Existe um sentimento que o Tátaro provoca na razão. Uma sensação de repulsão como um não-lugar. Um tipo de horror do nada, do "horror vacui", através do qual a razão deixa o indivíduo apavorado, desarmando-o, e tirando-lhe toda a coragem.
A razão diz: O que eu tenho que fazer com o Hades? O que tenho que fazer com os Deuses Titãs?
A razão interrompe o tempo no seu presente. Cada tempo da razão é um presente que segue outro presente. A razão não vive o veio a ser (o tornou-se), não vive as transformações, mas se mostra paralisada e imutável em um presente que chama de ontem e um presente que chama de hoje: entre o ontem descrito e o hoje descrito; ou seja, para a razão não existe o processo de transformação
O hoje surge como um aparecer do nada. Do ontem, à razão, permanece o reflexo da imagem, no hoje. A razão vive por presentes sucessivos. Nesses presentes, em cada um desses presentes, a razão inclina-se a se apresentar como a dona, porque é criadora de tal presente.
Entre o presente que a razão chama de "ontem", e o presente que a razão chama de "hoje", existe um tipo de morte e de renascimento da razão. Durante o sono a razão se desagrega e volta a se agregar ao despertar do indivíduo. O tempo do sono não existe à razão.
A razão é o único objeto/sujeito dentro de nós que tem medo. Enquanto no mundo do tempo a ação é objeto, enquanto é execução e o objeto cessa ao cessar a ação; no mundo emotivo, existe o ato de acumulação ou de consumação da estrutura emotiva. Uma estrutura emotiva que reúne os efeitos da ação ou da não ação, modificando, assim, a estrutura emotiva que representa o indivíduo como objeto em si além das transformações, que a estrutura emotiva sofreu. A razão vive somente do domínio dela sobre o indivíduo. A razão nasce quando o indivíduo sai da vagina da mãe dele, sendo que razão morre juntamente com a morte do corpo físico do indivíduo. Nesta situação, a razão vive aterrorizada de que na desagregação dela, no momento do sono, não venha a ocorrer novamente a sua agregação. A razão vive com temores contínuos de possíveis obstáculos aos seus domínios sobre a consciência.
Hesíodo escreve na Teogonia traduzida por Romagnoli:
- Surgem aqui do Deus subterrâneo as casas rumorosas, Do valoroso Hades, e da tremenda Perséfone. E o cão terrivelmente está diante da porta: pois é insciente de piedade, mestre de tristes armadilhas: a quem entra agita a cauda, benévolo, e ambas as orelhas; mas depois não consente que saia novamente: vigia-o, e quando alguém aproveita para atravessar o umbral, dilacera-o. Habita aqui a Deusa que os Númens imortais detestam, Estige extraordinária, a filha maior de Oceano, que em círculo gira as suas ondas, longe dos Númens, numa casa ilustre, totalmente dissimulada por grandes pedras; e por altas colunas de prata, que tocam o céu, sustentam-na em tudo o que a cerca. Raramente Íris, a filha de Taumante, dos pés velozes move-se, portanto, a levar mensagens sobre o dorso infinito do mar, de qualquer que seja o tipo entre os Excelsos, de litígio ou de disputa. E se algum dos Númens imortais mente, o Crônide envia Íris, para que o conduza ao longe, e num cálice de ouro, aonde está o solene juramento, a célebre, imperturbável inspiração que se origina abaixo em um difícil pico. Abundante jorra em uma extremidade do rio de Oceano sacro debaixo da terra de vastos lugares, transversal à noite lívida; e dirige-se a uma outra décima parte distinta; porque ele tem nove sobre a terra e sobre o dorso infinito do mar, com ondas prateadas volvendo-se, cai no mar, e lançado é rocha abaixo, com grande aflição do Númens; porque quaisquer dos Númens que vivem lá acima no Olimpo nevado, que daquela água bebeu, viola o juramento e fica sem respiração, até que um ano transcorra: nem pode mais degustar o néctar alimentar, nem da ambrósia: permanece sem obter a respiração nem se expressar com palavra, sobre uma cama; e do alto perturba-lhe uma sonolência maligna. Depois, ao completar-se um ano: purificado do flagelo, uma outra pena mais grave ainda do que esta o aguarda: por nove anos permanece longe dos Celestes eternos, nem pode tomar parte do conselho deles, nem dos seus banquetes, por nove anos completos: no décimo volta novamente às assembleias dos Númens que fazem estadia no Olimpo: os Númens exigiram como tal o velho juramento sobre a água do Estige; e que se precipite abaixo, de um local de rochas totalmente acidentado. E aqui as portas são de mármore e a soleira de bronze, imóvel sobre longas raízes plantadas e crescidas por si mesmas. Diante destas, longe de todos os Celestes, habitam, aquém do Caos tenebroso, os Titãs. E, ínclitos ministros de Giove do alto trovejam, têm a moradia aonde o Oceano tem as bases, Coto com Giges: Briaréu que era forte, era belo o quis gerou o Deus que sacode a terra, que ressoa profundo: deu-lhe a sua filha Cimopoleia, para que o tivesse com consorte. -
Hesíodo, Teogonia 767 - 819
Neste trecho têm-se a descrição do horror que o Tártaro suscita na razão dos Seres Humanos e nos Deuses imortais coligados à razão de Zeus.
Nesta descrição assistimos à sobreposição de três diferentes "obscuros" nos quais o vidente expande o seu próprio olhar racional.
O primeiro escuro refere-se ao que leva ao nascimento. O primeiro escuro representa o momento da germinação do indivíduo. Na prática, o Ser Humano descreve a sua própria fase de feto da qual se origina. Delineia sensações de horror às quais não pode mais retornar e que, mesmo assim, pertencem-lhe, porquê construíram aquilo que ele é. Neste medo para voltar atrás existe o horror, que Hesíodo atribui aos DEUSES imortais. Um mundo de onde se inicia. Um mundo no qual foi-se construído, e aonde superou-se o umbral do vir a ser. Recordar esse umbral significa colocar em evidência o passado. Um passado que foi vencido e que, gerando o presente, construiu as premissas para a fundação do futuro, passado ao qual retornar provoca horror e desgosto. "Combati naquelas batalhas com o conhecimento e a consciência que eu tinha: como eu era mesquinho! Quantas coisas melhores teria feito se...". Mas, tais coisas não fiz! Nem fiz outras pequenas e mesquinhas, e contudo me compactaram, me tornaram consciente de que consentiram-me transformar a morte do corpo físico em nascimento do corpo luminoso. " Eu de qualquer modo, não sinto nostalgia. Eu não volto atrás porquê devo construir-me no presente!" Nesse escuro está presente o desejo do Ser Vegetal em não querer retornar a ser uma semente. Há o horror dos Seres Animais com o "pensamento" de retornar ao estado de Seres Óvulos. Este medo por este tipo de escuro está bem representada nas lendas de APOLO recém-nascido (compendiado pelo Hino Homérico à Apolo realizado por Charles Penglase no seu livro "Dall'Ekur ao Olimpo"):
"Depois do nascimento APOLO foi imerso na água e envolvido em um tecido branquíssimo. Em seguida, é saciado com néctar e ambrosia e o seu poder manifestou-se imediatamente, pois nem as tiras nem as faixas de ouro puderam detê-lo. O DEUS exigiu, então, o cetro e o arco recurvo, os seus atributos mais importantes, reconhecendo também a supremacia do pai. Apolo Febo de cabelos longos começou a caminhar sobre a terra, deixando atônitas as DEUSAS. A inteira ilha de Delos cobriu-se com brotos de ouro, porque muito caros "eram-lhe todos os cumes, e os bosques sacros com numerosas árvores." Superou com um salto o monte sagrado e visitou outras ilhas instituindo os lugares de culto, os templos e os bosques sagrados, as celebrações em sua honra que previam a luta desportiva, a dança e o canto."
Extraído do livro de Charles Penglase "Dall'Ekur ao Olimpo"
Lançar-se adiante, na construção da vida. Isto é imperativo e gera horror e desgosto a quem sente nostalgia do tempo passado, ou de situações passadas, nos quais era senhor.
O desgosto para voltar atrás está bem representado na condenação proferida por Zeus contra Esculápio, por este ser culpado de trazer à vida pessoas que tinham superado a morte do corpo físico. As leis da vida não consentem que se faça tornar mortal aquele que atravessou o umbral da morte do corpo físico, tornando-se, assim, imortal. Esta ação constitui o oposto do cristianismo, para o qual, não havendo mais futuro depois da morte do corpo físico a eles, cristãos, que viveram debaixo da submissão e obediência, eles adestram os animais homens para desejarem a intervenção do deus-patrão permitindo-lhes uma segunda possibilidade de vida na carne.
O segundo escuro pertence aos mundos da percepção, que estão ao redor do mundo da "luz" na qual o sujeito opera normalmente. Os mundos da percepção ligados ao mundo quotidiano, tanto pela descrição diversa com que o sujeito descreve o próprio mundo, como pelo destaque entre a sua percepção, que delimitam os seus interesses e os seus intentos. Um escuro onde existe o temor para aventurar-se, porquê o indivíduo não sabe se está suficientemente preparado para enfrentá-lo. Mundos que suscitam temor e que a razão identifica-os como mundos escuros porquanto, o que chega desses mundos, obriga-a a modificar-se e novamente a adaptar-se. Mundos escuros inclusive quando atingidos com o sonhar, e que são obtidos por meio da nossa intuição. São mundos escuros porquê não representam a totalidade da nossa ação, mas representam as exceções da ação para o sujeito, salvo quando as suas intenções particulares não o conduzem a procurá-los para agir dentro deles.
Cérbero deixa o Ser Humano passar quando este tem a vontade para concretizar o seu intento. Nesses mundos entra-se com vontade e determinação, e com vontade e determinação são deixados quando as pessoas deles saem dilacerados na forma e reestruturadas de modo diferente. Cérbero é o fantasma que a razão coloca como defesa nos confins dela, para que o novo não surja na percepção humana, e deste modo não a obrigue a modificar-se. Superar esses confins é coligar-se a um tipo de Tártaro. O Tártaro aonde estão isolados os Deuses Titãs, Noite Negra e os seus filhos, o poder de Hades e Persefone. Um tipo de superfície do Tártaro, ou se preferirem, os limites externos do Tártaro. Naqueles limites onde o mundo do tempo e o mundo da razão tendem a se sobrepor, um sobre o outro. É um território da percepção que não interessa aos Deuses imortais. É um território deixado a Hades, no seu colo são gerados os futuros Seres da Natureza. O colo da vida aonde Persefone entrou. Esses mundos não interessam aos Deuses do Olimpo. Os Deuses Olímpicos constroem a eles mesmos em mundo ligados ao físico, à racionalidade, à quantidade e à forma particular dos Seres que germinam em Hera. Nos desafios de Hera esses Seres constroem-se e são imortais, não porque a existência deles não tenha limite de transformações, mas em contraposição à rapidez das possibilidades que os Seres, filhos de Hera, têm para transformarem a morte do corpo físico em nascimento do corpo luminoso. Um corpo físico que está construindo o seu corpo luminoso particular germinado pela ação dos Deuses Olímpicos, os quais construíram as condições para que isto acontecesse.
Há um Cérbero que não se pode superar. O Ser é gerado no Tártaro, vive no mundo racional transformando a morte do corpo físico em nascimento do corpo luminoso. Com a morte do corpo físico a sua razão morre definitivamente e ela não pode mais retornar à carne. O Tártaro da vida quotidiana em que vivia, uma vez que está morto o corpo físico, é-lhe proibido, como é proibido ao Ser Humano o Tártaro do útero materno, do qual a criança nasceu. Tártaro e Olimpo, neste caso, são opostos e inseridos neles mesmos. O Tártaro é o mundo do tempo infinito do qual os Deuses Olímpicos originam-se, e onde os Deuses do Olimpo encerraram os Titãs. O Olimpo é um terreno transitório onde os Deuses continuam a operarem para construírem a eles mesmos, embora eles tenham origem no Tártaro. O Tártaro provoca horror aos Deuses Olímpicos porquê eles sabem que não podem mais retornar ao útero de onde se originam. O mundo do Tártaro para os Deuses do Olimpo tornou-se ininteligível. O ininteligível provoca horror à razão, porquê o enigmático transforma-se em desconhecido para o indivíduo só com a morte da razão. Ao contrário, ao Ser Humano, o Tártaro é o desconhecido que existe dentro dele, e portanto, pode ter acesso ao Tártaro fora dele e abrir a razão para permitir à intuição surgir à consciência racional. O terceiro escuro é, pois, o ininteligível aos Deuses.
Existem três tipos de Tártaro escuro que se somam. No que se refere ao primeiro Tártaro, o escuro do qual surge o conhecido, é imaginado no presente, mas não pode ser recordado. A Autoconsciência que age no presente percebe o mundo, que a cerca, de maneira diferente de como percebia o mundo, que a cercava, quando estava no útero materno (no sêmen ou no óvulo). Os sentidos são diferentes, e são organizados para se estimularem dentro de um mundo diferente. Desse Tártaro aflora o conhecido. O conhecido é uma separação subjetiva de um imenso desconhecido, do qual tal separação é para não haver perturbações. Esse Tártaro de um desconhecido imenso, que nos rodeia, pode ser imaginado como uma provisão daquilo que estimula o nosso conhecido somente porque, o conhecido não é vivido e percebido enquanto tal, mas através da percepção de fenômenos separados do objeto inteligível que oferecem ao sujeito, no caso de usar a sua atenção, a conscientização de que existe uma imensidão a ser explorada.
O tradutor de Hesíodo, com frequência, costuma traduzir Tártaro com a expressão "mundo inferior", ao passo que Tártaro indica o "sob a terra". Hesíodo transforma a ideia do sob a terra físico em sob a terra da consciência quotidiana, enquanto o tradutor cristão transforma a ideia do sob a terra no significado do inferno cristão, isso na última fase do período histórico. Isto é, o escuro de onde a vida surge e onde, continuaria, no que se refere à razão, o sob a terra, na consciência racional, acaba sendo interpretado como o sob a terra do inferno cristão. O sob a terra, no sentido dado por Hesíodo, é onde a vida continua depois da formação do corpo físico e, de onde provém, antes da formação do corpo físico. Quando um Ser transforma a morte do corpo físico em nascimento do corpo luminoso (ou seja, o encorpamento deste) não volta mais atrás. Cérbero está vigiando essa passagem (de um estado a outro). A passagem da transformação e do crescimento é alimentada por Persefone, filha de Demetra. É o crescimento que continua além da vida física. Não se volta atrás. É impossível voltar atrás aos Seres da Natureza.; constitui horror aos Deuses. Esculápio, filho de Apolo, doa novamente a vida à Hipólito para ter como resultado o destruir as suas transformações, na sua tentativa de fazer-se um DEUS pressupondo que somente a vida em Hera seja digna de ser vivida. Zeus pune Esculápio, pelo seu delito de arrogância, porquê as regras que estimulam à transformação, no que concerne ao futuro, são as regras que Cronos impôs obedecendo aos imperativos de Gaia, Eros e Rea. Estas regras não podem ser transgredidas, porquê estão nas essências e na vontade delas na transformação do universo.
Cérbero protege a passagem das transformações, é o Cérbero da vida, mas imediatamente depois encontramos o Cérbero como um fantasma da razão humana.
Hesíodo escreve na Teogonia traduzida por Romagnoli:
"E o cão terrivelmente está diante da porta: porquê é inconsciente de piedade, mestre de tristes armadilhas: a quem entra agita a cauda benévolo e ambas as orelhas; mas não consente que depois saia de novo: observa-o, e quando alguém aproveita para atravessar o umbral, dilacera-o."
Hesíodo, Teogonia 770 - 774
Aqui Cérbero assume o papel de fantasma da razão. Ninguém pode sair da razão, pois em caso contrário, Cérbero surpreende-o e dilacera-o. Ninguém, que tenha saído da razão consegue entrar novamente dentro dela e tê-la do modo como ela era antes da saída. Não se sai da razão para entrar novamente, se sai dela e então se constrói uma razão diferente. O Ser Humano deve domar Cérbero para sair da razão e entrar outra vez com anseio. Para domar Cérbero deve usar a vontade própria. Saindo-se da razão depara-se com os mundos imensos que estão ao redor. Aprende-se a usar a intuição própria obrigando a razão a aceitar fenômenos novos. Se o Ser Humano não aprende a usar a sua vontade própria resulta que, esses novos fenômenos arrastam-no, aniquilam-no, destroem-no. Cérbero está de guarda à porta. Entrar e sair pela porta é um sair e um entrar pela porta.
Eis o Cérbero que devora; o fantasma que a razão colocou nos seus limites e, para poder garantir-se o domínio do Ser Humano, transforma-se em Cérbero da angústia e da fobia.
Temos, portanto, três modelos de escuro ligados à razão que chamamos de Tártaro: o Tártaro em que germinam e tomam forma as Autoconsciências do Ser Natureza; o Tártaro representado pelos mundos infinitos com o qual perceber o mundo racional, o mundo da razão, que selecionamos crescendo, escolhendo alguns e descartando outros; o Tártaro como mundos e intentos percebidos e elaborados de maneira diferente do corpo luminoso, que cresce dentro de nós, ou, optando com os mesmos mecanismos psíquicos por manifestações de delírio advindos de doença psiquiatra, que irão deliberar, na ocasião da morte do corpo físico, em um vir a ser ou em uma ruína. Os três Tártaros provocam medo nos DEUSES, do primeiro germinaram e ninguém pretende voltar atrás, porém sabem que naquele Tártaro outros Deuses continuam vivendo e gerando; em muitos dos mundos que o Ser Humano define com a percepção fora da razão os Deuses agem, mas estão conscientes dos outros modos possíveis de perceber o mundo e temem elaborações que não conhecem; o Tártaro depois do fim da fase de mudança que atravessam constrói neles uma infinidade de apreensão: "Terão usado vontade suficiente e determinação para transformarem a morte do corpo físico em nascimento do corpo luminoso?" Os Deuses são imortais, mas somente no quis diz respeito ao Ser Humano. Quando o Ser Sol explodirá o Ser Terra, Rea, morrerá. O ciclo Rea terminará e Rea transformará a morte do corpo físico em nascimento do corpo luminoso. O Ser Humano que consegue entrar em algum dos mundos da percepção pode coligar-se, diretamente, com os Titãs e alimentar-se deles. Quando os DEUSES observam o Tártaro com "horror" os olhos desses Seres Humanos observam-nos com desafio e determinação.
Do Tártaro, por obra de Gaia, desponta o que levará os Deuses a transformarem a morte do "corpo físico" deles (o estado atual deles) em nascimento do corpo luminoso deles (nova fase de transformação). A potência da transformação dos Deuses é gerada por Gaia no TÁRTARO, naquele lugar aonde os Deuses Olímpicos têm terror de observarem: Tifão! Zeus cessará com a sua ação determinada, mas o Cronos que Zeus usou para colocar em movimento o presente racional da forma transformará o presente, e Tifão poderá cumprir com a sua missão: levará os Deuses Olímpicos a prosseguirem nas suas transformações em um outro estado de existência nas mudanças infinitas.
Hesíodo escreve na Teogonia traduzida por Romagnoli:
- Aqui habita a Deusa que causa horror aos Númens imortais, Estige extraordinária, a filha maior de Oceano, que em círculos gira as suas vagas, longe dos Númens, em uma casa ilustre, totalmente dissimulada por grandes pedras; e por altas colunas de prata, que tocam o céu, sustentam-na em tudo o que a cerca. Raramente Íris, a filha de Taumante, do pés velozes move-se, portanto, a levar mensagens sobre o dorso infinito do mar, de qualquer que seja o tipo entre os Excelsos, de litígio ou de disputa. E se algum dos Númens imortais mente, o Crônide envia Íris, para que o conduza ao longe, e num cálice de ouro, aonde está o solene juramento, a célebre, a imperturbável inspiração que se origina abaixo em um difícil pico. Abundante jorra em uma extremidade do rio de Oceano sacro debaixo da terra de vastos lugares, transversal à noite lívida; e dirige-se a uma outra décima parte distinta; porque ele tem nove sobre a terra e sobre o dorso infinito do mar, com ondas prateadas volvendo-se, cai no mar, e lançado é rocha abaixo, com grande aflição dos Númens; porque quaisquer dos Númens que vivem lá acima no Olimpo nevado, que daquela água bebeu, viola o juramento fica sem respiração, até que um ano transcorra: nem pode mais degustar o néctar alimentar, nem da ambrósia: permanecem sem obter a respiração nem se expressar com palavra, sobre uma cama; e do alto perturba-lhe uma sonolência maligna. Depois, ao completar-se um ano: purificado pelo flagelo, uma outra pena mais grave ainda do que esta o aguarda: por nove anos permanece longe dos Celestes eternos, nem pode tomar parte do conselho deles, nem dos seus banquetes, por nove anos completos: no décimo volta novamente às assembleias dos Númens que fazem estadia no Olimpo: os Númens exigiram como tal o velho juramento sobre a água do Estige; e que se precipite abaixo, de um local de rochas totalmente acidentado. -
Hesíodo, Teogonia 775 - 806
Na moradia odiada pelos DEUSES imortais (nos recessos dos mundos de onde provêm) reside Estige. Estige "o grande juramento", o desejo de Nêmesis que se evidencia e prorrompe! Estige, a sábia, como o intento contra o qual Nêmesis que cresce dentro do Ser, de cada Ser, se difunde. Pedir justiça completando o pedido com palavras repletas de emoções ofendidas, significa expandir potência e determinação na remoção de obstáculos que bloqueiam a vida: Estige prorrompe!
Evocar Nêmesis com a água do Estige, levada por Íris, a filha de Taumante que une o céu e a terra, acalma as disputas entre o Deuses. Lá é demolido. O desenvolvimento é bloqueado por um tempo no qual cada transformação e cada mudança cessa. Qual é a pior punição a um Deus? O impedimento ao vir a ser nas mutações infinitas; o impedimento para construir a si mesmo. Não se trata de uma pena de morte, é uma pena que se exaure no tempo. É a construção de um impedimento por um certo período! A pena jamais é a destruição do DEUS, mas tem a finalidade de desenvolver o entendimento do dano que a disputa entre os Deuses gerou.
Deste modo em Hesíodo há a descrição da pena. Por um "ano" o DEUS não progride nas mutações ou nas transformações. Não avança em construir a Consciência própria e o conhecimento próprio. Estige, que contorna o Tártaro, bloqueia as suas transformações. O DEUS não entra no TÁRTARO, não é destruído, padece o bloqueio das suas transformações e o seu Poder de Ser é demolido. De fato não se aproxima nem do néctar nem da ambrósia: do saber e do conhecimento. O torpor maligno que o cobre é o sono de Estige. O sono sem sonhos; o sono sem quaisquer desejos; o sono sem nenhuma percepção. Depois deste período deve passar por outra punição que é o afastamento desse DEUS dos outros Deuses, não podendo destes se aproximar. Vive um tipo de desunião até que não adquira novamente o Poder de Ser particular, e assim ser readmitido no Olimpo.
- Depois, ao completar-se um ano: purificado pelo flagelo...-
Hesíodo, Teogonia 779
Qual é o mal que deve ter fim? O que é o mal no Paganismo Politeísta? São os obstáculos que impedem os Seres Humanos de virem a ser nas mudanças infinitas. O "grande mal" outra coisa não é senão o grande obstáculo ao transfigurar-se do Ser Humano nas transmutações, obstáculo que Estige colocou àquele que não cumpriu com o seu juramento conforme prometeu.
As inumeráveis fisionomias do Tártaro impõem infinitas interpretações do Tártaro. As inúmeras faces não foram escritas por Hesíodo, mas nós as vimos na nossa experiência e, encontramo-nas, com as palavras de Hesíodo. Uma coisa é a história de Hesíodo, outra coisa é representada pelos inumeráveis modos de vivê-la e interpretá-la, porquê infinitas são as facetas disto que Hesíodo denomina Tártaro e dez mil são as relações que nos interessam com cada aspecto do Tártaro em si mesmo.
*NOTA*: As citações da Teogonia de Hesíodo são extraídas da tradução de Ettore Romagnoli "Hesíodo os poemas", com a Edição de Nicola Zanichelli Bolonha 1929
Nota através da transmissão radiofônica do ano 2000 - início da revisão em 18 de setembro de 2014
Revisão
Marghera, 30 de outubro de 2014
A tradução foi publicada 05 de fevereiro de 2016
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni Mecânico Aprendiz Stregone Guardião do Anticristo Membro fundador da Federação Pagã Piaz.le Parmesan, 8 30175 - Marghera - Venezia - Italy Tel. 3277862784 e-mail: claudiosimeoni@libero.it |
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A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.