Para Hesíodo, contudo, chegou a hora de falar-nos de Zeus e da sua estirpe, fora do contexto épico. Como se fosse um elenco de atributos diretos ou indiretos das forças da transformação da objetividade da qual Zeus é o artesão.
Zeus venceu a batalha sobre forças que teriam desejado destroná-lo ou pôr fim às suas transformações. O tempo linear é uma convenção para a narrativa. Tudo acontece agora. Nós narramos dentro de uma sequência, mas a sequência serve à nossa narrativa, não à manifestação dos Deuses. Quando Tifão é derrotado, Hefesto opera ao lado de Zeus. Todavia, na Teogonia, Hefesto ainda não foi encontrado.
Tudo sucede na atualidade; as batalhas dos Deuses são objetos do mundo do tempo. Todas as ações acontecem agora, neste momento.
A disputa Zeus e Métis constitui uma das chaves guias da Titanomaquia. Zeus torna-se Zeus quando afronta Cronos. Quando afronta os Titãs ele é Zeus e o quanto vem a ser agora é o quanto já veio a ser e vem a ser amanhã. Sigamos sempre a cronologia narrativa de Hesíodo, mas tenhamos presente que essa ordem cronológica é apenas um expediente para a narração. Não existe uma cronologia racional dos acontecimentos.
O primeiro passo de Zeus para construir a si mesmo, enquanto DEUS que constrói o mundo, é a sua transformação em um Stregone (Bruxo).
Todos os Deuses que vêm antes de Zeus agem sobre a realidade adjacente, mas não desenham, isto é não programam a realidade. Tentam dela se apoderarem, se manifestam como forças e como representações; realizam as ações partindo das forças que deles próprios se exprimem no mundo, mas não manipulam as forças dentro deles próprios, não misturam o próprio coração.
O Prometeu, particularmente, age de forma a alimentar, nos Seres da Natureza, a centelha do conhecimento e do discernimento, mas isto constitui o fruto das necessidades dele. Prometeu é astuto e determinado, generoso ao ponto de sacrificar-se, mas não é inteligente no sentido de manifestar uma inteligência destinada ao propósito de programar. A ação que ele pratica não o transforma. Ele obtém o resultado que ele estava determinado a obter, mas não se protege das iras de quem sabe ser mais forte. Prometeu é sim o Bruxo apaixonado (lo Stregone appassionato) que entra no desconhecido e agarra o que é útil aos Seres de uma Espécie determinada, doando a ela o utilizável; porém é um Bruxo (Stregone) que não protege o que realizou em função de um possível futuro. Ele doa o objeto da sua descoberta, não a estratégia através da qual chegou àquela descoberta. O objeto que doa melhora as condições de vida da espécie, mas não se preocupa em transformar a espécie em outros iguais e potenciais Prometeu (s) para que, alcançando o desconhecido, que os cerca, possam encontrar outros objetos e reconduzi-los à espécie para a continuação do processo de desenvolvimento. Ele doa o objeto mas não a si mesmo.
Para construir a si mesmo, o Bruxo (lo Stregone) deve munir-se modificando-se.
Assimila, "engole", engloba, transforma o que chega da objetividade transformando-o em armas que servirão à sua construção particular, através das respostas subjetivas que coloca em execução.
O verbo a ser considerado é engolir (em italiano *fagocitare*=*inghiottire*)!
Isto é o que Zeus faz. Ele põe termo àquilo que ele era, isto é no modo em que veio a ser, deixando de ser igual ao que ele era quando Rea e Cronos o construíram; agindo, portanto, para modificar-se. Ele DEUS dos Deuses modifica a si mesmo em relação às possibilidades do mundo para construir-se como DEUS e usufruindo dessas possibilidades.
Zeus engole Métis.
Para a grande solução e pela apreensão em relação ao seu futuro próprio incerto, que Gaia e Urano Estrelado lhe apresentam, ele toma a grande decisão. Por quê Gaia e Urano Estrelado sugerem a Zeus para agir deste modo? Porquê em caso contrário, Zeus seria como todas as forças divinas que o precederam. Manifesta a si mesmo no mundo, mas não se modifica e nem modifica o mundo em que age. Um filho de Métis e Zeus nascerá e o destronará como fizeram Cronos e Zeus. O destronará usando a inteligência particular, a força própria e o valor específico. Zeus pode e deve escolher entre fazer daquela inteligência a sua própria inteligência, aquela força e aquele valor aceitando, assim, enfrentar uma parte do Tártaro desconhecido, que o rodeia, ou aceitar conscientemente que se ele não estiver em condições para fazê-lo, um filho nascido dele, Zeus, e de Métis o fará: construir o futuro aceitando a incógnita da transformação subjetiva como parte daquela obra de transformação do presente.
Métis, nascida de Oceano e de Tétis, que sabe mais entre os Deuses imortais e os homens, torna-se parte indistinta de Zeus.
Esta é a primeira ação praticada por Zeus.
Quem é Métis?
Métis é a capacidade dos Seres para viverem estrategicamente. É a capacidade dos Seres para executarem planos estratégicos, e poderem alcançar a satisfação do próprio Intento. Neste caso, como no desempenho de cada Ser, podemos dizer que Métis qualifica o fazer-se DEUS de Zeus.
Como, Zeus não era um DEUS em si mesmo?
Cada Autoconsciência é um deus em potencial, mas torna-se um DEUS quando, reconhecendo a si mesma, assume as responsabilidades estratégicas da própria vida e, exercitando a vontade própria, escolhe pelas melhores adaptações através das quais construir a si mesma e consequentemente crescer.
Hesíodo escreve na Teogonia traduzida por Romagnoli:
"E Giove, rei dos Númens, de Métis fez a sua primeira esposa que mais inteligência tinha entre todos os homens e Númens. Mas quando já estava prestes a dar à luz de Atena, de profundos olhos azuis, Giove observou-as como uma fraude, um engano e, com discursos sagazes a engoliu para dentro de seu ventre, em razão dos conselhos de Gea, do Céu coberto de estrelas: assim aconselharam-no, para que outro não tivesse a honra de ter o reinado, no lugar dele, entre os beatos Celestes: porque queria a sorte que Métis desse à luz filhos sapientíssimos: por primeiro a menina dos olhos de um azul profundo, a Tritogênia, idêntica em inteligência e força ao seu pai; e um filho de imenso vigor a ser gerado depois seria soberano de todos os homens e dos Númens; mas Giove a preveniu estando a Deusa recolhida em seu ventre, de modo que sempre pudesse indicar-lhe a desgraça e o benefício".
Hesíodo, Teogonia 886 - 900
Para que Métis pudesse aconselhá-lo sobre o bem e sobre o mal. O que é o bem e o mal para Zeus? O bem é tudo o que pode favorecer-lhe a expansão, e o mal tudo o que impede-lhe a expansão. O mal é a negação da sua possibilidade particular de expansão na objetividade, e momento em que pretende expandir-se. Métis não ensina somente isto. Não ensina o que é vantajoso diferenciando do que não é vantajoso, o bem do mal. Métis ensina a projetar em função do futuro. Métis ensina a racionalizar as escolhas. Métis ensina Zeus construir. Avaliar, ver, perceber e intuir as transformações e as adaptações que realiza quando executa uma ação. De maneira que uma ação, que parece ser de malvadeza, porque bloqueia o seu desenvolvimento ou de outros Seres no presente momento, se torna um grande ato de perspicácia quando, modificadas as condições nas quais se manifesta, surge como um impulso de força em situações diferentes. Métis ensina a Zeus o agir sem ter que agir: quando é possível obter um determinado resultado sem a ação, sem uma ação direta, mas alimentando ou eliminando a possibilidade de forças que concorrem para aquele resultado.
Métis ensina a Zeus a imobilidade, a dissolução da vontade própria para permitir a manifestação de outras vontades para que elas atinjam a vontade de Zeus e que, ao exprimirem-se, alimentem a vontade de Zeus.
Métis ensina a Zeus a arte da Stregoneria (Bruxaria).
O expor-se e o esquivar-se; o dilatar-se na objetividade; transitar pelas mudanças no tempo, para adiante e para trás; compreender a influência recíproca e a dedução mútua entre os vários mundos da percepção nos quais os Deuses agem.
O ato de "comer" Métis é descrito para fazer-se compreender o conceito de engolir. Não se aprende a tornar-se Stregone (Bruxo), mas há a transformação em Bruxo (Stregone). Engolindo-se os fenômenos da objetividade, e deste modo haverão as transformações em Bruxos. A ação de "comer" Métis é a ação de fazer próprio um modo de ser, de conceber, de intuir e de reiterar o intuir sob a forma de si mesmo na objetividade aonde se vive.
É a transformação de Zeus, através da fusão dele mesmo com Métis, que torna Zeus diferente dos Titãs que o precederam. Os Titãs vivem no mundo do tempo onde as ações são objetos da atualidade, de ações; Zeus vive em um tempo linear onde as ações, executadas pelos sujeitos no mundo, transformam tanto os sujeitos como o mundo em que eles agem. Zeus pode vigiar o seu futuro construindo as condições para futuros infinitos. Ele não teme que outros Deuses construam o futuro deles. Não teme a concorrência, não teme a discórdia. Exatamente, em razão da inteligência de Métis, aceita a concorrência e a discórdia como parte da construção de um complexo onde ele é quer seja o artesão quer seja uma parte em modificação. Zeus pode preparar-se para enfrentar o existente somente porquê Métis tornou-se parte indistinta de Zeus: ela mesma é Zeus! Zeus, por sua vez, engolindo Métis, renuncia a uma parte daquilo que ele era, transforma-se e arma-se (de inteligência) para enfrentar o futuro no qual é um artesão da sua construção própria nas mutações infinitas.
Esta arte é um dos dotes mais preciosos que Zeus concede aos Seres Humanos: um operar exclusivo da Bruxaria (Stregoneria): PERGUNTAR A SI MESMO O POR QUÊ DAS COISAS! Onde o porquê (como resposta) das coisas não vem a ser conhecido mediante a noção que a razão aprende, mas é conhecido através de um ato de violência que o sujeito comete a ele mesmo em relação às coisas do seu conhecimento. Engolir é um ato de violência a si mesmo! Se a razão, que se considera juíza e espectadora das ações, interpreta aquilo que ela assiste como ato de apropriação de um objeto por parte do sujeito, é somente porquê aquele ato obriga-a a modificar-se, radicalmente, produzindo o espaço da intuição de Métis, que surge dentro de Zeus. A Autoconsciência que realiza a ação do engolir cessa de existir. Nasce uma nova Autoconsciência. Aceita o próprio fim e o início de uma Autoconsciência diferente. Uma Autoconsciência composta pelo Conhecimento obtido pela realização da ação de engolir, e pela modificação que aquele engolir produziu. A Autoconsciência que se apresenta diante da própria objetividade não é mais a mesma. A diferença é constituída pela capacidade do sujeito de engolir objetos sempre maiores, e modificar continuamente o conhecimento próprio.
É a transformação alquímica do Bruxo (Stregone). A sua capacidade para chamar as coisas com os verdadeiros nomes delas e engoli-las. Fazê-las próprias, renovando um outro si mesmo, diante da objetividade em que vive.
Chamar as coisas, com os nomes verdadeiros delas, significa discriminar as coisas. Discriminar as coisas significa reconhecer a qualidade delas e a colocação das mesmas na objetividade em que vivem. Chamar as coisas com os verdadeiros nomes delas significa consentir à subjetividade exercitar a vontade própria dentro das determinações particulares, escolhendo assim, qual coisa engolir e qual coisa não engolir assinalando-se a direção da mudança, e da construção subjetiva. O DEUS é aquele que escolhe! Aquele que escolhe é aquele que se faz Destino construindo o seu vir a ser próprio. Se se preferir, a própria sorte, se não se tivesse que afirmar que aquela é a sorte da Consciência, pode-se fazê-lo, apenas porque observam-se as mudanças, através da quais, aquela Autoconsciência veio a ser. Portanto, somente a posteriori! Consequentemente, é somente um juízo da razão.
Perguntar a si mesmo o por quê das coisas, e Chamá-las com os verdadeiros nomes delas, conduz Zeus a tornar-se um Bruxo (Stregone), ensinando este proceder, aos Seres da Natureza.
E eis o produto da Bruxaria (Stregoneria) de Zeus. Toma o presente, engole-o e o reitera na nova situação que está sendo construída. Métis é um Titã, nascida de Oceano e de Tétis, e é a inteligência, a sabedoria, a capacidade estratégica como Autoconsciência em si mesma. Engolindo-a Zeus transforma-a na Métis que os Seres da Natureza podem utilizar para construírem o divino deles. Os Seres da Natureza não estão em condições para utilizarem a sabedoria, para projetarem, a inteligência em si mesma. Tudo isto deve tornar-se específico pela qualidade da existência deles. E é arte da Bruxaria (Stregoneria), específica de Zeus, que opera neste sentido.
Deste modo, Métis, para os Seres da Natureza e para os Seres Humanos, que é o nosso caso, vem a ser Atena! A arte da Armadilha parida pela cabeça de Zeus.
Este é um dos aspectos fundamentais da arte da Bruxaria (Stregoneria). Para o Ser Humano, que pratica a Bruxaria, a primeira etapa do seu caminho é descrever a objetividade, aonde vive, peguntando-se o por quê das coisas, e subjetivando as respostas de como chamar as coisas com os nomes verdadeiros delas. Esta atividade transforma-o em Bruxo (Stregone). Depois, manifesta o seu ser Bruxo sugerindo, novamente, à objetividade, escolhas diferentes e melhores para construir-se nas mudanças infinitas. Há outros aspectos da Bruxaria que são exclusivos dos Seres Humanos, que de qualquer modo, sem isto, não existe a arte da Bruxaria (Stregoneria). O Bruxo parte daquilo que se lhe apresenta, e então, ele constrói o novo.
Zeus, engolindo Métis, introduz na realidade da Natureza, e nos Seres da Natureza, a capacidade para projetarem, para fazerem-se Métis, agindo para construírem a si mesmos.
*NOTA*: As citações da Teogonia de Hesíodo são extraídas da tradução de Ettore Romagnoli "Hesíodo os poemas" Edição de Nicola Zanichelli, Bolonha 1929.
Nota através da transmissão radiofônica do ano 2000 - início da revisão em 18 de setembro de 2014.
Revisão
Marghera, 02 de novembro de 2014
A tradução foi publicada 12 de fevereiro de 2016
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni Mecânico Aprendiz Stregone Guardião do Anticristo Membro fundador da Federação Pagã Piaz.le Parmesan, 8 30175 - Marghera - Venezia - Italy Tel. 3277862784 e-mail: claudiosimeoni@libero.it |
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A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.