A Titanomaquia
na Teogonia de Hesíodo

A Religião Pagã fala da realidade dos Deuses

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

De: CLAUDIO SIMEONI em seu LIVRO: * A ESTIRPE DOS TITÃS *

A Religião Pagã e a Teogonia de Hesíodo

 

A Titanomaquia

Os Hecatônquiros ou Centimanos com cinquenta cabeças e cem braços, filhos de Gaia e Urano Estrelado, são os guerreiros que conduzem à vitória Zeus contra os Titãs. Urano Estrelado os encerra no Tátaro e do Tártaro ele saíram combatendo a Titanomaquia a favor de Zeus.

De quantos modos as emoções podem ser propagadas? O de Zeus é o tempo da forma e da quantidade, e os Hecatônquiros alimentaram a forma e a quantidade para que as emoções se propagassem e novas Autoconsciências se construíssem, novos Deuses.

Hesíodo escreve na Teogonia, traduzida por Romagnoli:

- Portanto, com Briareu, com Coto, com Giges, inicialmente
o pai ardeu em cólera, apertou-os em fortes correntes,
temendo-lhes pela grandeza, pela força descomunal, pelo aspecto:
a todos espremeu sob a terra em amplas extensões.
e permaneceram debaixo da terra, entre tormentos e aflições;
em uma vastidão limitada, do mundo, em distantes exílios,
torturados por muito tempo, com desespero funesto no coração.
Mas depois, por Cronos, o filho, com outros divinizados do Olimpo
filhos de Rea de belos cabelos, que por Cronos se ligou em amor,
pelas advertências de Gea, novamente os conduziu à luz. -

Hesíodo, Teogonia 617 - 626

É Gaia que socorre Zeus. É a necessidade do corpo habitado que sugere a Zeus para arrastar nos seus projetos as emoções de Urano Estrelado, nas figuras dos Centimano.

Da matéria, Gaia, podem nascer um número infinito de consciências. Zeus não está em contraposição com os Titãs que construíram o mundo do tempo, e nem mesmo com o mundo emotivo de Urano Estrelado; ele deve recortar o seu próprio mundo no qual propagar as emoções de Urano Estrelado e o tempo do Titãs.

Para que serve a Titanomaquia?

Para levantarem portas de bronze que separem o mundo da razão do mundo do tempo. O tempo intervém no mundo da razão como transformação. Mudança de um presente após outro presente que se constrói por meio da ação do sujeito. Enquanto no mundo do tempo a ação é o sujeito que se manifesta em um presente em que as ações são adicionadas às ações; no mundo da razão o tempo não é substância, mas modificação da substância, dos corpos que agem. No mundo do tempo, o tempo não passa e as ações são o corpo; no mundo da razão o tempo passa e o corpo, que pratica a ação, modifica a si mesmo portanto o seu presente.

O fundamento destes dois mundos é dado pelo mundo emotivo dos quais surgem os Centimanos, os Hecatônquiros, que libertados por Zeus ajudam Zeus a separar o tempo, da descrição da razão.

Hesíodo escreve na Teogonia, traduzida por Romagnoli:

- Ponto por ponto aquela predisse os futuros eventos:
que com aqueles teria a vitoria e glória brilhante.
que já de há longo tempo combatiam, com penas, com tormentos,
um de frente aos outros, no choque de golpes cruéis,
os Deuses Titãs, e todos os Númens que nasceram de Cronos:
dos cumes rachados do Alcantil os Titãs ameaçados,
e dos vértices do Olimpo os Númens os principais de bens,
dos quais deu à luz Rea da bela cabeleira, a esposa de Cronos.
De frente uns dos outros, com graves índoles de fúria,
estavam sem repouso, por dez anos contínuos em luta;
nem nunca tinha fim o duro combate, jamais tinha fim,
por estes ou por aqueles: igual era a sorte no desenrolar a guerra.
Portanto, quando entre eles houve proposta de dever por cada coisa,
o néctar e a ambrósia dos quais se alimentam os mesmos Celestes,
e a todos no íntimo o coração intrépido inflamou-se,
tais palavras disse o pai dos homens e do Númens:
"Dai-me ouvidos, ó filhos refulgentes de Urano e da Terra,
para que vos diga aquilo que o coração intimamente me dita.
De há muito tempo estamos combatendo cara à cara
para o poder, para a vitoria, os dias inteiros,
nós, os nascidos de Cronos, e dos Númens Titãs.
Portanto, vós gigantesco vigor, mãos invencíveis,
contra os Titãs, no duelo funesto mostrastes,
gratos pela nossa amizade, pela qual, depois de tantas aflições,
das duras correntes, à luz novamente voltastes,
da bruma escura terrestre, em razão do nosso querer."
Assim disse: assim respondeu o irrepreensível Coto:
"Não nos é desconhecido o quanto dizes, ó divino: sabemos,
dos de nós sobre os outros com bom senso e de coração,
que tu realisticamente defende, os Beatos Imortais.
E agora, mudada a sorte, novamente das duras correntes,
filho de Cronos, aqui, contra todas as esperanças chegamos.
Com coração inflexível, portanto, com uma resolução sagaz,
defenderemos o vosso poder na guerra cruel,
lutando com Titãs, no duro furor dos combates".
Disse; e os Númens, doadores de bens, aprovaram, ao ouvir
aquelas palavras; e muito mais do que antes a contenda era desejada,
pelo coração de cada um; e todos provocaram o combate cruel,
aqueles que, de fêmea e de macho, Titãs, e pequenos filhos de Cronos,
e aqueles que Giove extraíra do Érebo à luz,
terríveis, impetuosos, dotados de imenso vigor:
pois deles cem mãos saltavam para fora dos ombros,
igualmente em todos eles, sobre os ombros de cada um
cinquenta cabeças cresciam sobre os esplêndidos membros.-

Hesíodo, Teogonia 627 - 673

O pacto foi feito entre os filhos de Urano Estrelado e Gaia e Zeus: o que seria construído nunca poderia ser feito a não ser na estrutura emotiva, que em todos os viventes é procedente de Urano Estrelado.

A razão sozinha nunca teria superado o tempo, mas a emoção que vive no tempo e que a ele precedeu, pode exprimir-se tando no tempo como na razão, na racionalidade. A racionalidade, sem emoção, é mecanicismo sem conteúdo. É matéria sem vida. É existência sem consciência.

A ação dos Hecatônquiros surge como o enxerto da razão de Zeus na emoção. Os Hecatônquiros, filhos de Urano Estrelado, emoções de cinquenta cabeças e dos cem braços, são propagadas na racionalidade da descrição do mundo, essa descrição assume cinquenta aspectos e é manifestada por cem ações.

Deste modo, Zeus recortou do mundo do tempo o mundo da racionalidade, aprisionando os Titãs no Tártaro, onde estão como sentinelas os próprios Hecatônquiros, os Centimanos.

Hesíodo escreve na Teogonia, traduzida por Romagnoli:

- E aos Titãs
colocaram-se frente a frente no território da dura batalha,
comprimindo nas mãos maciças grandes clavas das montanhas.
Da outra parte, os Titãs velozes formavam as fileiras,
e uns e outros ostentavam o poder do braço,
com grande façanha. Ressoou terrível a confusão imensa,
a terra repercutiu de modo incomensurável, agitado gemeu o amplo céu,
pelas raízes foi agitado o Olimpo infinito,
sob a fúria dos Númens, do Tártaro às profundidades obscuras
acrescentou o horrível abalo, desde os pés o agudo estrépito
e do tumulto, que nunca cessava, dos golpes impetuosos.
Desse modo, uns sobre os outros lançavam golpes dolorosos;
e chegavam ao céu os gritos destes e daqueles,
e uns sobre os outros desabavam com grande ímpeto.
E Giove não cessou a sua fúria, mas de súbito o seu coração
encheu-se de uma negra indignação; e com toda a sua força
demonstrou: abaixo do Olimpo e do céu, a um só tempo,
sem jamais fazer ostentação, lançava relâmpagos; e dos raios somados à fúria
juntamente, com setas", das mãos valorosas voavam copiosamente, o fogo
celeste, que se inflamava em círculo.
Arsa ressoava ao redor da Terra doadora de vida,
alto vociferava na muralha do fogo, a selva infinita;
em toda a Terra, do Oceano um turbilhão tumultuava,
o não semeado Ponto: envolvia os Titãs terrestres
névoa incandescente, no éter divino uma labareda
se difundia: pelo tanto que enérgicas as suas pupilas
o enceguecer pelo frêmito dos relâmpagos e dos raios, ardiam.
No Caos se misturava um incêndio infinito: parecia,
se as pupilas vissem, os ouvidos se oferecessem a escutarem,
como se, embaixo a Terra, acima no alto o ilimitado Céu
se misturassem: de tal modo soava tremendo o estampido:
porquê abaixo se precipitava aquilo, pois do alto o Céu estremecia.-

Hesíodo, Teogonia 674 - 704

O combate entre Zeus, que recorta o espaço aonde pode germinar a Natureza, e o tempo como mundo onde a ação é objeto representado, é um combate que impressiona todo o planeta. O planeta está organizando a sua própria matéria para que se torne matéria viva. Tudo se transforma numa apoteose de um presente, que vem a ser modificado por intervenções violentas; são as intervenções violentas, com as quais se desequilibra um mundo infecundo, que equilibram novamente o mundo fazendo-o tornar-se um mundo fecundo.

Zeus, a atmosfera, modifica o mundo, mas os Hecatônquiros introduzem no mundo a emoção, filha de Urano Estrelado.

A emoção deve colocar em movimento a vida, fazer nascer a Autoconsciência, enquanto Zeus construía as condições para que as autoconsciências nascessem na forma.

Hesíodo escreve na Teogonia, traduzida por Romagnoli:

- Tal estremecimento surgia do choque de guerra do Númens.
E eles desencadeavam os ventos do terremoto e as nuvens de pó,
com o trovão, com os relâmpagos, com brilhos indistintos,
dardos do sacro Giove, traziam insurreição e gritaria.
No meio de uns e de outros: surgia clamor incessante
pela terrível batalha, dela aparece o horror.
De um lado, afinal, dobrou-se a luta: que antes em situação de igualdade
estavam uns e outros frente a frente no desacordo aguerrido.
Mas entre as primeiras fileiras manifestaram estar a batalha lancinante
Coto com Briareu, com Giges nunca jamais satisfeitos com a guerra,
que por volta de trezentas rochas lançavam com punhos vigorosos,
continuada e excessivamente a cobrirem os Titãs com a aflição
dos golpes; e afinal sob a Terra numa ampla região
para baixo lhe expulsaram, forçando-os à correntes penosas -
domando-os com os braços, porquanto fortíssimos - portanto
embaixo da Terra, no mesmo tanto que o céu está longe da terra,
assim da terra está longe o Tártaro coberto de sombras.
Portanto, por nove dias e noves noites caindo, uma cobertura de bronze
abaixo da Terra, estaria unida ao décimo do Tártaro.
Tudo em volta é enclausurado por um recinto de bronze; e a noite
em três contornos se expande na sua abertura: naquele lugar embaixo
estão da Terra, do Mar que não tem como averiguar, as origens.
Vivem imersos os Titãs nesta escuridão,
escondidos, pelo querer de Giove, que ajunta as nuvens,
numa árida região, aonde estão os confins da vasta terra,
Nem têm saída daqui, porque as portas de bronze lhes impôs
Poseidon, e ao redor os cerca uma grande muralha.
E aqui com eles habitam Giges, com Coto, com Briareu,
magnânimo, guardiães fiéis, de Giove protegido com o seu peculiar Escudo.-

Hesíodo, Teogonia 705 - 735

Acorrentar os Titãs significava consentir à vida da Natureza poder construir-se executando as suas estratégias de existência, que lhes são exclusivas, à disposição do mundo da ação que, mantendo cada ação como objeto num presente de ações que se sedimentam, teria impedido, se assim não fosse, o desenvolvimento da vida na descrição e na racionalidade; no mundo de Zeus.

Todavia, o Tártaro constitui as profundezas da estrutura emotiva de cada Ser nascido na Natureza e, nessas profundezas os Titãs estão sempre presentes, como está presente dentro de nós o mundo do tempo o qual podemos conquistar, mas dentro qual não podemos entrar.

A nossa estrutura emotiva sustentada pelos Hecatônquiros mantém o mundo do tempo longe da nossa percepção, através da propagação emotiva nas relações dentro da Natureza, com as quais sedimentamos experiência emocional; quanto mais experiência emocional acumulamos e mais reforçamos os Hecatônquiros, dentro de nós, menor é a possibilidade do tempo, como objetividade existencial, se apropriar da nossa existência bloqueando-nos naquilo que à razão aparece como um presente eterno, no qual as ações se sedimentam: naquele presente todas as ações do universo agem sobre nós.

Não que o mundo do tempo não aja sobre nós, tendo-o tanto dentro de nós como em possibilidade de percepção e interpretação do mundo, mas os Hecatônquiros criam a separação por meio de uma barreira emotiva que naquele mundo não poderia se exprimir, porque nós não estamos preparados para enfrentá-lo completamente. Nós somos filhos das condições construídas por Zeus.

*NOTA*: As citações da Teogonia de Hesíodo são extraídas da tradução de Ettore Romagnoli "Hesíodo os poemas", Edição de Nicola Zanichelli, Bolonha 1929.

Nota através da radiodifusão do ano 2000 - início da revisão em 18 de setembro de 2014

Revisão

Marghera, 21 de outubro de 2014

A tradução foi publicada 02 de janeiro de 2016

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

Home page Teogonia

    

Home Page Deuses

Claudio Simeoni

Mecânico

Aprendiz Stregone

Guardião do Anticristo

Membro fundador da Federação Pagã

Piaz.le Parmesan, 8

30175 - Marghera - Venezia - Italy

Tel. 3277862784

e-mail: claudiosimeoni@libero.it

--

A análise da Teogonia de Hesíodo

A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.