De Urano Estrelado e Gaia, é gerado o tempo como espaço, no qual fundar a transformação das consciências e dos entendimentos.
O imenso Urano Estrelado emotivo constrói um espaço para que os seus próprios filhos possam transformar-se, e este espaço é o espaço do tempo, das transformações, da mudança, da aglomeração mediante a ação, do "corpo emotivo".
Hesíodo escreve, traduzido por Romagnoli:
"Depois, com Urano acomodada [Gaia], gerou o Oceano profundo, e Coio, Crio, Jápeto, Mnemósine, Têmis, Rea, Hipérion, Téia, a amável Tétis e Febe da guirlanda de ouro. Depois destes o fortíssimo Cronos vem à luz, de sagaz advertência, entre todos os jovenzinhos o mais tremendo; e de ira terrível atrevida contra o pai."
Hesíodo Teogonia, 132 - 138
Os Titãs são as condições do vir a ser e da transmutação.
Qual vir a ser, como vir a ser, em que condições metamorfosear, o que selecionar para o vir a ser?
Os Titãs são o "deve". Se assim for desejado, deve.
Se alguém desejar transformar-se deve impor-se os deveres, como método com qual enfrentar a sua existência. Trata-se dos deveres, como forma única de dever, que o homem e a mulher devem se impor para poderem se transformar em um DEUS. Os Titãs não dizem ao homem o que ele deve ou não deve fazer, mas dizem-lhe o que ele deve querer para conseguir obter uma transformação, que o projete no infinito das mudanças, levando-o a ser uno com Urano Estrelado.
Deve conhecer o alfabeto, se deseja aprender a ler. Deve se instruir se deseja participar, em situações favoráveis, de uma competição esportiva. Deve levar o alimento à boca se deseja comer. O dever entendido como necessidade subjetiva para atingir um objetivo. Atingir um objetivo é o que confere dignidade ao sentido do dever subjetivo.
Em uma sociedade onde o apelo ao dever está em função da submissão dos impulsos psico-emotivos do indivíduo a um sujeito externo (tipo o deus-patrão cristão), não movimenta os Titãs; somente invocando a atenção do indivíduo aos deveres que ele tem em relação a si mesmo, enquanto for um sujeito que habita o mundo, denota começar a agitar os Titãs que estão dentro de cada um de nós.
Nós não podemos pensar nos Titãs a não ser na dimensão do dever em função da conquista do objetivo da nossa vida. Esta é a criação de Gaia, a matéria-energia do universo, e de Urano Estrelado. Urano Estrelado é inteligência emotiva em corpos de energia-matéria que ocupam o universo; inteligência emotiva em corpos de energia-matéria que persistem, é o objetivo do dever, que Urano Estrelado baixa nos seus filhos, os Titãs.
Tu, diz Zeus, não és obrigado a manifestar os Titãs para viveres na Natureza. Podes viver sem manifestares os Titãs enquanto Titãs; eu, diz Zeus, com as minhas relações, transformo os Titãs (os filhos de Zeus) em qualquer coisa de "fusão" que possa ser usada pelos nascidos na Natureza. É verídico, diz Urano Estrelado, mas se tu desejas caminhar além da forma que Zeus construiu, para permitir aos filhos da Natureza transformarem-se, deves alimentar os Titãs que constituem os deveres da tua existência.
O primeiro dever de um Ser da Natureza, de um Ser humano, no nosso caso, é pensar-se como Téia. Ser Téia. Alimentar e manifestar a Téia dentro de si mesmo. Téia é a geradora de luz, geradora de perspectiva, geradora de futuro, geradora de possibilidade. Esse gerar de luz, entendida como dever do sujeito no exercício da sua vida, que deve levá-lo a "voar alto", acima da presente forma vivida. Uma forma daquilo que se vive que não deve aprisionar o indivíduo que deseja transformar-se naquilo que Urano Estrelado é, mas deve ser superada pelo indivíduo em uma perspectiva de modificação subjetiva, em uma objetividade que se transforma. O indivíduo se faz Téia e se faz Hipérion porque isto é o dever da própria existência na forma construída por Urano Estrelado. Urano Estrelado gera os Titãs como forma de construção do tempo como mundo, mas os Titãs constituem deveres aos quais as pessoas devem observar para viverem uma existência plena.
A tensão da transformação manifesta o Crio dentro de nós. Crio é a constante tensão de fazer o melhor. Sempre o melhor do melhor daquilo que se faz. Esta condição, seja como atividade na ação, seja como tensão psico-emotiva, é a manifestação do Titã nascido de Urano Estrelado e Gaia que dá impulso aos Seres nas suas transformações. É um dever, fazer hoje o melhor do que se fez ontem e preparar-se para fazer melhor ainda amanhã. É somente nesta condição, na manifestação de Crio, que podemos nos unir a Euribe, a força, a potência das representações do nosso Poder de Ser. Se não manifestamos Crio, os mecanismos psico-emotivos que deveriam manifestá-lo se fecham em si mesmos, e ao invés de manifestarmos "aquilo que somos", manifestamos "aquilo que possuímos". Quando manifestamos aquilo que possuímos, não manifestamos o nosso poder de ser, mas os objetos (ou os sujeitos reduzidos a objeto de uso) através dos quais procurarmos afirmar a nós mesmos em um nundo que nos vê, naquele momento, objetos à parte.
O fazer melhor, ser Crio, é um "penetrar" o desconhecido que nos cerca. Perfurar as barreiras do conhecido conscientes de que, além, existe uma imensidão para ser explorada. Dirigir, deste modo, o seu próprio fazer melhor, é um fazer-se Jápeto. É a manifestação do Titã Jápeto, dentro de nós. Uma manifestação que externamos habitando o mundo no qual viemos a ser. Penetrar o desconhecido que nos cerca, examinar e descobrir aquilo que nos é desconhecido, é um dever. Os homens e as mulheres que não se fazem Crio, encarceram as suas emoções, a sua inteligência e a sua percepção, dentro de muros que as delimitam, e que acabam sendo bloqueadas em si mesmas. Manifestar Jápeto nos permite não somente nos expandirmos, mas também expandirmos a nossa racionalidade construída no mundo de Zeus, mas que não necessariamente deve ser confinada na forma e na quantidade. Jápeto é o Titã que alimenta a nossa força com a qual modificarmos os limites da nossa racionalidade.
De Urano Estrelado nascem as contradições que, solucionadas em nós mesmos, nas nossas transformações, nos indicam um caminho da transformação, que está entre a escuridão da imensidão e a luz do que já nos é conhecido; uma luz da imensidão e a escuridão do descoberto. Uma vastidão para ser atingida em uma passagem eterna entre o incognoscível e o cognoscível onde modificar, ininterruptamente, o nosso presente. São os Titãs Céos (ou Coio) e Febe, que unidos em amor, tanto um como o outro indicam um futuro possível. Um é Febe, a luz, seja esta a luz que ilumina e torna claro o tempo das transformações que vem de encontro a nós, ou seja como iluminação da nossa consciência cada vez que desvendamos qualquer coisa desconhecida. O outro é Céos, a escuridão, o negro do presente, que neste momento vivemos, e do qual a tendência é emergirmos construindo um futuro possível. É um dever do homem pensar no presente como uma escuridão. Pensar nos aspectos que criam tensão e sofrimento neste presente, e removê-los em direção a uma luz de um presente diferente do qual sempre tenta aflorar. É assim que a vida vem a ser, entre luz e escuridão do compreensível de si mesma, e com a exigência de persistir modificando-se continuadamente.
Dois deveres, que cada sujeito, que nasce no mundo do tempo definido por Urano Estrelado, deve observar: Têmis e Mnemósine.
Têmis é pensada como a "justiça universal" ou mais precisamente, como o equilíbrio que se recupera no universo, cada vez que uma ação modifica o equilíbrio ou o conjunto dos equilíbrios. Têmis é a atitude que responde à atitude. Têmis é a ação que responde à ação.
O mundo do tempo é um mundo de ações e estas modificam continuadamente o presente vivido, obrigando os sujeitos a se adaptarem. É um modo para construir a si mesmo. Por meio das ações as emoções se difundem, e o envolvimento emotivo molda a estrutura emotiva do sujeito que age. Só que, ao agir, o sujeito força a outros sujeitos a agirem. Aqui intervém o Titã Têmis dentro de nós. A Têmis dentro de cada sujeito (que Zeus baixará entre os Seres da Natureza, por meio dos filhos que tem com Têmis), que o faz vibrar diante das injustiças, que sempre são uma percepção subjetiva da modificação do seu ambiente racional, além de como vem a ser subjetivamente percebido; ou a conquista de objetivos por meio de ações pensadas e executadas sem danificar o mundo das relações dos sujeitos nos quais intervêm. Agir no mundo, construindo o mundo.
Urano Estrelado ao construir as regras, isto é os deveres próprios do mundo do tempo, as estabelece por meio dos Titãs sendo que uma dessas regras, um desses deveres, que são observados, é Têmis: obrar com justiça tanto para si como para o mundo.
O Titã que garante aos Seres a continuidade das ações na linha da expansão e da transformação, que tiverem escolhido, é Mnemósine.
Mnemósine geralmente indica "memória". Nós, como Seres Humanos, entendemos a memória como sendo a arte de recordar, racionalmente, coisas ou acontecimentos. Trata-se aqui de um aspecto muito secundário, senão irrelevante, de Mnemósine.
Mnemósine, como Titã, não indica tanto aquilo que é recordado, mas o quanto que foi acumulado dentro da estrutura emotiva, por meio da experiência acumulada através da ação. Mnemósine indica a transformação do sujeito na ação, que sedimentando-se na estrutura emotiva, leva o sujeito a assimilar determinada experiência.
No mundo do tempo, Mnemósine é um Titã fundamental na construção dos Seres que se constroem por meio da ação. Se você não tiver acumulado aquilo que proveio da experiência precedente modificando a sua estrutura emotiva, então não está preparado para enfrentar a nova modificação do mundo na qual deverá agir para acumular ulterior experiência, e modificar a sua estrutura psico-emotiva. Modificações da estrutura emotiva que se traduzem em um acúmulo de Poder de Ser por meio da transformação.
No tempo se evolui por modificação e Mnemósine é a memória da modificação, como estrutura psico-emotiva das variações do sujeito.
De Urano Estrelado e Gaia vêm definidos dois grandes mundos. O mundo do tempo com Cronos e Rea, e o mundo em que o tempo se manifesta com Oceano e Tétis. Cronos é o tempo, a mudança, o espaço da transformação gerado por Urano Estrelado e Rea, aquela de quem tudo flui, tudo provém, tudo nasce e se transforma no infinito do tempo: de Cronos.
A construção do mundo do tempo é a obra-prima universal de Urano Estrelado. Um mundo de ação no qual Autoconsciências se constroem seguindo os deveres, Titãs, que Urano Estrelado gerou. Cada Autoconsciência que surge no mundo do tempo DEVE, no sentido de que tem o dever, salvo as suas escolhas subjetivas para interromperem o exercício desses deveres, de alimentar os Titãs dentro de si para poder construir a si mesma na eternidade das mudanças.
Cronos é o mundo da mudança. O mundo como tempo. É o senhor desse mundo e reivindica os seus direitos de um mundo em si, no exato momento em que castra Urano Estrelado, erguendo uma barreira na comunicação e na dependência das emoções daquele mundo do qual tornou-se independente. No mundo de Cronos, as ações são objetos; a ação é o único objeto real. O que não age, no mundo de Cronos, não existe, é transparente e as ações transpassam o que não age.
Rea é aquela da qual tudo flui, sendo que os Seres Humanos devem se fazer Rea, fazendo fluir, deles mesmos, o tempo da ação que, levado ao mundo da razão, é tempo de relações que constroem o mundo e a vida. Os construtores do mundo e da vida são aqueles que se fazem Rea e que, no mundo da razão, tornam a mudança viva e consciente, o tempo, em que a ação deles com as suas escolhas se tornam forma e substância. Equidna é o coração emotivo da Terra; Gaia é o seu corpo, Rea é a inteligência intencional da Terra, aquela que elabora o fluir da vida sobre o planeta. Rea é a própria Terra.
O mundo do tempo é definido por Urano Estrelado por meio de um início. O início leva o nome do Titã Tétis. A Antiga, a Ava, a progenitora da qual tem início um mundo, do mesmo modo como tem início o mundo de Nereu com a Nereida Proto.
E esse início tem por companheiro um outro Titã: o rio da vida. O rio das emoções que geram a vida. A Antiga, a Avó, a Ava, Tétis unindo-se com Oceano faz fluir a energia emotiva, a energia vital sobre toda a Terra, gerando possibilidades infinitas nas quais as autoconsciências possam vir a ser.
Dos Titãs, gerados por Urano Estrelado, tem início a história dos Seres da Natureza. Agora que Urano Estrelado construiu o mundo do tempo, o mundo no qual a ação é substância e objeto, nada resta senão estruturar esse mundo. Os Titãs o habitarão com os seus filhos, construindo um mundo no qual o fluir do tempo é medida da mudança, mas alguém entre eles nascerá que subordinará o tempo como ação produzida por objetos definidos na forma e na quantidade.
Não obstante, esta é uma nova e diferente criação do mundo por obra dos filhos dos Titãs. Apesar disso, os Titãs são a substância do mundo, a mistura (original em italiano: crogiolo) da qual é feita o mundo e a estrutura da qual é feita a ação consciente que se move na matéria. Ainda que Zeus encerrará os Titãs no Tártaro, com portas altas de bronze, os seus filhos para conquistarem o céu da vida e se tornarem eternos e conseguirem chegar às portas do Olimpo, deverão liberar os Titãs de dentro deles e reencontrarem todos os Titãs para poderem habitar o mundo de Cronos.
Liberar os Titãs é o exemplo que nos dá Hércules, que liberta Prometeu da prisão na qual Zeus aprisionara-o. Liberar os Titãs dentro de nós para podermos transpor as portas do Olimpo.
Você deve!
Aos nascidos no tempo e na mutação, Urano Estrelado diz: você deve alcançar o infinito, e os Titãs são isso que você é! Você é constituído pelos Titãs!
Na sociedade em que vivemos, dever é uma palavra estranha. É um dever manter a direita ao dirigirmos o automóvel. Você pode não observar esse dever e dirigir no sentido oposto, da esquerda, mas isto somente se você desejar se suicidar. Se não desejar o suicídio, é dever seu manter a sua direita. Do mesmo modo, se você deseja se suicidar, não abra as portas do imenso Tártaro e não viva as paixões dos Titãs dentro de você.
O mundo do tempo é o mundo gerado por Urano Estrelado, e a foice de Gaia cortou o cordão umbilical que ligava o mundo do tempo ao mundo emotivo. Separou a ação da emoção, só que a ação manifesta o poder, mas não o sedimenta, e isto é a fraqueza de Cronos.
NOTA : As citações da Teogonia de Hesíodo são extraídas da tradução de Ettore Romagnoli "Hesíodo os poemas", Edição por Nicola Zanichelli, Bolonha 1929
Nota: transmitida pela rádio do ano 2000 - início da revisão em 18 de setembro de 2014
(Trecho extraído da Obra de Claudio Simeoni *A Estirpe dos Titãs*, um trabalho iniciado em 27.12.1999)
Revisão
Marghera, 11 de outubro de 2014
A tradução foi publicada 19 de outubro de 2015
Aqui você pode encontrar a versão original em italiano
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Claudio Simeoni Mecânico Aprendiz Stregone Guardião do Anticristo Membro fundador da Federação Pagã Piaz.le Parmesan, 8 30175 - Marghera - Venezia - Italy Tel. 3277862784 e-mail: claudiosimeoni@libero.it |
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A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.