A perda dos genitais de Urano representa a perda da unidade de um percurso universal, através do qual construir a Autoconsciência, transformando a Energia Vital incônscia em Cônscia, que dando continuidade às suas próprias mudanças, reconstrói a Autoconsciência Gaia no final dos tempos. Outros sujeitos, outras experiências, outras emoções se agregarão às experiências, aos sujeitos e às emoções que germinaram e germinarão nos trajetos próprios de Urano.
A arte mágica de Cronos é o rumor da mudança. A mudança que mistura transformações às transformações. A mudança que acrescenta Poder de Ser a Poder de Ser. A mudança que transforma o vir a ser, do Ser, em uma marcha triunfal de desenvolvimento no não-ser; ou seja o desenvolvimento na Gaia inconsciente. Uma marcha triunfal em que o acúmulo da quantidade de transformações, leva à geração de uma qualidade, num novo trajeto a ser seguido.
Cronos executa a mudança, que constrói a Autoconsciência, com um ato de absoluta violência, um ato de magia que agita o universo inteiro. Quando a foice de Gaia se aprofunda em Urano Estrelado, é o mesmo Cronos, que por meio da sua vontade e das suas determinações faz a foice se aprofundar nele.
Desse modo, Cronos, pai de cada Natureza, e de cada Ser, que se constrói com um processo de acúmulo progressivo mediante o seu agir no mundo, alcança o escopo da construção de si mesmo impondo a Urano Estrelado a sua vontade própria. Diante da determinação e da armadilha de Cronos, Urano deve aceitar a existência e o nascimento de novas maneiras por meio das quais Gaia transforma a sua inconsciência própria em conscientização. "Que seja!" se expressa Urano: "Que nasçam também os filhos de Cronos, mas que nasçam segundo as minhas regras, porque as minhas regras os tornarão potentes e independentes!"
As regras de Urano Estrelado são aquelas que ele gera, ao sofrer a imposição de Cronos!
Cronos escolheu por impor-se a Urano Estrelado, e este aceita ditando as regras nas quais Cronos possa construir a vida! As regras são os Deuses que permeiam cada vivente, e que através dos quais, cada vivente, filho de Cronos, determina a si mesmo, alimentando esses Deuses e deles se alimentando.
"Efetivamente, quantas gotas jorraram cruelmente, todas elas foram acolhidas por Gaia e no passar dos anos gerou as Eríneas potentes e os grandes GIGANTES de armas reluzentes, com pontiagudos dardos nas mãos, e as NINFAS que chamam MELIE sobre a terra infinita."
As Eríneas, a fúria de determinação subjetiva!
A vida, nascida em qualquer parte, deve estar em condições para remover qualquer obstáculo: " Tu cortaste os meus genitais, portanto, que a fúria da determinação, na existência, seja uma obra divina da vida, filha de Cronos: que sejam cortados os genitais (a possibilidade para reproduzir) a quem quer que tente impedir a expansão desses Deuses no mundo e na vida!
Os Gigantes, a qualidade que surge da quantidade! Na espécie humana, devemos falar do homem, que assumindo as responsabilidades, na sua própria vida, e nas suas escolhas próprias, construa um caminho para a sua própria espécie.
A vida, em qualquer lugar que nascer, que se desenvolva por variações de méritos. "Cortaste os meus genitais, pois muito bem, que a vida, da qual Cronos ritma as mutações, desenvolva a sua própria Autoconsciência por variações de méritos. Que a qualidade se abra à conquista do futuro na quantidade, com as armas resplandescentes da vida, e com os dardos da determinação própria!
As Ninfas Melie, o equilíbrio harmônico da vida!
A vida aonde quer que surja, nasça, se desenvolve como um conjunto de sujeitos, que ampliando-se a si mesmos, harmonizam-se através do egoísmo próprio, e assim, constroem os equilíbrios sobre os quais se amplia a vida em si mesma. A harmonia dos particulares constitui a harmonia dos conjuntos, nos quais se constrói a conflitualidade que constrói a vida. O canto das Melie é o canto do Ser individual que se constrói na eternidade.
Esse é o Poder de Ser de Urano Estrelado que cede diante da vontade forjada por Gaia, e que é utilizada por Cronos para alimentar as suas determinações próprias.
Urano Estrelado cede diante do uso da vontade de Cronos ao exercer as suas determinações, mas por ser pai de Cronos, determina as condições através da quais Cronos pode conduzir as Autoconsciências que se manifestam para se tornarem eternas, no infinito das mutações: para se tornarem DEUSES imortais.
Gaia incuba dentro de si as gotas de sangue de Urano Estrelado, gerando as forças, que essas gotas precisarão, na construção das Autoconsciências. Os filhos das gotas de sangue de Urano Estrelado também são filhos de Gaia e são detentores do Poder de Ser de Cronos que se exprime na mutação e na transformação.
Eríneas, Gigantes e as Melie, constituem condições objetivas que se tornam subjetivas quando crescem dentro dos Seres filhos do tempo. Há um deus que não é filho de Gaia, porque não tem substância, mas é determinação de Urano Estrelado. Urano o gera por si. Como Gaia de si mesma gera Urano, Ponto e os Montes Grandes, do mesmo modo que Urano de si mesmo gera um deus, que para os Seres da Natureza representa a própria vida. Existe um deus, além de cada deus, que funda a construção do Ser, de cada Ser, enquanto ele quer construir a si mesmo, porque é deus, e vir a ser nas mudanças eternas. Há um deus diante do qual cada deus faz reverência e sem o qual nenhum deus pode ser um deus construindo-se no infinito das mutações. Há um deus que nascido do pênis e dos testículos de Urano Estrelado, precisa fazer-se deus de cada Ser, que através de Cronos funda a si mesmo no infinito.
Hesíodo escreve:
"E como tinha cortado os genitais com o metal, arremessou-os da terra ao mar muito agitado, e então foram levados ao alto-mar, por muito tempo; ao redor a espuma branca do membro imortal surgido, e dessa espuma uma filha nasce, e antes à Citereia divina chegou, e de lá depois chegou a Chipre muito banhada pelas vagas; lá alcançou com sucesso a deusa bela e digna de veneração, e ao redor e sob os seus pés ágeis, a erva, nascia ela: AFRODITE,....."
O nascimento é um ato de violência com o qual o neonato, entre os mamíferos e os Seres Humanos, se separa da mãe. Este ato de violência, libera as forças da germinação em um momento em que as aprisiona. O problema é de ordem psicológica de quem as olha: o cristão vê a violência do domado no separar-se da submissão; o Pagão vê o ato da abertura de um sujeito em direção a novos horizontes existenciais. No corte do pênis e dos genitais de Urano Estrelado por parte de Cronos, o cristão lê a castração do seu deus-patrão por parte de um submetido, o Pagão vê um ato de liberação de forças em potencial impedidas com as quais abrir o horizonte existencial, para as novas possibilidades de vida. Dessas forças Afrodite se gera, alimenta as transformações emotivas da matéria, tornando-a viva, consciente, bem como manifestação da vontade subjetiva.
É Afrodite tudo o que emerge do pênis e dos genitais de Urano Estrelado, e Afrodite determina as relações entre os Seres da Natureza que constroem o caminho deles na eternidade das mudanças.
Urano Estrelado cede diante da vontade exercida por Cronos, mas ao ceder determina as condições para a expansão dos filhos de Cronos. Que se expandam os filhos de Cronos, aqueles que possam somar Poder de Ser a Poder de Ser, aqueles que possam se expandir a eles mesmos, na objetividade e alimentando a própria objetividade, mas que o façam somente manifestando a Afrodite que instiga dentro deles. Ao fazê-lo respeitam as condições que,
entre eles e o mundo vivente, no qual eles germinam, e do qual se alimentam, alimentando-o pela sua vez, tenham construído os Deuses que os precederam.
O sussurro harmônico das Ninfas Melie constitui o equilíbrio das relações entre os Seres viventes, filhos de Cronos, e o Ser Terra filha de Urano Estrelado. Quando esse sussurro se torna uma nota destonada, eis o Ser da Natureza a reconstruir as suas adaptações próprias. Especies após especies, viventes após viventes. As Ninfas Melie são o equilíbrio. As Ninfas Melie são o exercício do livre arbítrio dos Seres da Natureza, no Ser Natureza e dentro deles mesmos. A ambientação subjetiva às variáveis objetivas encontradas. Os sons delas constituem os cantos de ambientação da vida; as harmonias das espécies; o canto delas no infinito. Um canto mágico ao qual cada espécie participa na construção da harmonia infinita.
A harmonia deve ser rompida por outros sinais, por outros percursos, de outro modo morre em si mesma. Urano Estrelado determina o modo através do qual a harmonia pode ser mudada dentro do Ser Natureza, nas espécies do Ser Natureza, dentro do Ser individual e de cada filho de Cronos.
"Os Grandes Gigantes com armas resplandecentes!"
Só os Gigantes, de cada espécie da Natureza, podem romper com os equilíbrios da Natureza ou entre as espécies e a Natureza. Uma espécie vem a ser, um Ser vem a ser, acumula Poder pessoal, acumula quantidade da qual germina a qualidade da sua existência. Ele mesmo vem a ser um Gigante resplandecente que subverte a ordem harmônica das Ninfas Melie, obrigando aquilo que o rodeia a se adaptar ao gigantesco que cresceu dentro dele. Ao seu redor, aquilo que se adapta, vem a ser. Ele acumula Poder pessoal, acumula quantidade da qual germina a qualidade. O mundo em si mesmo, naquele momento, surge como um conjunto de Gigantes resplandecentes que subvertem a ordem harmônica das Ninfas Melie, obrigando o que lhe está próximo a se adaptar ao gigantesco que está crescendo. A cada Gigante resplandecente que se apresenta, a si mesmo, as Ninfas Melie reorganizam uma nova melodia. O canto delas muda de tom, as vozes se multiplicam, o submisso se torna potente, o potente é atingido e superado nos tons, nos timbres, na qualidade e na posição que assume na harmonia da vida.
As vezes os filhos da Noite sufocam as vozes. Alguma se torna rouca, alguma outra desafina no conjunto da harmonia, outras tendem a desaparecer. Inclusive nisto, Urano Estrelado derramou o seu sangue para que as Eríneas fossem parte da vida. Assim, na harmonia da vida, quando o respiro é sufocado e a construção do futuro se torna precaria e grave pelos sofrimentos do indivíduo, ou das espécies, eis que surgem as Eríneas no último esforço para desimpedir dos obstáculos o trajeto para o futuro. A fúria tem o rosto das Eríneas, a determinação da vida, o desespero de poder mais ser participante da imensa melodia da vida das Ninfas Melie.
Estas foram as condições que Urano Estrelado impôs ao seu filho Cronos e à sua estirpe de Autoconsciências.
Impôs estas condições aos filhos de Cronos. Impôs o método com o qual pudessem construírem a si mesmos, expandirem a Autoconsciência deles, adicionarem Poder Pessoal a Poder Pessoal: devessem aprender as estratégias em fazerem-se Vênus em relação a tudo o que lhes rodeia e naquilo que estão vindo a serem. Apenas com essas estratégias, renovando o canto das Ninfas Melie, pudessem construírem a si mesmos.
O Poder de Ser pode ser roubado sem empobrecer o que foi roubado; o Conhecimento deve ser apropriado sem arruinar o roubado; o saber pode ser adquirido sem que ninguém sofra com a perda.
Beber do odre da vida nutrindo a vida, exatamente por beber-se desse odre. Se não se bebe desse odre, ele seca. Quanto mais Seres beberem do odre da vida, mais Seres estarão em condições para matarem a sede.
Esta é a ordem de Afrodite e por isto pode existir: "quando, apenas nascida, caminhou em direção à estirpe dos deuses imortais".
Os filhos de Cronos se tornam deuses imortais apenas desenvolvendo a Afrodite que eles têm dentro, e através da qual constroem as relações com os Seres que lhes estão ao redor. Expandindo a harmonia das Ninfas Melie com cada adjacente em função de Eros, que os impulsiona para se dilatarem e se transformarem no infinito das mutações, estão a manifestar a Afrodite dentro deles. Afrodite é um deus que vive seja no tempo como na forma. Um deus tão potente que tem somente em Efesto e Ares potências que podem governar o seu impulso na razão, nas condições em que Zeus construirá a vida. As filhas de Urano Estrelado, Afrodite e as Eríneas, estão na base da existência dos Seres da Natureza.
Nota esquemática: transmissão radiofônica de 2000 - início da revisão 18 de setembro de 2014
*Nota*: a tradução da Teogonia é extraída de Hesíodo "Teogonia" trad. Graziano Arrighetti edição BUR
Marghera, 28 de setembro de 2014
(Trecho extraído da Obra de Claudio Simeoni *A Estirpe dos Titãs*, um trabalho iniciado em 27.12.1999)
A tradução foi publicada 26 de junho de 2015
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni Mecânico Aprendiz Stregone Guardião do Anticristo Membro fundador da Federação Pagã Piaz.le Parmesan, 8 30175 - Marghera - Venezia - Italy Tel. 3277862784 e-mail: claudiosimeoni@libero.it |
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A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.