A apresentação da mulher, por parte de Hesíodo, tem seguramente o aspecto de desprezo às muitas representações da mulher e, seguramente, está em sintonia com a ideia cristã da mulher como escrava e submissa ao homem. Isto enganou também a mim, mas as coisas estão de fato como parecem na descrição de Pandora?
Zeus oferece Pandora a Epimeteu e este, propenso a satisfazer o presente, negligente quanto às consequências, é enganado por Zeus aceitando Pandora. Em alguns mitos se diz que Epimeteu aceitou desposar Pandora depois que Zeus havia acorrentado Prometeu, mas isto não nos interessa muito enquanto lemos Hesíodo.
O episódio de Pandora é um dos poucos episódios de Hesíodo onde a ação contradiz a representação, e a ideia geral da representação.
A primeira pergunta que fazemos, e que deve ser feita por qualquer pessoa que leia o mito em Hesíodo é: De quem Pandora é filha? É como se nos perguntássemos: De quem os músculos de Hércules são filhos? De fato, no caso de Pandora, não se trata de descendência de pessoas, mas de decendência de qualidades atribuídas às pessoas. A pergunta é: Que coisa Zeus transfere entre os Seres Humanos tendo Pandora como intermediária?
Na análise do mito temos visto, como representações divinas, tais como potência, força, justiça, nascem de vários Deuses e são frutos de várias genealogias, como aquela de Urano Estrelado e de Ponto. Os Deuses são machos ou fêmeas igualmente, somos nós, como Seres Humanos bissexuados, que individuamos uma característica na qual os Deuses se apresentam como machos, e uma característica na qual os Deuses se representam como fêmeas.
Somente entre os nascidos na Natureza, em Hera, os Seres têm a característica sexual que distingue as escolhas deles na vida quotidiana.
Nunca tivemos nenhum motivo para rir sobre os músculos de Hércules, mas como os colocamos em relação à mulher, o Ser Humano feminino, que se faz Hércules?
O que significa fazer-se Pandora?
Hesíodo escreve na Teogonia, traduzida por Romagnoli:
Giove que vibra do alto, encheu o seu coração de fúria, como entre os homens viu a labareda que ao longe brilha; e um mal, em extrair do fogo a vingança, criou-a aos mortais Um simulacro modelou com a terra o insigne Ambidestro [Hefesto], símile a uma menina casta: o quis o Cronide, A Diva guarneceu-a e adornou-a, Atena de olhos fulgurantes. com uma veste cândida, sobre a cabeça colocou uma mitra ornada com suas mãos, estupendo vê-la, e sobre a fronte guirlandas de flores colocou-as Palas Atena, recém surgidas no prado florido. E com um diadema de ouro revestiu ao redor da fronte, que para ela tinha forjado o insigne artífice ambidestro, com suas próprias mãos, para agradar o Cronide. Nele muitas exibições esculpidas com arte estupenda muitas, eram, como as que nutrem o mar e a terra: muitas esculpidas haviam, fulgurando-a em suma beleza, maravilhosa; e todas pareciam terem vozes. -
Hesíodo, Teogonia 568 - 584
Pandora nasce de dois artífices da vida, o casal que nunca foi casal: Hefesto e Atena! Um não casal do qual, em outros mitos, se diz que teve nascimento o fundador de Atenas de um respingo de esperma de Hefesto caído sobre as pernas de Atena.
Hefesto foi parido por Hera, sozinha, pela raiva sofrida por ela quando Zeus após ter engolido Metis, pariu da sua cabeça Atena armada e com armadura. Atena não pode parir, Atena é uma das três Deusas virgens do mito. As outras são Ártemis e Héstia. Como ninguém pode possuir (virgens significa, não serem possuídas) o princípio feminino da vida, Ártemis, e muito menos a verdade, Héstia, do mesmo modo ninguém pode possuir a Arte da armadilha, Atena: todos podem manifestá-la, mas ninguém pode fazê-la exclusiva.
Pandora aparece como "as qualidades potentes do Ser Humano feminino!".
Ambos os Deuses, Hefesto e Atena, são Deuses que se manifestam na atividade de construtores, o primeiro como artífice e a segunda como criadora, fabricante, inteligência para projetar, mente racional.
Estas manifestações divinas são aquelas que são transferidas de Zeus ao Ser Humano feminino, através da obra de Hefesto e Atena.
Hefesto molda a forma e Atena concede as armas: a veste, a mitra, a coroa, um diadema no qual estavam impressos os sinais de todas as feras do mar e da terra. Aquelas feras se tornaram as vozes das emoções de Pandora. Pandora era todas elas!
Atena é a arte da armadilha: forja armas, instrumentos e técnicas da "guerra", ou instrumentos para os artesãos que vivem o trabalho como se fosse uma guerra, com os quais afrontar a vida, próprios da Arte da Armadilha. Hefesto modela a forma e Atena os apetrechos.
Hesíodo escreve na Teogonia, traduzida por Romagnoli:
- Em seguida, como esculpiu aquele belo mas indigno desastre, causou aonde estavam os outros Celestes e os mortais, a mulher, toda ornamentada por Atena dos olhos azul-claros. E maravilha receberam as pessoas mortais e os Númens, quando a excelsa trapaça funesta aos humanos foi vista.
[Nota: dela de fato vem a estirpe das mulheres.]
Hesíodo, Teogonia 585 - 590
Atena completou a sua obra-prima: agora a mulher tem armas com as quais competir com os homens. Nem músculos, nem clava, mas armas potentes com as quais fascinar e aprisionar. Armas potentes como todas as vozes das feras do mar e da terra que atravessam as suas emoções.
A armadilha que Zeus solicitou à Atena é a de transferir, entre as mulheres, o poder da sobrevivência do gênero feminino em todas as condições desfavoráveis da vida, que tenderão a tornar a mulher escrava. Uma mulher que Zeus quis proteger forjando as armas adequadas. Prometeu prudente, está atento às essas armas. Não é de Prometeu que a mulher deve se defender, mas de todos os Epimeteus que para imporem o domínio no tempo presente, não perceberam os efeitos que as suas ações têm, com as suas escolhas e com as suas decisões.
Hesíodo escreve na Teogonia, traduzida por Romagnoli:
- Disto derivou a conservação da estirpe das mulheres, a derivação da raça, a estirpe funesta própria das mulheres, grande infelicidade que vivem entre os homens destinados a morrerem, que não são companheiras da pobreza, mas do luxo. Como no momento em que nas suas colmeias profundas, as abelhas nutrem os abelhões indolentes, companheiros de cada obra pérfida: eles o dia inteiro, desde quando o sol mergulha no mar até que a luz brilhe, enchem os favos puros; e, permanecendo os abelhões no fundo dos obscuros alvéolos, ajeitados no ventre fazem aquilo que conseguiram de outras: similarmente, em prejuízo dos homens, Giove que ressoa do céu, pôs as mulheres, companheiras de cada obra vil. E um outro mal, em vez de um bem, também infligiu aos mortais quem, para fugir de tantas preocupações que as mulheres dão, evita a união, e acrescenta um pouco de sal à velhice danosa: não há, embora nada que lhe falte, ninguém que não a assista; e quando a morte vem, participam entre eles do seu fundamento parentes longínquos . -
Hesíodo, Teogonia 591 - 607
"O gênio desastroso das mulheres". Trata-se do juízo de necessidade que Hesíodo fornece, no sentido do modo de combater na sociedade, próprio das mulheres.
Mulheres que não são companheiras da miséria, da pobreza e da indigência, mas encorajam para a saída da indigência, da pobreza e da miséria. Vão à procura do luxo, do bem-estar, do prazer e da argúcia. Como deveria fazer o homem e toda a sociedade. A pobreza não é um ideal nem um valor. É somente uma condição imposta por meio da violência.
Por esse motivo, Hesíodo compara as mulheres aos zangões, que vivem do trabalho de outros, uma espécie de parasita. Mas este é um juízo de Hesíodo, não a obra dos Deuses.
A impressão é a de que Hesíodo desvia-se da ocasião do conto de Pandora, para inserir aspectos sociais totalmente estranhos aos Deuses dos quais está fazendo a narração. Do momento em que Zeus solicitou a Hefesto e a Atena para equiparem Pandora para que se torne o modelo com que a mulher se municia, Hesíodo acrescenta os motivos pelos quais Zeus teria feito isto, baseando-se nas suas predileções pessoais, e aproveitando a narração para inserir o seu desprezo pessoal estabelecido pela mulher, muito provavelmente por predileções homossexuais.
Portanto, a narração de Pandora é lida em duas partes distintas. De um lado a ação dos Deuses, e do outro lado os motivos e as considerações pessoais de Hesíodo.
Enfrentar as condições do quotidiano com os músculos e com a clava, como faz Hércules, não é mais digno do que enfrentar as condições do quotidiano com o fascínio e com a arte de enfeitiçar. Nem sempre tu matas o leão, às vezes é suficiente acariciá-lo. A arte da guerra de Atena não constitui a arte do massacre pelo massacre, é a arte que resolve o desacordo da existência e as armas que Atena forja para Pandora, são armas que conquistam sem destruírem a vida. Podemos dizer que aquelas armas são a "coerência" da beleza e da propagação da emoção no mundo: as armas dos Deuses.
As análises sobre mal produzido seja pelas mulheres, seja pela negação das mulheres em Hesíodo, parece mais uma prova de desespero de Hesíodo e não a vontade de Zeus. A "triste velhice" é o medo de Hesíodo da solidão e do bloqueio oriundo da sua velhice porque rejeita viver com uma mulher, ou de ter filhos, e não uma condenação de Zeus. Consequências da escolha de Hesíodo, não vontade dos Deuses.
Não é caso de Pandora vir associada a Epimeteu, aquele que olha para o tempo presente e não é conhecedor do efeito que as ações, praticadas hoje, provocarão no futuro.
É conferido a Epimeteu a advertência de Hesíodo acerca da vontade de fugir das relações com as mulheres.
Hesíodo escreve na Teogonia, traduzida por Romagnoli:
- Quem depois o destino quis por marido quando inclusive tendo uma mulher honesta, de mente prudente, mesmo com o tempo, também para ele se contrabalançarão o bem e o mal. Mas aquele que se confronta com uma de estirpe cruel, nutre, por toda a vida, uma inquietude no peito, no ânimo, no coração, e não há remédio para o seu mal. Nem se pode transgredir, nem frustrar o querer de Giove. Nem mesmo Prometeu, o benéfico filho de Jápeto, ao seu implacável desprezo foge: com potência fatal grilhões ferozes o sufocaram; embora tivesse sido sagaz -
Hesíodo, Teogonia 607 - 616
Fugir das relações que existem na vida e na Natureza, que predispõem a um futuro triste. Um futuro diante do qual Hesíodo parece renunciar, concebendo-o como inevitável: ou tu tens relacionamento com Pandora ou tens um futuro triste. Pandora está munida de armas forjadas por Hefesto e preparadas por Atena. Armas com as quais transferir à razão o furacão emotivo das paixões e nesse furacão enrolar a vida.
De Pandora não se foge, com Pandora constrói-se o futuro caminhando-se juntos. A esperança permanece prisioneira no vaso, todos os "males" liberados por Pandora são as condições da vida nas quais homens e mulheres transformam-se em Deuses.
*NOTA* : As citações da Teogonia de Hesíodo são extraídas da tradução de Ettore Romagnoli "Hesíodo os poemas" , Edição de Nicola Zanichelli 1929.
Nota através da radiodifusão de 2000 - início da revisão em 18 de setembro de 2014
Revisão
Marghera, 20 de outubro de 2014
A tradução foi publicada 23 de dezembro de 2015
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni Mecânico Aprendiz Stregone Guardião do Anticristo Membro fundador da Federação Pagã Piaz.le Parmesan, 8 30175 - Marghera - Venezia - Italy Tel. 3277862784 e-mail: claudiosimeoni@libero.it |
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A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.