A leitura alegórica de Teogonia de Hesíodo

As imagens da religião Pagã
Teogonia de Hesíodo

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

Il libro

 

A Estirpe dos Titãs em Teogonia de Hesíodo
A leitura alegórica de Teogonia de Hesíodo

Sei, perfeitamente, que Hesíodo é lido dentro da filosofia de modo alegórico. Por exemplo, é elencada como a primeira trindade composta por GAIA, URANO e EROS. Onde GAIA é interpretada como a sendo a matéria, URANO o céu e EROS a atividade da matéria que se reproduz a si mesma. Ou são lidos, de maneira alegórica, os filhos da NOITE.

Schopenhauer diz:

"Os gregos primitivos [...] não conseguiam exprimir o pensamento deles, senão sob a forma de imagens e de metáforas."

Seguramente um belo passo adiante, portanto, em relação a Martino de Braga que aproximadamente em 573 desvairava:

"Por isso o diabo e os seus ministros, os demônios, que foram expulsos do céu, percebendo que os homens incultos, que tinham abandonado o criador deles, estavam se enganando atrás de criaturas, começaram a se manifestarem com essas criaturas, de diversas formas, e a conversarem com elas e estas a exigirem que se oferecessem sacrifícios sobre os montes altos e nas selvas densas, e que fossem adoradas no lugar de deus, dando-se nomes de homens malvados, que passaram a vida com todos os tipos de crimes e malvadezas. E assim, um afirmou ser GIOVE (JÚPITER), mago e incestuoso em si e em situações graves de adúltero, ao ponto de tomar como mulher sua irmã, que foi chamada GIUNONE (obs.: para o conhecimento de GIUNONE www.federazionepagana.it/giunone_caminho_de_ouro.html) e chegar a corromper as suas filhas MINERVA E VÊNUS, e também a violarem torpemente os netos e todos os parentes. A um outro demônio chamou-se de MARTE, que foi instigador de litígios e de discórdias. Um outro, depois, desejam que se chame MERCÚRIO, que foi o astuto artífice de todos os roubos e fraudes; a este, como deus do ganho, os homens cheios de cupidez, ao passarem nas encruzilhadas, oferecem em sacrifício montes de pedras, arremessando pedregulhos. Um outro demônio tomou o nome de SATURNO, que acostumado com todo tipo de crueldade, devorava até mesmo os seus filhos assim que nasciam. Um outro inventou de existir VÊNUS, que foi uma meretriz. Essa se fez prostituta não somente com muitos amantes, mas também com o seu pai GIOVE e com o seu irmão MARTE."

Schopenhauer diz:

"Assim, por exemplo, estamos de frente a uma alegoria moral quando Hesíodo elenca os filhos da NOITE, e logo depois os filhos de ÉRIS (DISCÓRDIA) que são em 'OS TRABALHOS E OS DIAS' (na verdade se trata de ESQUECIMENTO), FOME, DOR, LUTA, HOMICÍDIO, DISCUSSÕES, MENTIRA, INJUSTIÇA, DESGRAÇA, E JURAMENTO; enquanto é uma alegoria física a sua representação personificada pela NOITE e pelo DIA, do SONO e da MORTE."

É um juízo monoteísta. É um juízo de quem não deduz que aquelas imagens são tais que resultam em DEUSES, nem que a extensão daquelas imagens desenvolvem as ideias diferentes das que são representadas pelo monoteísmo. Para Schopenhauer o Ser Humano é criado à imagem e semelhança de um deus louco, e portanto, aquilo que os antigos descreviam eram coisas sim, culturalmente diferentes daquelas descritas pela sociedade monoteísta, mas continuavam sendo sempre os homens em si mesmos. Tinham o mesmo modo de perceber, o mesmo modo de ver, e o mesmo modo de sentir.

Esse é o erro fundamental.

A descrição do mundo é, sim, feita culturalmente, mas a cultura nas quais os Seres Humanos nascem, crescem, e são adestrados, condiciona a descrição da percepção do mundo deles. O mundo que os rodeia não vem mais descrito em si e por si, mas a descrição é relativa à submissão cultural recebida e àquilo que eles assimilam. Isto é, à quantidade de condicionamento cultural que o indivíduo faz como sendo dele, própria, transferindo-a para a própria estrutura física, psíquica e emocional e através dessa manipulação a reapresenta ao mundo que o cerca.

O significado de uma palavra, de um termo, é atribuído àquilo que, hoje, aquele termo significa. Mesmo na busca etimológica dos termos, a pesquisa não se afasta da correspondência do significado que determinado termo assume na situação da cultural atual. O termo DIANA deriva de uma raiz antiga de luz e significa a luz que assume a Autoconsciência: o DEUS! A busca histórica da evolução do significado nos traz novamente a isto, mas a cultura em que vivemos está absolutamente separada da cultura dos Seres Humanos que desenvolveram aquele significado. Existe um anel de ligação, que é a origem do significado de DIANA, mas não existe uma cultura que indique o porquê tal termo alcançou o seu significado, desde a sua germinação. Estamos em falta com a objetividade cultural, na qual aquela acepção foi formada. Falta-nos, por isso, o significado íntimo assumido pelos Seres Humanos, indicando o porquê o nome foi criado.

O Paganismo deve reivindicar a sua própria independência do monoteísmo, nas relações com o mundo que nos cerca. *Por independência das relações quero dizer que os Seres Humanos Pagãos são diferentes dos Seres Humanos monoteístas.

Não somente pelo modo como se colocam diante do mundo, mas pela transformação diferente suportada ao se posicionarem diante do mundo (existe uma parte do Ser Humano que se transforma e se modifica, segundo as escolhas subjetivas, que ele realiza na objetividade em que vive. Trata-se das transformações físicas, sinápticas e neuronais!).

A relação entre subjetividade e objetividade modifica tanto um como o outro; e, um e o outro, depois da relação, não são mais os mesmos como eram antes da relação.

Os Seres Humanos, e com eles cada sujeito de direito, todos, devem ser iguais perante a lei. No Sistema Social, cada um deve ser sujeito dos mesmos direitos e dos mesmos deveres. Direitos e deveres que não devem conceder privilégios a nenhum sujeito, exclusivamente. Dito isto, têm-se como resultado um dos conceitos adquiridos pela revolução francesa, pelo menos como enunciado, que ainda hoje é ignorado e desprezado na prática quotidiana. O conceito de igualdade jurídica e social é substituído pelo conceito de igualdade diante do deus patrão, que em si mantém os privilégios, um conceito que se estende a uma hierarquia representante desse deus patrão. Com base nessa hierarquia, os homens são iguais porque foram "criados" iguais pelo deus todo poderoso. Pena que os homens são produtos de condições diferentes na sociedade, dentro das quais tiveram que se adaptar.

Pena que os homens são produtos de condições diferentes na sociedade, dentro das quais tiveram que se adaptar. Portanto os Seres Humanos, em particular, são intimamente diferentes uns dos outros e essa diversidade é reconhecível somente se é reconhecida a igualdade jurídica e social dos Seres Humanos (e com ela de cada Ser Jurídico seja ao que se refere ao "pedinte" como ao deus patrão, pelo menos até que existirão as hierarquias religiosas a justificarem as obras criminosas!).

O que significa tudo isto?

Significa que os meus desafios na vida quotidiana me transformaram. Tornaram-me corajoso nos mundos infinitos da percepção, ou pelo menos nesses mundos, os quais consegui alcançar. O que vem a ser diferente com quem é colocado (ou foi obrigado, sem ter força nem oportunidade para se subtrair) de joelhos diante do deus patrão, sendo covarde e receoso diante do desconhecido. Esse, ao invés de arregaçar as mangas diante do desconhecido, suplicará a intervenção do deus patrão. Quando eu arregaço as minhas mangas, ele pretenderá se apoderar do produto do meu trabalho, e quando eu manifestar elementos do desconhecido que encontrei, ele tentará acender as fogueiras para poder esconder a derrota da sua vida.

O que significa isto?

Em percepção alterada eu vejo a Energia Vital Estagnada de cor azul-negro. Aonde eu encontro esse tipo de cor, tenho sensações de horror, de destruição, de bloqueamento, de implosão. O negro da Noite, do desespero. Aonde não existe a luz do "O Que Fazer?" E o indivíduo se sente despedaçado, perdido, engolido no nada do vir a ser. Reconheço-o: é uma visão subjetiva! O resultado daquilo que me tornei! Quando encontro esse tipo de negro, entre os Seres da minha espécie, avisto: DISCÓRDIA, entendida como prepotência; TÉDIO, entendido como aflição dolorosa, com dificuldade para enfrentar o quotidiano; ESQUECIMENTO, com muita dor para ser enfrentada no presente quem esquece o passado; FOME, entendida como impossibilidade para satisfazer as suas próprias necessidades; DORES, entendidas como constrangimentos tanto físicos como psíquicos; LUTAS e BATALHAS com o uso da violência contra quem não pode se defender; DELITOS e HOMICÍDIOS como transgressões sociais; DISCURSOS E ARGUMENTAÇÕES AMBÍGUAS, entendidas com declamações que aparentemente são para enganar as expectativas de quem não está em condições para discriminá-las; ANARQUIA, entendida como a impossibilidade dos indivíduos de organizarem as suas próprias vidas; CATÁSTROFE, entendida como destruição da vida dos indivíduos. É o lado negro dos filhos da NOITE, que a própria NOITE ignorava até o advento do monoteísmo.

Isso eu capto, em medida diferente, como manifestação daquilo que em mim provoca horror, quando em percepção alterada, capto a onda azul-negra. Todos esses DEUSES são fenômenos que se manifestam na vida dos Seres Humanos. A fonte, a NINFA da qual extraem a origem é aquela onda azul-negra, que entrando no coração dos Seres Humanos manifestam o aspecto daqueles DEUSES como fenômenos sociais. Fenômenos através dos quais se constroem as relações sociais. A fonte de origem é aquela onda azul-negra que é combatida pelo exército de ARLEQUIM (original em italiano: ARLECCHINO), nos mundos da percepção. Por outro ângulo, se as lutas pela justiça social atingem a consecução do intento deles, neste aspecto, destes DEUSES, será privado na nutrição deles: das manifestações que o alimenta!

Para destruir o lado negro e perverso da submissão expressa pela PUNIÇÃO DOLOROSA, ESQUECIMENTO, FOME, DORES, LUTAS, BATALHAS, DELITOS, HOMICÍDIOS, ANARQUIA, DESGRAÇA, DISCÓRDIA E ENGANOS, é necessário secar completamente a fonte do azul-negro baixado no coração dos Seres Humanos. Ao mesmo tempo, se a manifestação desses fenômenos retrocede no âmbito social, também a onda azul-negra baixada no coração dos Seres Humanos retrocede.

Só que, a onda azul-negra não é desprovida de vontade e determinação. Ela possui nous. Ela possui determinação, pensamento, intenção, escopo e projeto, exatamente como os fenômenos que produz, que, precisamente porque possuem nous, são DEUSES.

Aquele azul-negro é a noite do Conhecimento e da Consciência. Não é NOITE, a luz em que age o caçador de armadilhas. Não é Noite em que SELENE resplandece para doar Cognição. Não é a NOITE que gera DIA que gera NOITE. E não é nem mesmo NOITE, que com os seus filhos trama armadilhas aos caçadores de conhecimento e consciência, que têm como finalidade tornar mais funcionais e produtivos os desafios deles.

É uma outra NOITE: é noite negra em que a desesperação age como possuidora; é noite negra da qual os cristãos tiram a cruz para ser imposta aos Seres Humanos.

Esse aspecto dos DEUSES, filhos de NOITE, tem uma representação no quotidiano real, agem no sentir e no intuir do Ser Humano, encerrando-o dentro de uma obsessão que o governa em suas ações. Podem ser combatidos seja como fenômenos que se manifestam nos Seres Humanos, seja como consciência que tenta expandir-se nos Seres Humanos, alimentando-se das suas ações.

Para um cristão, como Schopenhauer, constitui somente uma descrição alegórica; para quem altera a percepção, constituem sujeitos conscientes de si mesmos que manifestam inteligência e determinação.

Se esses DEUSES forem combatidos, como são apenas os fenômenos, esses podem ser vencidos em uma representação; mas continuarão a se apresentarem sob outras roupagens ou em outras situações. Pode ser descoberto um aspecto do lado negro de ENGANO e eliminado, porém o lado negro de ENGANO se reapresentará sussurrando no ouvido de outros Seres Humanos para que o pratiquem como um DEUS, e assim conseguirão ter vantagens. Até que não seja eliminada a vantagem de viver enganando, ENGANO terá sempre a sua casa entre os Seres Humanos.

É como para o aspecto negro de PUNIÇÃO DOLOROSA! A sua manifestação pior nestes últimos dois mil anos, é o cristianismo! Algum aspecto de PUNIÇÃO DOLOROSA explícito pelo cristianismo foi limitado, mas PUNIÇÃO DOLOROSA é sempre reproposta pelo cristianismo que ao educar e alimentar o aspecto negro de PUNIÇÃO DOLOROSA, por meio da exposição da cruz, pôs fim à sua existência.

Assim, os Seres Humanos devem obrigar os seus filhos a se sujeitarem ao aspecto negro de PUNIÇÃO DOLOROSA, porque o deus, chefe deles, os ama enquanto os destrói.

Posso concordar com uma nota do autor (Schopenhauer) a propósito da sua oposição ao Panteísmo quando escreve:

"Se vocês pretendem explicar o mundo, para isto não servem nem o panteísmo nem a mitologia hebraica: comecem a observar isto."

É de se concordar, perfeitamente, salvo argumentação sutil sobre como a nossa autodisciplina, o nosso Intento e a nossa emotividade construíram os nossos olhos através dos quais enxergamos o mundo. Os olhos de um cristão não são iguais aos olhos de um Pagão (nem todos os olhos dos Pagãos são iguais entre eles, mas isto eles já sabem!)

No mundo da Natureza o cristão encontrará a criação, que o seu deus lhe doou, para que ele a sujeite: <7p>

"Proliferem, multipliquem e encham o mundo, sujeitem-no e dominem sobre os peixes do mar, e sobre todos os pássaros do céu e sobre todos os animais que se movem sobre a terra!" Gênesis 1-28

No mundo da Natureza o Pagão encontrará um universo de DEUSES, seja forma, tensão e fenômenos dos quais emergirá, reconhecendo todos iguais a ele. Quando alterar a Natureza o cristão o fará porque se julga dono dela; quando alterar a Natureza, o Pagão o fará por necessidade!

Os olhos que enxergam são diferentes; os fenômenos que se manifestam são recebidos de maneira diferente; as tensões da vida, são vividas com um espírito diferente e com um diferente Intento.

Os Seres Humanos devem ser socialmente iguais, mas de acordo com o que se tornaram, isto os faz diferentes.

Um Pagão se prepara para enfrentar o divino desconhecido; o cristão se coloca de joelhos e suplica.

Um Pagão pode falir; um cristão é um falido!

Por esse motivo, um cristão não tem capacidade para captar o que capta um Pagão.

Aquilo que um cristão afirma é pura e simples loucura ilusória, que contribui para desarmá-lo diante da vida, loucura que o induz a rezar.

À CADA PAGÃO OS SEUS DEUSES!

MARGHERA, 22.05.2000

NOTA:Texto original 1999

(Trecho extraído da Obra de Claudio Simeoni *A Estirpe dos Titãs*, um trabalho iniciado em 27.12.1999)

A tradução foi publicada 12 de maio 2015

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

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Claudio Simeoni

Mecânico

Aprendiz Stregone

Guardião do Anticristo

Membro fundador da Federação Pagã

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A análise da Teogonia de Hesíodo

A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.