Compreender a figura de Hércules e como e porquê Zeus baixa esta modalidade entre os Seres da Natureza, não é simples. Ou melhor, seria inteligível se, o cristianismo não tivesse transformado esta figura divina em monte de músculos e, também, não tivesse usado, usurpado, outras figuras divinas, para poder construir o delírio de onipotência do seu criminoso na cruz.
Hércules deve ser entendido tanto no habitar-se o mundo como na realidade do mundo na qual Hércules vive.
Encontramos muitas histórias e muitos contos de Hércules. Hércules é apresentado por muitos autores como um indivíduo muito problemático. Entre erros, deslizes, loucuras e tudo o mais, nada mais faz a não ser representar o homem, o Ser Humano que habita o mundo com a sua força, com a sua fraqueza e com os seus desejos num mundo onde os sujeitos desse mundo, são representados do mesmo modo por ações dos Deuses, que interferem em sua vida. Uma vida da qual Hércules não é o chefe, mas o ator que faz escolha entre mil vicissitudes.
De Hércules fala, por exemplo, Apolodoro, mas muitas são as histórias de Hércules que são narradas. Hércules ou Héracles, é uma figura difundida em todo o mediterrâneo porquê é uma figura comum em todos os povos, da Espanha às Índias.
Hesíodo não se prolonga em Hércules:
Hesíodo escreve na Teogonia traduzida por Romagnoli:
- Hércules, o corajoso filho de Alcmena de tornozelo ágil, Hebe desposou, depois que cumpriu proezas terríveis: de Giove e de Hera, Hebe Deusa das sandálias de ouro, era filha; e sua consorte a tem no Olimpo coberto de neve. Beato, que, depois que executou as suas grandes façanhas, vive entre os imortais, não conhece nem a morte nem a velhice. -
Hesíodo, Teogonia 950 - 955
Hesíodo fala dos "trabalhos dolorosos" de Hércules que o conduziram ao Olimpo.
Com o nascimento de Hércules, Zeus estabelece o pacto com Hera: "As Autoconsciências nascidas do teu seio podem se tornar Deuses somente se souberem tomar em suas próprias mãos a responsabilidade de sua vida particular; se te pagarem um tributo melhorando as condições que encontram, nascendo dentro de Hera, terá como escopo a construção dos Seres, que se construirão a si mesmos." Deste modo, os Seres que se construírem como Deuses pagarão à Hera os tributos a ela devidos, melhorando, pois, a qualidade de Hera. Este é o pacto que, através de Hércules, Zeus acerta com o Ser Natureza, Hera.
Vem a ser construídas as condições, as oportunidades, para que nem todos os ovos dos Seres Esturjões sejam devorados, e assim possam nascer novos Seres Esturjões. Nem todos os Seres larva de Mosquito sejam comidos, mas para que possam nascer novos Seres Mosquitos. Nem todos os Seres da Natureza abortem a existência deles, mas possam nascer alguns Seres Luminosos, novos Deuses, no momento da morte do corpo físico. Nem todos os Seres Humanos desperdicem a existência deles vivendo na submissão e na esperança. A morte do corpo físico aguarda cada humano, nem todos destruíram-se. Muitos Seres Humanos, homens e mulheres, viveram com paixão, dedicação, participação, envolveram-se nas tensões emotivas do mundo e da vida. Para eles as portas do infinito formam abertas, porquê as ações deles foram as ações de Hércules, por meio das quais manifestaram-se nas condições encontradas em suas vidas. Zeus, com Hércules, descreve para os Seres Humanos um dos caminhos que leva ao infinito superando Hera.
Carlos Castaneda à sua maneira fala de Hera, o Ser Natureza. Em seu livro "O presente da Águia" fala de como a Águia (HERA, o Ser Natureza) devora e se alimenta da consciência de cada Ser vivente que nasce e cresce dentro dela. Ele fala sobre o modo como a consciência de cada vivente é o alimento da Águia, a ação para o desenvolvimento de Hera. Castaneda também escreve:
"É somente com as ações da Águia que um vidente pode entender o que ela deseja. A Águia, embora não se deixe tocar pelas condições de nenhum Ser Vivente, concede um presente a cada um deles. Cada um, segundo os desejos e direitos particulares" (NOTA: ou seja, segundo as DETERMINAÇÕES pessoais, e escolhas individuais!) "tem o poder, se desejar", (por meio do uso da vontade própria, vontade subjetiva) "de conservar a chama da Consciência, o poder para desobedecer ao chamamento da morte e da consumação. A cada Ser Vivente é concedido o Poder, se ele quiser, para buscar uma passagem em direção à LIBERDADE', usando esse Poder. Ao vidente que vislumbra essa paisagem, e as criaturas que a atravessam, está inequívoco que a Águia concedeu-lhes tal presente para poderem tornar a consciência imortal."
O trecho acima foi extraído de: Carlos Castaneda, de "O presente da Águia"
Castaneda era um cristão e interpreta conforme enxerga um cristão. Na realidade a Águia não dá presentes, mas constrói condições que os viventes podem agarrar usando a foice que Gaia forjou para eles.
Os trabalhos de Hércules constituem um caminho que leva àquela passagem. Não está correto Hera asfaltar-lhes esse caminho retirando os obstáculos. Será Hera aquela que reconhece o indivíduo que alcançou a passagem. De fato, quando Hércules atinge o Olimpo terá Hebe como premio, a filha de Hera, a juventude, que presenteia o Corpo Luminoso com a Consciência que o Ser construiu durante toda a sua existência física.
E, vejamos, estes "trabalhos dolorosos", que formam o caminho ao conhecimento de Hércules, tomando de uma velha escritura das "As Colunas do Céu como Mistura da Vida" (I Pilastri del Cielo come crogiolo della vita):
* A prática das suas determinações na existência, com toda a dedicação de si, através das suas paixões e emotividade, para o Ser Humano, correspondem aos doze trabalhos de Hércules por meio dos quais ele se transforma em DEUS.*
*Somente quem está vivendo a determinação de si mesmo sabe quais são as labutas que o estão transformando. Os episódios e as relações com as quais as pessoas se esforçam com as suas determinações particulares, com o envolvimento da emoção particular, são conhecidos tão-somente pelo indivíduo que exercita essa sua determinação. O desconhecido é imenso; cada Ser Humano agarra uma fração desse desconhecido. Exatamente porquê apanha essa fração, aquele Ser Humano individual iniciou o seu percurso no INFINITO, ao mesmo tempo que o infinito caminha ao seu lado. Os episódios pertencem àquele cotidiano e permitem ao Ser Humano transformar-se através das determinações que o desconhecido, dentro dele, constrói, com o desconhecido que o cerca.*
*Quando o DEUS dentro dele começar a crescer iniciará a construir as relações com o desconhecido divino que o cerca. A razão estará no obscuro dessa atividade, que não saberá descrever, mas o Ser Humano estará de posse de intuições que a razão divulgará como milagrosas.
Eis o Ser Humano, enquanto se transforma em um DEUS potente evocar os DEUSES que estão ao seu lado, nas adjacências, praticando as suas determinações.
O Ser Humano que destrói o Leão da Neméia: o terror da razão que queria submetê-lo!
O Ser Humano que destrói a Hidra de Lerna: o terror do desconhecido com o qual o Ser Natureza, mãe dos viventes, contorna os Seres obrigando-os a transformarem-se para alcançarem o infinito!
O Ser Humano que captura a Corça de Cerineia: captura o medo dentro dele obrigando-o a servi-lo!
O Ser Humano que captura o Javali de Erimanto: torna-se senhor das suas emoções!
O Ser Humano limpa os Currais do Rei Aúgias: começa a limpar a sua razão separando os objetos, com os quais constrói as relações, das ilusões fantásticas com as quais a razão esconde-os!
O Ser Humano que liberta a floresta dos Pássaros do Lago Estínfalo: purga o desconhecido, com que se relaciona, libertando-o das fantasias da razão!
O Ser Humano que captura o Touro de Creta: coloca para servi-lo o Poder de Ser que cresce dentro dele, e assim impede que a percepção perturbe a sua razão!
O Ser Humano que captura os Jumentos de Diómedes: disciplina a ação do Poder de Ser na direção da sua própria evolução!
O Ser Humano apodera-se do Cinturão de Hipólita: o Ser Humano se apodera do Poder dos Deuses!
O Ser Humano se apodera dos bois de Gerião: o Ser Humano reivindica junto aos DEUSES, inclusive do Ser Sol, o direito do seu Poder de Ser; os DEUSES reconhecem-no e caminham ao seu lado!
O Ser Humano mata o Cão Cérbero: o DEUS que cresce no Ser Humano mata a morte do corpo físico transformando-a em nascimento do corpo luminoso!
O Ser Humano colhe os pomos de ouro das Hespérides: o Ser Humano colhe o Conhecimento, a Consciência do infinito em que virá a ser!
Os doze trabalhos de Hércules transformam o Ser Humano em um DEUS que reivindica o seu lugar particular no Olimpo!
*Não é importante em qual aspecto, no desafio do cotidiano de cada Ser Humano, depara-se com o Leão da Neméia, ou com o Cérbero ou com o Touro de Creta, o importante é que o Ser Humano afronte o desafio dando tudo de si, com o seu sentir e intuir particulares fazendo com que a razão seja arrastada pela emotividade*
Estas ações de Hércules não acontecem no ininteligível da sua cabeça, mas nas relações realizadas por ele no mundo. Nas relações que o mantêm ocupado com a Natureza e com o Sistema Social. Hércules vive as condições e as contradições do seu tempo. Hércules é um ator que se dedica à vida social.
Todas as ações de Hércules são ações que libertam o Sistema Social, em que ele vive, de quaisquer obstáculos.
Por quê ele enfrenta o Leão da Neméia?
O Leão da Neméia ou o Leão Nemeo nasce de Equidna e Tifão: o coração emotivo da Terra e "o fim de todas as coisas". Esta realidade divina destrói a atividade racional, o trabalho dos Seres Humanos, o habitar o mundo deles. É necessária uma grande disciplina, um comportamento hercúleo para controlar o coração emotivo dentro de nós, e o impulso que nos impele em uma dimensão psíquica apocalíptica do fim do mundo.
Esta é a dimensão de existência que Hércules afronta com o Leão de Neméia, que não pode ser ferido nem com flechas nem com espada (em razão da pele do Leão ser inatacável).
Também a Hidra de Lerna nasce de Equidna e Tifão.
A Corça de Cerineia mostra-nos como é possível capturar qualquer coisa sem querer possuí-la ou destruí-la. Existem metas que os Seres Humanos devem alcançar, mas não por isso devem revestirem uma estrada com cadáveres.
Podemos elencar todas as façanhas de Hércules e nelas enxergarmos as mesmas ações, a mesma manipulação da estrutura emotiva de Hércules no trabalho da dona do Lar, do operário, do artesão, da enfermeira, do camponês, de quem trabalha nas minas ou racha lenhas, e de todas as pessoas que vivem na sociedade civil.
As façanhas de Hércules constituem a senda ao conhecimento que foi vivida por ele, como a transformação emotiva subjetiva por meio das suas ações e da participação dele nas atividades do mundo.
Será Hera a escancarar as portas do Olimpo e a honrar o novo DEUS, respeitando, assim, o pacto que ela fez com Zeus. E cada vez que um Ser da Natureza, um Ser Humano que é o nosso caso, tiver vivido com paixão, será Hera a abrir-lhe as portas do Olimpo.
Somente lendo a figura de Hércules, de um modo religioso, pode-se compreender o culto de Hércules que era difundido em todo o mediterrâneo e na Europa. Pode-se compreender o papel fundamental dele entre os povos antigos itálicos.
Sergio Frau no seu "As colunas de Hércules" desvenda bem o culto a Hércules nos tempos antigos:
- Cem Hércules se encontram em caminhada. Uma verdadeira e exata caminhada internacional de Hércules no mundo dos Antigos. Tu notas que cresce excessivamente, difunde-se, multiplica-se, expande-se em toda parte... Mas quem ele é? Quem ele era? E por quê é assim tão sagrado a todos? Mais ainda do que Jesus e todos os seus santos, os Sanremo, os São Jorges, os São Moritz...Nos seus tempos, Héracles era efetivamente o Número Um que dava nome às cidades: Heraclea, hoje Saint Rémi, acima, nas bocas do Ródano. Outra Heraclea: hoje Policoro, na Basilicata. Ainda uma outra Heraclea: hoje, provavelmente Kakon Horos, Creta, talvez também um primeiríssimo 'pare aqui' dos marinheiros, que não era superada. Depois, a Heraclea que hoje é Heraklitza sobre o Mar de Mármara; a Heraclea Caccababia Porbaria nome de fato estranho para Saint Tropez...; a Heraclea Lyncestis hoje Bitolia perto de Salonicco; a Heraclea Monia hoje Torre di Capo Bianco (Torre de Cume Branco) a noroeste de Agrigento; Heraclea Sintica na Trácia, hoje Zervhokori; um Héracles monacus, o hodierno principado de Mônaco; um Heracleum sob o Olimpo, hoje Platamona; um Herculaneum, hoje Hercolano. Um Heracleo que é promontório dos Colchi. Um outro que é o Capo Spartivento. E ainda: Herculea, hoje Stuhl Weissenburg; ad Herculem hoje sant'Onorato pero de Sassari,; Herculem ad Castra em Pannonia, ao sul do Danúbio; Herculeum hoje Herkelens na Prússia; Herculis Fanum hoje Massa Carrara; um outro Herculis Fanum, hoje porém Castillo em Andaluzia. E em seguida Herculis Insulae, hoje a Asinara e a Ilha Piana (Ilha Plana), e dezenas de outras homônimas, erculee dispersas no mar - uma perto de Malta, em Tolomeo - todas juntas aos Portos Hércules que marcam o mundo de Tolomeo. Depois:"Herculis fretum, hoje Gibilterra."-
Extraído de: Sergio Frau no seu "As Colunas de Hércules"
A devoção à Hércules não era a devoção ao homem forte, ao super homem. Este conceito entrará no pensamento comum com a chegada do cristianismo, de Jesus, o super homem que pede a todos para se colocarem de joelhos diante dele; extermínio sobre extermínios! Hércules era honrado para aos próprios filhos um corpus ético com o qual agir na sociedade e de um complexo esotérico que permitisse aos devotos percorrerem um caminho de transformação que lhes levava a se tornarem Deuses..
Hércules faz com que o amor à vida tenha significado em suas ações. Um significado que é humano nas loucuras, nos defeitos, nos problemas e na mesquinhez na qual cada Ser Humano se envolve no decorrer da sua existência; o Jesus de Nazaré manifesta um ódio feroz pela vida ao ponto de impor às pessoas para que o amem de todo o coração e toda a alma.
Hércules é o homem ético que se coloca a serviço da sociedade; Jesus de Nazaré é o super- homem nazista que pretende tornar-se o proprietário dos homens e, portanto, Jesus se julga no direito de estuprar a vida dos Seres Humanos para impedi-los de se tornarem Deuses.
Por este motivo o culto a Hércules era difundido poderosamente em todo o mediterrâneo. Depois, chegaram os "filósofos" que interpretaram num sentido estético as histórias de Hércules, privando-as, dessa maneira, do sentido religioso. A cultura que tinha gerado em Hércules a síntese religiosa para ser transmitida aos filhos, aos descendentes, foi perdida; e os filósofos não mais entenderam o porquê do amor a Hércules manifestado pelo mito.
No fundo, para os filósofos, Hércules não representava uma figura moral que pudesse ser usada por Aristóteles ou por Sócrates.
Efetivamente, os ensinamentos de Hércules são ensinamentos éticos, não morais. São ensinamentos que pertencem a uma ética desconhecida tanto para Sócrates quanto para os adoradores do sanguinário Jesus de Nazaré: aquela ética em que o homem aplica o dever primeiramente a si mesmo antes de aplicá-la aos outros. E é exatamente porquê aplica essa ética a si próprio antes de aplicá-la às outras pessoas, é tolerante com as suas fraqueza e com as fraquezas dos outros indivíduos, mas é intolerante quando se trata de prevaricações!
Ser intolerante com as prevaricações e com as prepotências torna-nos iguais a Hércules, não importando se temos ou não temos força suficiente para pararmos com as prevaricações e com as prepotências.
*NOTA*: As citações da Teogonia de Hesíodo são extraídas da tradução de Ettore Romagnoli "Hesíodo os poemas", Edição de Nicola Zanichelli, Bolonha 1929.
*NOTA, foram usadas também: "As colunas de Hércules" de Sergio Frau;
Carlos Castaneda, "O presente da Águia"
Nota através da transmissão radiofôncia do ano 2000 - início da revisão em 18 de setembro de 2014
Revisão
Marghera, 18 de novembro de 2014
A tradução foi publicada 02 de junho de 2016
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni Mecânico Aprendiz Stregone Guardião do Anticristo Membro fundador da Federação Pagã Piaz.le Parmesan, 8 30175 - Marghera - Venezia - Italy Tel. 3277862784 e-mail: claudiosimeoni@libero.it |
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A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.