Com Prometeu e com as relações que dele surgem para construir os Deuses que nascem do Ser Natureza, para baterem às portas do Olimpo, se fecha a primeira parte da Teogonia de Hesíodo. A primeira parte da Teogonia de Hesíodo, que descreve o nascimento da vida da matéria inconsciente por meio da emoção. A emoção constrói um universo de relações das quais emerge o mundo do tempo, que se realiza através do nascimento dos Titãs. Do mundo do tempo, que propaga a emoção na ação, brota o mundo racional como nós o descrevemos e o pensamos. Nasce o mundo de Zeus. O que vem depois é como se fosse uma outra história. Uma outra etapa da construção do existente, através das relações e oposições, que os Deuses do racional fazem vir a ser. O último sujeito cosmológico da Teogonia de Hesíodo é Pandora. O sujeito feminino equipado para enfrentar a vida entre os Seres da Natureza.
A Teogonia que vem depois, com a munição feminina, o vir a ser de Pandora, é o nascimento da vida sobre o planeta Terra. A vida entendida como Natureza, entendida como formação das Autoconsciências na Natureza. O que se segue é a criação de Zeus. Uma criação que tem o seu início na Titanomaquia [a guerra entre os Titãs].
Os Deuses combatem entre eles. Na realidade, as discordâncias da existência se exprimem como necessidade que devem ser satisfeitas. Os ciclones da vida se manifestam e constroem as relações. Estas relações são a formação da objetividade na qual nova vida se pronuncia. Nova Gaia passa do estado de inconsciência ao de consciência. Novos Deuses nascem e se desenvolvem, novas ocasiões de discernimento se manifestam.
O novo não nasce prescindindo do existente ou do que já se manifestou, mas nasce como germinação das e nas condições construídas pelos Deuses que já se manifestavam, e que construíram os equilíbrios nos quais há o manifestar da existência deles. Os Deuses mantêm a presença deles também quando o novo, que desequilibra o presente em que nasce e que avança no infinito das mudanças, construindo condições melhores, nas quais se exprime, mostra-se dominante na cena da vida.
Urano Estrelado não desaparece com a chegada de Cronos e Cronos não desaparece com a chegada de Zeus. Os nascidos de Cronos são os que nascem como fragmentos de Urano Estrelado, e os nascidos de Zeus são fragmentos de Urano Estrelado e de Cronos propagados na forma e na quantidade que a razão descreve.
Antes de principiar a construir um equilíbrio do existente do qual o novo pode destacar-se com um salto, há o período do meio. É um período de grandes lutas e grandes transformações nas quais a objetividade é construída como manifestação dos Deuses que, construindo e entremeando o seu espaço de existência, se mostram: triunfantes. Os Deuses que vencem o duelo se expandem. Expandindo-se ditam as regras nas quais o novo germina. Do mesmo modo como Gaia e Urano Estrelado construíram naquele tempo uma objetividade deles. Assim procederam os filhos de Urano Estrelado, quando Cronos impôs a cada um a Liberdade própria através do uso da vontade particular. Da mesma forma procederam os filhos de Cronos quando tiveram de enfrentar os outros Titãs com os quais competir com o direito de construir a objetividade e estabelecer as condições para que pudessem gerar os seus filhos. Filhos de vencedores, mas que conservam o divino dos vencidos. Nas lutas entre os Deuses vencer ou perder não é a mesma coisa. O vencedor constrói as condições nas quais acontece a germinação da vida, o derrotado coloca as condições manifestando-se, seja como for, na própria vida. O vencedor é objetividade na qual o novo se exprime, e pois, condiciona as transformações do novo, o vencido é parte da mistura (original em italiano: *crogiolo*) do novo e das suas adaptações. Assim, dentro de cada novo nascido, o vencedor se exprime construindo a existência e o vencido manifesta a sua presença, determinando nele, a qualidade do novo que germina.
Nada do que germinará poderá jamais prescindir de Urano Estrelado e Gaia. Cada coisa que germinará, qualquer que seja a sua "natureza", não poderá germinar, a não ser germinar exprimindo o Intento, Eros, aquele que quebra a forma; o mais belo entre os imortais.
Os Titãs derrotados crescem dentro de cada Ser da Natureza, e através das tensões, que incitam às ações urgentes, os Seres da Natureza manifestam a presença desses Titãs. Desse modo, Prometeu está sempre preso e uma águia lhe dilacera o fígado, até que o Ser Humano individual tome em suas próprias mãos o seu vir a ser particular e, contra o querer dos Deuses da forma, solte o Prometeu que, dentro dele, engloba a crítica áspera da sua inteligência, a centelha do Saber e do Conhecimento. Para fazer isto, este Ser Humano deve fazer-se Hércules e afrontar Hera, que pretende acorrentá-lo ao vir a ser do Ser Natureza. Quando este Ser Humano faz crescer a sua força em confronto com os Deuses, ei-lo fazendo-se Atlas e sustentando sobre os seus ombros o vir a ser da sua própria espécie.
Por quê afirmo que a primeira parte se encerra? Todavia, a respeito de lutas, as vimos numerosas entre os Deuses. Cronos que bloqueia o poder de Urano Estrelado e o castra, e o peculiar Zeus que debilita Cronos: ambos com a ajuda da "mãe", Gaia e Rea.
Porquê as transformações se aproximam da construção do presente. Uma vez construído o mundo da forma, da descrição, da quantidade, em outras palavras, o mundo da razão, todo o nosso vir a ser, inclusive quando manifestamos Urano Estrelado ou Cronos, se encerra na forma porque na forma atuamos com aquelas ações que transformam a nossa morte do corpo físico em nascimento do corpo luminoso: é na forma que nós nos transformamos para virmos a ser Deuses.
A qualidade resulta da quantidade e daquela expressa por Zeus nas disputas com os Deuses Titãs, os construtores do mundo do tempo, diz respeito a nós, ao nosso existir e ao nosso vir a ser. Provavelmente, Urano Estrelado não se referia a nós? Sim, mas se refere à tantas outras espécies e não necessariamente no que acontecia entre Cronos e Urano Estrelado, de modo que pôde se referir somente a nós, porquanto a nossa objetividade foi moldada pelos filhos de Rea e Cronos. Nós falamos de nós apenas porque existimos, e ao olharmos para trás vislumbramos algumas ações divinas que conduziram à nossa existência. Voltamo-nos para trás porquê agora somos; neste momento estamos nos construindo, a nós mesmos. Mas, o regressarmos atrás não é para exaltarmos aquilo que viemos a ser como sendo o centro de tudo. Não é para nos espelharmos na magnificência das grandes transformações cósmicas, que permitiram a nossa existência, porém é para aprendermos. Aprendermos que somos uma mistura de Deuses (original em italiano *crogiolo di Déi*) e que cada sentimento, cada percepção e cada ação que praticamos é a expressão de um DEUS, do complexo de Deuses, que constituem isto que somos. Renunciar em manifestar os Deuses dentro de nós é renunciar em colhermos da árvore da vida; é renunciar para sermos os Deuses.
Enxergar as grandes transformações cósmicas permite-nos ficarmos conscientes das oposições atuando. Contradições e contraposições que se manifestam neste presente. No presente que assistimos e vivemos. As contradições, as contraposições, as colisões se manifestam ao nosso redor em cada batalha para a vida, para a existência, e o que resulta dessas colisões é o que determina o futuro. Determinam as condições para que outros Seres que olham para trás possam admirar as nossas batalhas pela vida, que os levaram a ser isto que são, deste modo podem extrair exemplos dos Prometeu(s), os Hércules ou os filhos da Noite Negra, ou de Tétis e Oceano, ou inclusive de nós mesmos, e assim, vencendo as batalhas deles se permitiram ser o que são.
Enxergar a batalha dos Deuses permite-nos perceber essas batalhas dentro de nós e transformá-las em experiência nas relações com o mundo que nos cerca.
Olhar às Batalhas dos Deuses significa matarmos a sede junto à fonte que gerou o que somos, significa fazermos pessoal a experiência da vida, significa tomarmos consciência do que nos tornarmos, e forjarmos as armas com as quais podemos entrar na batalha presente. Uma batalha de Deuses onde o que se coloca em jogo é o futuro da nossa espécie, como parte do futuro inteiro do Universo. Olhar às condições e às contradições do que os Deuses se transformaram permite-nos desenvolvermos a consciência de que somos os Deuses, e como Atlas, nos tornarmos responsáveis da missão colossal para fundarmos o futuro ou, se preferirem, de sustentarmos o mundo. Porquê quem funda o futuro coloca o mundo sobre os seus ombros sustentando o peso dele, e orienta-o à transformação: nem mesmo Hércules foi capaz disto!
A segunda parte da Teogonia abre-se com as batalhas dos filhos de Cronos e Rea com os Titãs. A segunda parte da Teogonia inicia-se quando Zeus reivindica o direito de construir o mundo da forma e da quantidade, diferenciando-o, pois, do mundo do tempo.
*NOTA*: As citações da Teogonia de Hesíodo são extraídas da tradução de Ettore Romagnoli "Hesíodo os poemas", Edição de Nicola Zanichelli, Bolonha 1929.
Nota através da radiodifusão do ano 2000 - início da revisão em 18 de setembro de 2014
Revisão
Marghera, 20 de outubro de 2014
A tradução foi publicada 27 de dezembro de 2015
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni Mecânico Aprendiz Stregone Guardião do Anticristo Membro fundador da Federação Pagã Piaz.le Parmesan, 8 30175 - Marghera - Venezia - Italy Tel. 3277862784 e-mail: claudiosimeoni@libero.it |
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A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.