manifestações de violência que Afrodite e Ares, no indivíduo, sofreram, para que não se manifestem nas relações do indivíduo no ambiente social.

As manifestações de Afrodite e Ares, no indivíduo, modificam a sua razão de uma maneira profunda. Depois, talvez com o tempo, ao cessar a emoção, o condicionamento educacional imposto tenta retomar a sua primazia, mas nunca mais será como antes. Não existe um retorno ao antes, mas existe uma transformação do indivíduo em uma recomposição da razão que é diferente do que era anteriormente.

A emoção e a emoção amorosa, são as mais envolventes, pois impelem à cada certeza racional do indivíduo, à cada estratégia, cada inteligência concernente à ideia apriorística do mundo e da vida.

Quando as oposições da existência assumem caracteres destrutivos, as Eríneas, irmãs de Afrodite, sob a forma de Ares, surgem para salvaguardarem o vir a ser do indivíduo. Ares se libera e as Eríneas alimentam serpentes da vida que ficam prontas para afrontarem cada refúgio da existência para que se abra uma passagem entre as condições hostis. Cada pensamento e cada ideia a priori são perturbados. Cada inteligência, cada esquema, escopo e intento são demolidos para darem lugar à fúria devastadora, a única que pode permitir ao indivíduo sair da situação em que se encontra.

Se Afrodite e Ares possam parecer à primeira vista dois opostos, na realidade são os mesmos. Ares pertence ao plano físico. É corpo que vive na desavença; corpo que habita o mundo nas oposições racionais porquê nasceu de Hera, o Ser Natureza. Afrodite é o poder da emoção que aparece em cada ambiente, em cada lugar, em cada corpo assim como em cada ação. Afrodite destaca-se de Urano Estrelado, se manifesta em cada sujeito no qual encontramos a vida. Afrodite é filha de Urano Estrelado, é a emoção que impele cada divino impulsionando-o a dilatar-se em cada ângulo da própria existência. É o crescimento de cada divino que está entre os Seres da Natureza. Afrodite tem na atividade da expressão da Energia Sexual, na energia da vida, o fulcro onde se manifesta a emoção.

À vista disto, no momento em que podemos ver Ares representar a sobrevivência do Ser Físico numa luta cega para a persistência no seu presente, com o mister de fundar o seu futuro específico (encontraremos neste aspecto, na mitologia, este "deus da guerra" sendo vencido por outros sujeitos que, mesmo manifestando Ares, têm a capacidade de usarem a inteligência para planejarem), ao mesmo tempo podemos ver Afrodite partícipe da sobrevivência do Ser Psíquico, o deus que cresce dentro de cada Ser da Natureza, impedindo desta maneira a razão e o físico bloquearem-no em suas transformações.

Em cada relação divina os sujeitos participantes da relação colocam em evidência aspectos que naquele momento são principais, e que qualificam os indivíduos em si mesmos e são em todos os aspectos atribuídos à Afrodite.

De Ares e Afrodite surgem dois filhos e são eles Deimos o terror, e Fobos o medo. Estes dois filhos se manifestam de maneira diferente e acompanham Ares e Afrodite. No primeiro caso é o terror da destruição, seja de quem o conduz como de quem o padece; no primeiro caso é o medo da qualidade e da quantidade da transformação que a superação da desavença comporta. Eles acompanham cada desacordo. Eles se exprimem nos desacordos da existência, de um modo tão violento nas desavenças, que a resolução é por intermédio da guerra. No segundo caso, no caso da manifestação de Afrodite, o terror e o medo são relativos às contradições que o indivíduo vive nas suas emoções e nas suas percepções que, mesmo se, não sendo fisicamente mensuráveis ou consideráveis, são da mesma forma violentos e destrutivos. A agressividade de Afrodite está na destruição do equilíbrio psico-emotivo, equilíbrio esse alcançado pelo sujeito, um equilíbrio que é destruído com o insurgir-se da emoção vivida pelo sujeito na fase de recomposição daquilo que foi decomposto na estrutura emotiva, com o Medo e o Terror, e à vista disso o sujeito estará consciente de que tudo não será como antes.

Deste modo, Deimos e Fobos acompanham tanto Ares como Afrodite e são delimitados e bloqueados pelos Seres da Natureza que, ainda que exprimindo-os, desenvolvem a inteligência para projetar alimentando o ser Apolo deles, o ser Atena deles e praticando a Deméter que, dentro deles, incita para alimentarem as suas transformações.

A solução das desavenças manifestadas por Ares e Afrodite conduz à filha de Ares e Afrodite: Harmonia!

O que significa resolver uma contradição? Significa superar um estado conflitante modificando os sujeitos que participavam desse estado. Significa remover as tensões que levavam a explodir e a radicalizar a contradição. Significa modificar as partes que participam da contradição e o ambiente no qual tal modificação aconteceu. Uma modificação que não é necessariamente um ganho, salvo o ganho de experiência, mas seguramente uma mudança e uma transformação da qual se abrem novas possibilidades. Variar o estado presente, resolver a desavença, conduz à Harmonia, ao nascimento de um equilíbrio novo e diferente, ao acordo, a tudo o que consente caminhar juntos ou de construir situações nas quais poder expandir-se. Que uma das partes da relação sucumba é irrelevante. A desavença resolve-se sempre na direção da satisfação das necessidades e dos desejos. Sucumbir, na Natureza, é Harmonia entre as espécies: cada um tem as suas possibilidades próprias. Não se trata de possibilidades de eternidade, mas de possibilidades através das quais construir o corpo luminoso individual. A vida sempre vence; apesar de mil fracassos e mil devastações! Se a vida vem a ser dissipada porquê as forças da devastação eram muito grandes, ou a vida se manifestava dentro de entes e propósitos inadequados, a contradição não está resolvida. A sua solução foi procrastinada. Outros choques, outras devastações, outros saques até que a vida não venha a se impor novamente: de qualquer modo a vida vence sempre.

Hera continua o seu caminho na eternidade.

Ares e Afrodite, sob essa relação, tornam-se as forças universais para a construção do futuro entre os Seres da Natureza. Estão na vigilância dos seus processos de construção e agem também na ausência da inteligência de planejamento. O nous, entendido como a capacidade do Ser para esboçar a sua própria vida, em função do seu intento e escopos particulares, conduz o indivíduo a controlar a manifestação de Ares e Afrodite dentro dele, porquê ele a Ares e à Afrodite acrescenta primeiramente a sua vontade e capacidade próprias para projetar a sua vida aos poucos, à medida que ele cresce na objetividade em que ele vive. O Ser da Natureza concede consciência e discernimento a Ares que, de dentro dele, o incita para aflorar, crescer e exprimir-se em sua vida.

*NOTA*: As citações da Teogonia de Hesíodo são extraídas da tradução de Ettore Romagnoli "Hesíodo os poemas", Edição de Nicola Zanichelli, Bolonha 1929

Nota através da transmissão radiofônica do ano 2000 - início da revisão em 18 de setembro de 2014

Revisão

Marghera, 16 de novembro de 2014

A tradução foi publicada 10 de maio de 2016

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

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Claudio Simeoni

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Guardião do Anticristo

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A análise da Teogonia de Hesíodo

A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.